Sem Hartung, Espírito Santo inverte lógica nacional e promete PSDB e PDT no mesmo palanque

O diretor-geral da ANP, Décio Oddone, se reuniu no dia 18 de junho com o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, no Palácio Anchieta, para discutir assuntos relacionados à indústria de Petróleo e Gás no estado. Foto: Cortesia ANP
O diretor-geral da ANP, Décio Oddone, se reuniu no dia 18 de junho com o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, no Palácio Anchieta, para discutir assuntos relacionados à indústria de Petróleo e Gás no estado. Foto: Cortesia ANP
O diretor-geral da ANP, Décio Oddone, se reuniu no dia 18 de junho com o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, no Palácio Anchieta, para discutir assuntos relacionados à indústria de Petróleo e Gás no estado. Foto: Cortesia ANP

Favorito para ganhar a eleição no Espírito Santo, ainda o segundo maior produtor de petróleo do país, o governador Paulo Hartung (MDB) surpreendeu aliados e adversários no começo de julho, quando anunciou que não disputaria a campanha. Em seu terceiro mandato como governador, Hartung afirmou tampouco vai se aventurar em outro cargo eletivo e nem definiu ainda se apoiará alguém ao Palácio Anchieta, sede do executivo estadual. Sem o principal adversário na disputa, Renato Casagrande (PSB), outro ex-governador, trabalha para construir uma ampla aliança que inverte a lógica da eleição federal, reunindo do PSDB de Geraldo Alckmin até o PDT de Ciro Gomes, passando pelo DEM, o grande elo do “Centrão” nacional.

O irmão pobre entre os estados do Sudeste, o Espírito Santo teve sua história recente impactada por crises nacionais. A principal delas, a paralisação da Samarco, em Minas, que afeta gravemente a arrecadação capixaba pela queda de ICMS. Ainda assim, ao contrário do vizinho Rio de Janeiro, o governo capixaba não quebrou. E nem mesmo a queda vertiginosa do preço do barril de petróleo no mercado internacional – que desceu de US$ 111 em junho de 2014 para US$30 em janeiro de 2016 – foi capaz de impedir que o estado mantivesse as contas no azul.

A receita repetida aos quatro ventos pelo economista Hartung foi o equilíbrio fiscal. Ele leva a sério até a Lei Orçamentária Anual (LOA) e, após vencer a eleição de 2014 classificou o orçamento previsto por seu antecessor, o próprio Casagrande, como uma “peça de fantasia”.

Hartung agora pode entregar o Palácio Anchieta de bandeja novamente para Casagrande. Ex-governador e antigo aliado, ele é hoje o principal candidato ao governo e tem a chance de voltar ao governo depois de perder a reeleição em 2014 para o próprio Hartung. Na última pesquisa de intenção de votos, feita em julho pelo Instituto Futuro, Casagrande apareceu à frente em todos os cenários. Entre abril e julho ele ultrapassou Hartung nas sondagens do próprio instituto e agora ganharia do rival no segundo turno com 49,8% dos votos sobre 38,6% da intenção popular.

Sem o principal rival na disputa, Casagrande viu o caminho livre para articular sua candidatura com uma ampla e diversa rede de aliados. Na última terça-feira uma reunião entre DEM, do prefeito de Vila Velha Rodney Miranda, aliado de Hartung; o PSDB do vice-governador César Colnago, e do senador e novamente candidato ao Senado Ricardo Ferraço; PDT de Sérgio Vidigal e o PSB de Casagrande serviu para alinhar os termos do acordo.

Embora os caciques falem em apoio programático, o impasse permanece na composição de chapa para as eleições proporcionais. Sem que o PSB nacional defina se manterá proximidade com o PT de Lula ou o PDT de Ciro, tampouco está definido qual malabarismo a chapa de Casagrande fará para dar palanque no estado aos candidatos à presidência pelos partidos que estão na composição.

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Sem Hartung, MDB ficou também sem Rose de Freitas e desfalcará eventual candidaturade Meirelles no estado

Enquanto todas as outras grandes siglas do estado buscam um alinhamento, o MDB capixaba ficou acéfalo com a decisão de Hartung. O governador tampouco se mostra disposto a apoiar regionalmente as intenções do grupo político de Temer. Embora hoje seja membro do MDB, Hartung é distante da cúpula nacional do partido e do presidente.

Em março Hartung deixou de ir à inauguração do novo aeroporto de Vitória, à qual Temer compareceu no dia da prisão de amigos do presidente pela Polícia Federal na Operação Skala. Hartung justificou a ausência “para não misturar alhos com bugalhos”.

“Eu não sou aquilo. O que eu tinha que fazer lá? Apoiar aquilo ali?”, afirmou à CBN de Vitória o governador, que não está disposto a dar palanque no Espírito Santo à eventual candidatura de Henrique Meirelles, alguém que segundo ele “não tem vocação para falar com a população”.

Mas enquanto Hartung mostra desprezo pelo presidente, foi Rose de Freitas quem saiu perdendo. A senadora, hoje no Podemos, integrava as fileiras do MDB até o começo do ano e chegou a anunciar sua pré-candidatura ao governo. Rose deixou o partido após ver o sonho de chegar ao Palácio Anchieta ser brecado pelo grupo de Hartung. Em carta à imprensa ela alegou que as declarações do presidente nacional do partido, Romero Jucá, de que a legenda já teria em Hartung o candidato certo à reeleição causaram “enorme constrangimento”.

Rose figura em segundo lugar na mais recente pesquisa, feita pelo Futura, com 12,8%. Mas está bem atrás de Casagrande, com 58,4%. A senadora agora busca construir alianças para disputar em condições. Mas ainda não falou publicamente em procurar seu antigo partido.

Outros candidatos que também pontuaram na sondagem são Coronel Foresti (PSL), que busca dar um palanque estadual a Bolsonaro mas tem apenas 4,3% das intenções de voto, e André Moreira (PSol), com 1,5% da preferência do eleitorado. Nenhum dos dois é capaz de fazer frente à união de caciques estaduais que se desenha no entorno da figura de Casagrande.

O mesmo ocorre com Magno Malta (PR). O também senador se coloca como um político orgulhosamente independente, esquecido dos grandes caciques do estado, e traça seu caminho sozinho, sem declarar apoios. Em julho Malta anuncio sua intenção de concorrer à reeleição ao Senado, deixando vago o posto de candidato a vice-presidente na chapa do radical Jair Bolsonaro (PSL).

A pesquisa do Instituto Futura está registrada no Tribunal Regional Eleitoral sob o número ES-09041/2018. O Instituto Futura ouviu 800 moradores e eleitores do Espírito Santo entre os dias 10 e 13 de julho. A margem de erro da pesquisa é de 3,5 pontos percentuais para mais ou para menos com confiabilidade de 95%.
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