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Diálogos da Transição
apresentada por
Guilherme Serodio e Larissa Fafá
Editada por Gustavo Gaudarde
[email protected]
IEA mapeia o impacto da covid-19 no desenvolvimento de projetos de renováveis
O desafio da transição no pós-pandemia começa a ficar mais claro, na leitura da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), que antecipa uma retomada mais acelerada do crescimento da capacidade renovável (geração de energia) e acompanhada de uma recuperação menor no consumo de óleo (transporte).
Em números: demanda por óleo deve cair 8,1 milhões de barris/dia (-8%) em 2020 e subir 5,7 milhões de baris/dia (+6%) em 2021. A capacidade de geração renovável, por sua vez, deve cair para 167 GW (-13%) este ano e voltar a subir para 196 GW em 2021 (+17%).
A demanda menor, por mais tempo, de combustível para aviação é apontada como o principal limitador do consumo de óleo – uma característica específica dessa crise causada pela covid-19 e seu impacto no setor de aviação comercial. Mas isso não afasta por completo o risco de repique na demanda por petróleo, estimulada por combustíveis mais baratos.
Desafio é não repetir 2008.
Variações anuais em emissões relacionadas ao setor de energia, entre 1900 e 2020 – após a crise de 2008, mundo registrou elevação recorde de emissões de CO2 (IEA)
Com as emissões de CO2 projetadas para cair 2,6 bilhões de toneladas (-8%) em 2020, diante de um mundo mais pobre, com mais desemprego e enfrentando uma crise de saúde pública, que já matou 434 mil pessoas segundo os registros oficiais (OMS), não há motivos para comemorar, reforça a IEA.
A organização lembra que mesmo com o o achatamento das emissões de CO2 em 2019, o mundo ficou longe da meta de redução de 6% anual apontada no cenário de desenvolvimento sustentável, necessário para cumprir as metas do Acordo de Paris.
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Reconstrução verde precisa partir dos governos, defende IEA
Além da queda na adição capacidade renovável, o relatório da IEA estima que produção de biocombustíveis deverá contrair 13% em 2020, na primeira queda em duas décadas. É reflexo direto dos baixos preços do petróleo, gás natural e derivados.
Para a agência, a crise é uma oportunidade para os governos incluírem em seus planos de recuperação exigências de investimentos em renováveis, algo que poderia incentivar ainda a criação de empregos.
Algumas iniciativas estão em curso: o governo de Emmanuel Macron confirmou na semana passada que vai injetar US$ 1,7 bilhão em três anos para antecipar em quinze, para 2035, o desenvolvimento da primeira aeronave com zero emissões de carbono…
…A França também está condicionando os empréstimos bilionários para socorrer às aéreas aos planos de redução de emissões.
Nos EUA, maior mercado ocidental para geração de energia renovável, essa ideia é rejeitada. Em busca da reeleição, Donald Trump vem, inclusive, sinalizando que a prioridade será uma retomada mais acelerada da atividade econômica, um claro motor da sua popularidade nestes quase quatro anos de governo.
Em 2020, IEA projeta 23,5 GW de nova capacidade de geração renovável no país, perdendo apenas para o conjunto da Europa (22,2 GW) e para a China (72,6 GW)
Com a crise, adição de nova capacidade de geração renovável cairá aos níveis de 2015, estima (IEA)
Antes da pandemia, o relatório anual da IEA sobre o futuro da energia limpa Tracking Clean Energy Progress indicava que apenas 6 das 46 tecnologias monitoradas estavam “no caminho certo” para atingir metas de sustentabilidade.
O relatório completo da IEA, em inglês, com gráficos e alta resolução e detalhamento dos comentários da agência, está disponível aqui.
Alguns destaques:
Eficiência energética. Antes da pandemia, setor já estava bem abaixo da melhoria anual de mais de 3% estipulada no Cenário de Desenvolvimento Sustentável da IEA. Agora, gastos com eficiência energética estão caindo entre 10% e 15%.
Nesse cenário, políticas públicas para incentivar eficiência energética do transporte veicular a equipamentos eletrônicos residenciais são cruciais.
