Combustíveis e Bioenergia

Câmara pede esclarecimento a CEO da Petrobras sobre política de preços

Câmara aprova audiência sobre tributação dos combustíveis e convida José Mauro Coelho, no cargo há menos de um mês

Câmara aprova audiência sobre tributação e preço dos combustíveis e convida José Mauro Coelho (em seu discurso de posse, na foto), está no cargo há menos de um mês
Ao tomar posse, no dia 14 de abril, José Mauro afirmou que a “prática de preços de mercado é condição necessária” para garantir o abastecimento do mercado (Foto: MME)

RIO — Os deputados da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados aprovaram, nesta quarta-feira (4/5), a realização de uma audiência sobre a tributação dos combustíveis e convidaram o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, e o secretário do Tesouro, Esteves Colnago, a prestarem esclarecimentos.

Colnago é representante do Ministério da Economia no Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), formado pelos secretários estaduais de Fazenda e responsável pelas políticas tributárias nos estados.

O pedido partiu de Silvio Costa Filho (PE) e Celso Russomanno (SP), ambos do Republicanos, partido da base aliada de Jair Bolsonaro (PL).

“Queremos ouvir os estados e o governo para saber quais são as medidas que estão sendo tomadas para uma possível redução do custo do combustível”, disse o presidente da comissão, Silvio Costa Filho.

Coelho está há menos de um mês na presidência da petroleira. Ao tomar posse, no dia 14 de abril, ele afirmou que a “prática de preços de mercado é condição necessária” para garantir o abastecimento do mercado.

Mesmo sem reajustes da Petrobras há quase dois meses, os preços dos combustíveis continuam subindo no país.

O mercado, inclusive a Petrobras, defende que uma das soluções para atenuar os efeitos da inflação dos derivados é, justamente, reduzir a carga tributária.

“Sabemos que o presidente da Petrobras vai argumentar que o custo da gasolina, por parte do governo, se dá em virtude da prospecção, transporte, refino e distribuição e que, por outro lado, os estados ganham o mesmo valor apenas cobrando o imposto”, afirmou Russomano.

Congresso aprova desoneração, mas estados driblam PL

Após o Congresso Nacional aprovar a desoneração do ICMS do diesel S10 e S500, os estados, por meio do Confaz, definiram uma alíquota que praticamente preservou a arrecadação e a carga tributária sobre o combustível.

Entenda: o PLP 11, sancionado este ano, foi uma tentativa de o governo federal, com apoio da base, forçar a criação da alíquota única nacional de ICMS que não varia com as oscilações dos preços na bomba. Os estados, contudo, driblaram a desoneração, acatando parte da reforma, mas não a redução da carga.

A decisão sobre o novo ICMS do diesel foi tomada, em março, pelo Confaz, sem apoio do governo federal. O novo modelo entra em vigor em 1º de julho.

Na mesma medida, o Congresso Nacional autorizou o governo federal a reduzir as alíquotas de PIS/Cofins sem necessidade de compensar esses gastos, como prevê a Lei de Responsabilidade Fiscal.

O Ministério da Economia estima perdas de arrecadação de R$ 16,59 bilhões com a redução dos tributos federais para biodiesel, diesel, gasolina, querosene de aviação (QAV) e o gás liquefeito de petróleo (GLP) e de gás natural.

Hoje, o ICMS tem um peso de cerca de 11%, na média nacional, na composição dos preços finais do diesel. De acordo com dados mais atualizados, do fim de abril, o imposto estadual representa R$ 0,79 do litro do diesel B10, vendido a R$ 6,74 em média no país.

O preço de realização da Petrobras, nas refinarias, por sua vez, responde por R$ 4,07 (60% do preço final), enquanto a mistura de biodiesel (B10) custa R$ 0,69 (10%) e a distribuição e revenda outros R$ 1,19 (18% do litro vendido nas bombas).

A conta é feita pela própria Petrobras — responsável por 81,3% das entregas de diesel A no primeiro trimestre, ante o percentual de 80% do quarto trimestre de 2021. Para efeitos de comparação, nos três primeiros meses do ano passado, a fatia da estatal era de 86,7%.

Deputados querem esclarecimentos sobre PPI

Silvio Costa Filho afirma que a prática comercial da Petrobras, de elevar os preços para acompanhar o mercado internacional — com base no preço de paridade de importação (PPI) — deixa o Brasil mais “vulnerável” às pressões externas.

Desde o governo Temer, na gestão de Pedro Parente, a Petrobras tem buscado a paridade internacional, mas a pressão política tem evitado uma flutuação maior dos preços.

Os concorrentes da companhia, inclusive, calculam uma disparidade crescente. Desde os aumentos do dia 11 de março, que levaram à demissão de Joaquim Silva e Luna, a Petrobras não eleva os preços do diesel e da gasolina.

“Essa sistemática deixa o Brasil mais vulnerável ao valor do dólar, ao frete marítimo e ao petróleo em mercados internacionais, embora nosso país produza cerca de 85% do petróleo que necessita”, afirma Costa Filho.

Outro requerimento aprovado nesta quarta (4/5) prevê um debate sobre a política monetária executada pelo Banco Central. Para tentar conter a inflação, que persiste acima dos 10% no acumulado de 12 meses, o Brasil já elevou a taxa básica de juros de um patamar de 2% para mais de 12,75%.

A comissão vai convidar o presidente do BC, Roberto Campos Neto.

“Infelizmente, a inflação é um problema mundial, mas, no Brasil, ela está muito alta e cada vez mais vem impactando no povo brasileiro. É por isso que é fundamental a presença do presidente do Banco Central para ele poder falar sobre o aumento da inflação no Brasil que preocupa todos nós”, disse Costa Filho.