Discurso de Ciro se choca com pautas na área de energia dos partidos cortejados

Ciro Gomes tem buscado apoio no Centrão para conseguir base
Ciro Gomes tem buscado apoio no Centrão para conseguir base

Ciro Gomes tem buscado apoio no Centrão para conseguir base

Na busca por palanques nos estados e tempo de TV e rádio na propaganda eleitoral gratuita, os candidatos à presidência entram na reta final da construção de coligações partidárias tentando articular interesses políticos diversos com seus discursos de campanha. Mas as propostas dos postulantes ao Planalto nem sempre mantêm a harmonia com o que defendem as legendas procuradas.

Pré-candidato pelo PDT, Ciro Gomes tem defendido a retomada das áreas do pré-sal leiloadas durante o governo de Michel Temer. Nesta terça, 17, Ciro reafirmou que “todos os campos de petróleo entregues à iniciativa privada estrangeira a partir da revogação da lei da partilha serão retomados com as devidas indenizações”.

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A proposta estatizante vai contra a atuação do DEM, partido do ex-ministro de Minas e Energia de Temer, Fernando Bezerra Coelho Filho (DEM/PE) e que tem trabalhado para aprovar ainda o PLC 77/18, que permitirá a venda pela Petrobras de até 70% da cessão onerosa do pré-sal na Bacia de Santos. O PLC 77 (que na Câmara era o PL 8939/17) é uma proposta do deputado José Carlos Aleluia (DEM/BA) e foi relatado no plenário da Câmara pelo correligionário Fernando Filho.

Parlamentar mais atuante do DEM nas pautas do setor de energia, Aleluia é próximo do presidente do DEM, ACM Neto, e do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ), ambos intermediários dos diálogos do DEM com Ciro. Tanto Aleluia quanto Maia já se posicionaram contra o monopólio da Petrobras no pré-sal e apostam na abertura do mercado a outras empresas como forma de fomentar investimentos no setor e nos estados produtores. Em junho Maia afirmou que o projeto da cessão onerosa “é decisivo para recuperar a economia do Rio (de Janeiro)”

Discurso de Ciro contraria postura até do próprio PDT

A tentativa do pedetista de buscar uma base tão ampla da direita à esquerda passando pelo chamado “Centrão” dificulta a coesão entre o discurso de Ciro e as votações dos partidos cortejados por ele.

O objetivo explícito do candidato pedetista é buscar alianças na campanha que o permitam construir uma base parlamentar com 250 dos 513 deputados sem precisar contar com o MDB. Para isso, Ciro afirma estar conversando com PP, SDD, PR, PCdoB e PSB, além do DEM.

Antigo aliado do PSDB, o DEM é hoje uma das legendas consideradas prioritárias para a campanha de Ciro. O partido somaria 56 segundos na propaganda eleitoral do candidato, mais do que dobrando os atuais 53 segundos a que o PDT tem direito. Outra legenda cortejada, o PP – com 96 segundos na propaganda eleitoral – foi atuante na votação do Repetro, no final de 2017. Com a relatoria do projeto nas mãos do seu deputado Julio Lopes (PP/RJ), o partido foi majoriamente favorável ao novo regime fiscal que deu isenções à produtos importados para a cadeira de petróleo e gás. Ciro foi contra o Repetro e criticou sua aprovação.

“Temer deu um trilhão de reais. Esse governo que tomou o poder no Brasil distribuiu isso tudo para as multinacionais do petróleo, e ninguém tem direito de saber”, disse o pedetista na época.

O discurso do candidato também já contrariou a postura do seu próprio partido. Em junho, a bancada do PDT na Câmara foi majoritariamente favorável à urgência da tramitação do PL da cessão onerosa, com 11 de seus 15 deputados votando a favor da proposta do governo, numa postura que o aproximou do DEM, PP, PR e Solidariedade, siglas cortejadas por Ciro; mas também do PSDB, do pré-candidato Geraldo Alckmin.