Contra a sonegação

Devedor contumaz: Haddad recebe relator e tenta blindar texto para envio rápido à sanção

Ministro esteve com Antônio Carlos Rodrigues nesta terça (2), fora da agenda, para pedir manutenção do texto aprovado pelo Senado

Fernando Haddad durante reunião com deputados federais, em Brasília (DF), em 8 de fevereiro de 2023 (Foto Edu Andrade/MF)
Fernando Haddad durante reunião com deputados federais, em Brasília (DF), em 8 de fevereiro de 2023 (Foto Edu Andrade/MF)

BRASÍLIA — O projeto de lei do devedor contumaz (PLP 125/2025) movimentou os bastidores da política e da economia em Brasília nesta terça-feira (2/12). O eixos pro apurou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), recebeu o relator do projeto na Câmara, o deputado Antônio Carlos Rodrigues (PL/SP), fora da agenda oficial, às 11h30.

O chefe da equipe econômica pediu para que seja mantido o texto aprovado por unanimidade pelo plenário do Senado há exatamente três meses, em 2 de setembro.

Porta-voz da agenda de segurança pública do governo nas ações no mercado de combustíveis, Haddad luta pela sanção do projeto este ano, enquanto a comunicação do Planalto — e do próprio ministro — disputam com Tarcísio de Freitas (Republicanos) a paternidade das ações.

A Fazenda deseja evitar o retorno do texto para o Senado devido ao calendário apertado até o recesso parlamentar de final de ano, a partir do dia 20.

Além de buscar fugir da tensão crescente entre o governo e o presidente Davi Alcolumbre (União/AP) envolvendo a indicação do Advogado-Geral da União (AGU), ministro Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF), no lugar do senador Rodrigo Pacheco (PSD/MG).

O projeto ganhou, após chegar na Câmara, contornos orçamentários, como parte do esforço de arrecadação projetado por Haddad para fechar o próximo ano com superávit primário projetado em R$ 34,3 bilhões na peça orçamentária em discussão no Congresso.

O PL do Devedor Contumaz pode acrescentar cerca de R$ 14 bilhões por ano em arrecadação, conforme projeções da Receita Federal.

Ao cabo, o texto do Senado é necessário para incriminar agentes que têm na fraude fiscal o principal modus operandi de suas operações. Tarcísio e Haddad deixaram claro, após a Poço de Lobato, que o alvo é a rede de empresas ligadas a Ricardo Magro, a partir da Refit.

Contra o tempo. Depois da reunião, o relator encaminhou o PL do Devedor Contumaz para a Consultoria Legislativa da Câmara. A proposta foi distribuída para três técnicos experientes elaborarem parecer a ser assinado por Antônio Carlos Rodrigues.

Os consultores participaram da construção do texto do PL 15/2024, enviado pela Fazenda no ano passado ao Congresso. O projeto ficou pelo caminho devido resistências do relator, o deputado Danilo Forte (União/CE), em acomodar demandas da Fazenda.

De acordo com apuração do eixos pro, cobertura exclusiva para empresas (teste grátis por 7 dias), a expectativa da área técnica da Câmara é entregar uma análise para Rodrigues nesta quarta (3/12). No mais tardar, o parecer será concluído até o fim desta semana — caso haja demandas não previstas até o momento.

Já técnicos da Receita encomendaram aos colegas da Câmara a rejeição das oito emendas apresentadas na Câmara, onde o PLP tramita em caráter de urgência diretamente no plenário.

O relator deve se reunir com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos/PB), logo que estiver com a proposta de parecer.

Se Motta sugerir alterações, Rodrigues deve debater o relatório no colégio de líderes nos próximos dias e, eventualmente, incorporar sugestões para conseguir aprová-lo, frustrando os planos de Haddad. A data de votação será definida nesse processo.

Em paralelo, o relator pretende se reunir com representantes de setores empresariais interessados no tema, especialmente o segmento de combustíveis.

É possível que o PLP seja votado na próxima semana, caso acordos políticos sejam mantidos. Motta defendeu o projeto após a Poço de Lobato realizada sob comando da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e do Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos de São Paulo (Cira).

O presidente da Câmara, contudo, não se comprometeu com uma agenda para votação do pacote, que incluiu o PLP 109/2025 (notas fiscais) e o PL 399/2025 — foi um tuíte, no X, com o anúncio dos relatores.

Sem consenso entre órgãos, com setores do governo e boa parte do mercado contra, o ONSC — Operador Nacional do Sistema de Combustíveis (PL 1923/2024) ainda preocupa em razão da possibilidade de criação do que, na prática, seria um órgão paralelo à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

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