Em um cenário inverso à fragmentação da centro-direita que ocorre no plano nacional, a eleição para o governo do Ceará é o que se poderia chamar de cenário dos sonhos para Ciro Gomes. No estado, o grupo político liderado por ele e seu irmão, o também ex-governador Cid Gomes (PDT), lidera as intenções de voto nas pesquisas para o governo e para o Senado. Na corrida ao Palácio da Abolição, sede do executivo, os irmãos Ferreira Gomes devem comandar sem dificuldade a reeleição do governador Camilo Santana (PT), afilhado político de Ciro. No Senado, Cid lidera a corrida como primeira escolha dos eleitores, seguido pelo antigo adversário, o presidente do Senado Eunício Oliveira.
Foi a aproximação com Eunício que permitiu a composição de uma base com cerca de 20 partidos ao governador Camilo. Eunício foi fiador da aproximação do governador com partidos de centro-direita, como PR, PRB e Solidariedade, além do próprio MDB. Na chapa que deve se oficializar nos próximos dias ainda estão o DEM e o PSD. A composição deve ser ainda maior do que a união de forças que apoiou Camilo na eleição de 2014, quando PDT, PT e PSB já estavam juntos.
A aliança dos partidos de esquerda com siglas de centro-direita no estado contou com um forte componente de oposição ao governo de Michel Temer, que, impopular no Nordeste, é visto como letal nos palanques mesmo dentro do próprio MDB. Por outro lado, a popularidade do ex-presidente Lula atrai os caciques para a base do PT.
Eunício personifica essa posição como poucos. O presidente do Senado é hoje um adversário da gestão Temer no Congresso capaz de enterrar pautas como a reforma da previdência, que não chegou a ser votada por uma manobra dele em dezembro de 2017. Assim como Renan em Alagoas, Eunício é próximo de Lula e conseguiu nesta semana uma carta em que o petista diz apoiar sua candidatura à reeleição no Senado.
A estratégia de formar uma grande chapa no entorno das candidaturas de PDT e PT foi favorecida pela popularidade do governador Camilo Santana e pela hegemonia do grupo político dos Ferreira Gomes, que hoje contam também com a prefeitura de Fortaleza nas mãos de Roberto Cláudio (PTD). isolado está o antigo aliado de Ciro, ex-governador tucano Tasso Jereissati. Sem alternativa viável, o PSDB lançou um novo nome na política, o general Guilherme Theophilo.
Com pouco espaço, Theophilo garante ao menos o palanque para Geraldo Alckmin no estado enquanto aposta na Guilherme Theophilo pauta da segurança no momento em que o estado passa por uma onda de violência provocada por disputas entre facções de narcotraficantes.
“Já estamos fazendo parcerias com São Paulo para poder ter uma inteligência forte para descobrir e antecipar os crimes”, disse o general na convenção que oficializou seu nome no último domingo em Fortaleza.
Na última pesquisa realizada pelo Lft.com e divulgada nessa quinta, 2, o governador Camilo aparece com impressionantes 71% dos votos e ganharia já no primeiro turno. Theophilo, em segundo, tem 9% da preferência do eleitorado. Aparecem ainda os candidatos do PLS, o advogado Hélio Gois com 3%, e do PSol, Ailton Lopes, 2%. Brancos e nulos somam 10%, indecisos são 5%.
A pesquisa foi contratada pelo MDB e realizada entre 27 e 30 de julho por telefone. Foram entrevistadas 2.000 pessoas residentes no Estado. A sondagem teve custo declarado de R$ 34.967,00. O estudo está registrado no TRE-CE (Tribunal Regional Eleitoral do Ceará) sob o nº CE-08592/2018. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.
Aliança garante a sobrevivência de Eunício mas desagrada petistas aliados de Luizianne Lins, ex-prefeita de Fortaleza
A aliança de Camilo com Eunício, no entanto, desagrada ao próprio Ciro que vê na aproximação uma ameaça ao seu discurso nacional em que descarta aliança com o que chama de “quadrilha do PMDB”, usando o nome antigo do partido. “Como é que um dia desse a gente estava falando uma coisa e no dia seguinte a gente muda completamente de opinião?”, disse Ciro, em questionamento à aliança.
Ainda que não seja aceito abertamente por Ciro, Eunício fez o movimento de aproximação. “Lula foi a força de que nós precisávamos. Temos agora, mais na frente, a oportunidade de dizer ao Brasil que o Nordeste tem condições de avançar muito mais pelas mãos de um outro nordestino”, disse Eunício em discurso em Sobral, cidade da família do presidenciável, e maio.
A candidatura de Eunício não chega a ameaçar os planos do clã Ferreira Gomes para o estado. Mas o presidente do Senado garante a sua sobrevivência política ao evitar que o grupo do governador lance um segundo nome competitivo para a câmara alta.
Na última pesquisa do Lft.com e divulgada nessa quinta, Cid Gomes lidera nas respostas espontâneas com 43% da preferência dos eleitores. Eunício vem atrás com 21% das intenções de voto.
A aproximação com Eunício também desagradou o grupo da ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins. Distante dos Ferreira Gomes, Luizianne perdeu espaço no PT com a ascensão de Camilo depois que deixou a prefeitura que comandou por dois mandatos, entre 2005 e 2012. Mas agora tenta evitar o apoio do governador a Eunício, a quem chama de golpista por ter votado a favor do impeachment da presidente Dilma.
As críticas ressoaram na direção nacional do PT, que nesta semana vetou um acordo formal entre a direção do partido no Ceará e Eunício. A presdiente do PT, Gleisi Hoffmann afirmou que a direção nacional do PT vai analisar um recurso do grupo de Luizianne em encontro nesta sexta, em São Paulo, quando discute também a corrida nacional.
Mas Camilo Santana mantém a postura pragmática. Sem falar sobre a polêmica, o governador reuniu Eunício e Cid em assentos na primeira fila durante evento de sua candidatura na última segunda-feira. A força de Camilo dentro do PT tem sufocado a oposição interna e, no último sábado, a direção estadual impediu a candidatura ao Senado do atual senador José Pimentel para deixar vaga a segunda candidatura da chapa com o PDT, assim os integrantes da aliança ficam livres para pedir voto informalmente a Eunício.
“É muito difícil para nós apoiarmos a candidatura de um dos cabeças do golpe que colocou Dilma e o PT para fora do governo”, lamentou Pimentel, explicitando o descontentamento de parte da legenda.