Apesar da divisão no cenário nacional, petistas e emedebistas prometem caminhar juntos no Sergipe mais uma vez para tentar manter a hegemonia do grupo que governa o estado desde 2006. O desafio do grupo do ex-governador Jackson Barreto (MDB) – que deixou o cargo em abril – é reverter o terceiro lugar na disputa eleitoral e vencer a oposição de tucanos, que concorrerão com o senador Eduardo Amorim, e socialistas, que definiram o deputado Valadares Filho como candidato ao Palácio dos Despachos. Tudo isso em meio a uma grave crise fiscal que favorece a oposição.
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Na mais recente pesquisa estadual, Amorim (PSDB) aparece em empate técnico mas um pouco à frente de Valadares Filho (PSB). Eles têm respectivamente 16,8% e 15,3% das intenções de voto na pesquisa estimulada do instituto Única Pesquisas, realizada no final de maio. O atual governador Belivaldo Chagas (PSD), e escolhido da situação para a disputa, figura com 8,5% da preferência dos eleitores, em terceiro lugar.
A aliança no entorno de Chagas manteve a união de PT, que indicará a vice na chapa, Eliane Aquino, e MDB, de Jackson Barreto. Barreto se desincompatibilizou do governo em abril para disputar uma das duas vagas ao Senado.
Crise fiscal e redução da produção de petróleo nos últimos quatro anos favorecem oposição na eleição deste ano
Mas o governador corre o risco de entregar a cadeira em desacordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Sergipe foi atingido gravemente por uma crise fiscal desde 2015, na esteira da crise federal. O cenário é comum à maioria dos estados brasileiros, mas foi mais grave entre os governos do Nordeste, que mantém maior dependência de repasses federais.
Entre 2015 e 2016, a queda acumulada do PIB estadual foi de 11,8%, o segundo pior resultado entre os 27 entes da federação, ficando atrás apenas do Espírito Santo, cuja queda do PIB foi de 12,3%. Já no primeiro trimestre de 2016, o déficit primário do estado ultrapassava R$ 864 milhões.
De acordo com levantamento da consultoria Tendências, o Sergipe deve fechar o ano de 2019 com PIB 7,8 pontos percentuais abaixo do nível de atividade registrado antes da crise de 2015. Concomitantemente ao agravamento da crise, o estado viu sua produção de petróleo cair praticamente sem cessar desde 2015. A queda impactou também na arrecadação de royalties.
O discurso contra a crise e contra o grupo político do ex-governador Barreto é um prato cheio para a oposição. Pai do candidato socialista, o senador Valadares têm subido a tribuna do Senado pedindo “um ajuste fiscal corajoso”.
Mesmo com crise fiscal, líder na corrida defendeu redução do ICMS para combustíveis na greve dos caminhoneiros
Também senador, o líder na corrida, Eduardo Amorim, afirma ainda que a má gestão do grupo de Barreto colabolou para a degradação do quadro econômico do estado. Ainda assim, o candidato defendeu a redução do ICMS sobre combustíveis durante a greve dos caminhoneiros em maio.
Para ele, a taxa de 29% cobrada em Sergipe é “inaceitável” e deveria ser reduzida para 18% sobre gasolina e 7% sobre diesel. Na tribuna do Senado, Amorim criticou a “ânsia arrecadatória” do governo em todas as instâncias e o baixíssimo retorno à população.
“A ânsia arrecadatória em todos os diferentes níveis de governo é insaciável, por outro lado, a fiscalização é difícil, a sonegação imensa e, sobretudo, a taxa de retorno por meio de serviços públicos prestados à população é baixíssima”, disse o candidato durante a greve de maio.
Ex-governador pode levar vaga ao Senado
Desincompatibilizado do governo, Barreto está bem cotado na disputa ao Senado, aparecendo com 8,5% das intenções de voto, segundo a pesquisa do Instituto Única de maio. Barreto segue atrás apenas do atual senador Valadares (PSB), pai do candidato ao governo, com 15,2% da preferência do eleitorado, e do deputado federal André Moura (PSC), com 8,3%, tecnicamente empatado com Barreto. Moura é investigado na Lava Jato e foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por formação de quadrilha e peculato.
O PSC de Moura perdeu em 2017 o nome mais forte na corrida estadual. Eduardo Amorim trocou a legenda pelo PSDB. Amorim disputou a eleição ao governo estadual em 2014 pelo PSC. Ele ficou em segundo lugar com 41% dos votos na disputa vencida por Jackson Barreto – com 53% dos votos.
Na construção da grande chapa que engloba MDB e PT estão ainda o Solidariedade e o PC do B. O MDB do estado é um dos cinco diretórios estaduais que se opõem à candidatura nacional de Henrique Meirelles, que pode ser oficializada na convenção nacional do partido, em 2 de agosto. Também contra a candidatura estão Alagoas, dominado pelo clã Calheiros, Ceará, comandado pelo presidente do Senado Eunício Oliveira, Pernambuco, do oposicionista Jarbas Vasconcelos, e Paraná, onde o senador Roberto Requião, também oposicionista de Temer, comanda a legenda.
A aliança com o PT no estado vai além, os líderes do grupo também tentam surfar a popularidade do ex-presidente Lula. O governador Belivaldo afirmou à imprensa local que irá a Brasília prestigiar o registro da candidatura de Lula à presidência em 15 de agosto. “Eu vou pra Brasília testemunhar isso. Eu vou estar lá pra defender essa candidatura porque eu sou homem de um projeto político só”, afirmou o governador.
Já o PDT de Ciro Gomes deve definir sua posição só após o fim das negociações nacionais com o PSB. O partido de Ciro Gomes tenta atrair os socialistas para sua candidatura. Em Sergipe o PDT não terá candidato ao governo e pode apoiar Valadares Filho. O PSB vai definir sua posição na eleição federal na convenção do partido em 5 de agosto.
A pesquisa do Única Pesquisas ouviu 1600 pessoas de 18 a 26 de maio. O nº de registro no TRE- SE (Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Sergipe) é o SE- 03046/2018. O nível de confiança da pesquisa é de 95,45% e a margem de erro de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos.