Eleito presidente neste domingo (28/10) com 57,7 milhões de votos, Jair Bolsonaro (PSL) tem alguns desafios pela frente já no primeiro momento do governo – um deles mesmo antes de receber a faixa presidencial. Se nessa segunda-feira o mercado deve receber bem a notícia da escolha de um presidente que promete colocar em prática uma agenda liberal, a alegria tem prazo curto. Analistas já cobraram no mesmo domingo que é preciso aprovar as reformas – da previdência sobretudo – rapidamente, ainda no primeiro ano de governo.
No setor de energia, o nó do subsídio do diesel é o primeiro desafio que se materializa já em 1° de janeiro.
Para tanto, será necessário demonstrar capacidade de articulação e traquejo político já nos primeiros meses de 2019, caminho que pode ser um pouco mais longo para um presidente cuja legenda não fez coalizão na disputa eleitoral com nenhum outro partido.
O desafio será o de conseguir articular com as forças mais tradicionais da política nacional. Nesse sentido, o discurso eleitoral de rejeição da política tradicional feito por Bolsonaro se choca frontalmente com a necessidade de negociação no Congresso. Isso porque o partido do presidente eleito não tem um número confortável de cadeiras em nenhuma das duas casas do parlamento.
Na Câmara, o partido do novo presidente tem, até agora, 52 deputados, a segunda maior bancada, e diz através de interlocutores que esperar contar com 60 parlamentar no comendo do ano legislativo.
No Senado, o PSL tem apenas 4 senadores (o que equivale a 1/20 da Casa). Conquistar a maioria no plenário de carpete azul será um grande desafio. Das duas frentes anunciadas para a disputa da presidência do Senado, ambas foram postas até agora como de oposição.
A proposta de governar por fora das estruturas partidárias tradicionais pode animar alguém que veja o governo de fora, mas é um caminho arriscado e que nunca foi traçado com sucesso por quem o tentou desde a redemocratização.
Na prática de governo, o Congresso trabalha na história brasileira como um contrapeso às pretensões do executivo. No modelo que alguns chamam de semi-parlamentarismo, o diálogo com membros do legislativo é essencial.
Até aqui o discurso de lideranças do PSL foram em dois sentidos:
- a tentativa de eleger um presidente da Câmara pelo próprio partido – o que não indica uma boa ideia, uma vez que afasta composições de maioria – e
- negociar com o chamado Centrão. A segunda opção parece mais prudente. Mas restará saber qual será o peso desse grupo na nova legislatura e, além disso, como se comportarão os grandes partidos que estão fora dessa aglomeração, notadamente o PMDB e PSDB.
O discurso populista de corte de gastos do executivo e enxugamento de número de ministérios sugere um outro desafio à articulação política. O que oferecerá aos partidos o governo cuja campanha foi calcada na rejeição ao petismo – e o antipetismo foi o principal sentimento mobilizador de votos nessa eleição – mais do que em propostas.
O resultado das urnas neste domingo também nos trouxe um presidente eleito com um número de votos inferior à soma dos votos brancos e nulos e aqueles dados ao seu adversário no segundo turno, o que só acontecera antes com Collor, em 1990, e na segunda eleição de Dilma, em 2014.