Variação média anual na intensidade de energia primária, historicamente e no Cenário de Desenvolvimento Sustentável, refletindo o ajuste climático para 2018 e 2019 (IEA)
Substituição do carvão. Espera-se que a participação das fontes de energia de baixa emissão de carbono aumente sua vantagem sobre o carvão no fornecimento de energia global em 6 p.p.
Mas a IEA ressalta que um ganho de participação durante a pandemia se deu em muitos mercados graças à redução do consumo, que permitiu o desligamento de térmicas e não pela substituição de combustíveis mais poluentes.
A aprovações de novos projetos hidrelétricos estão em níveis historicamente baixos; investimento em armazenamento de bateria está se estabilizando; e há tendência de queda nos gastos com redes de energia elétrica, vitais para integrar projetos de geração eólica e solar.
Participação das fontes na geração de energia, entre 1971 e 2020 (IEA)
A confirmação dessa previsão elevaria o número de carros elétricos em circulação para 10 milhões, algo em torno de 1% do estoque global de automóveis.Mas as vendas devem ser negativamente impactadas se os governos, na resposta à pandemia, flexibilizarem exigências de emissões sobre o setor automotivo, facilitando a entrada de veículos movidos a queima de combustível fóssil.
Padrões de consumo. Alterações de comportamento durante períodos de quarentena provocaram mudanças que afetaram o consumo de produtos e serviços e, consequentemente, as emissões.
Tais mudanças podem ter impactos a longo prazo no progresso da energia limpa, a depender se aspectos positivos associados aos comportamentos podem ser sustentados após o término da crise.
O mercado aéreo é um exemplo: estima-se que o número de passageiros em vôos comerciais em 2020 seja 35% a 65% menor que em 2019, o que afeta fortemente as emissões globais. O teletrabalho, preferência pelo uso das bicicleta nas cidades e regras de eficiência no consumo de energia por edifícios residenciais são pontos que devem influenciar esse futuro.
Reserva de passagens em voos comerciais, entre 2019 e 2020 (IEA)
Menos recurso para a transição. A crise pode tornar a redução de emissões ainda mais difícil em setores gravemente afetados, como transporte aéreo e marítimo e a indústria pesada.
Margens mais apertadas e menos tecnologias escalonáveis são pontos de preocupação na indústria, que podem impedir a redução de emissões.
Pacotes de estímulo são extremamente importantes, mas projetos de eficiência energética, eletrificação, reciclagem de materiais e captura de carbono também são apontados como opções pela IEA.
Destaque para projetos de captura de carbono (CCUS), onde há potencial para mais que dobrar a taxa global de captura de quase 40 milhões de toneladas de CO2 por ano.
Projetos CCUS de larga escala em desenvolvimento, entre 2013-2020 (IEA)
E são necessários mais de US$ 1 trilhão. Investimentos anuais em tecnologias limpas, da ordem de US$ 600 bilhões por ano, representaram cerca de 1/3 do investimento total em energia nos últimos anos. Em 2020, saltarão para 40%, mas apenas porque investimentos em combustíveis fósseis estão caindo drasticamente.
IEA estima que esses gastos com tecnologia precisam mais do que dobrar até o final da década para colocar o mundo em uma rota sustentável.
Sem falar em P&D. Os gastos públicos em pesquisa aumentaram 6% em 2019, atingindo US$ 25 bilhões, boa parte nos Estados Unidos, Europa e China.
A tendência é que o mercado precisará de maior participação do capital privado. Ano passado, os gastos corporativos em pesquisa e desenvolvimento aumentaram 3% sobre 2018, para US$ 90 bilhões. Cerca de 60% desse total foi dedicado ao desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono.
Investimentos globais em eficiência e energias limpas, entre 2015 e 2020 (IEA)
Curtas
A fonte eólica deverá chegar em 2024 a 24,2 GW de capacidade instalada, considerando os leilões já realizados e os contratos firmados no mercado livre. O Infovento de 2019, boletim produzido pela Abeeólica mostra que em 2019 foram gerados 55,9 TWh ou 9,7% de toda a energia injetada no Sistema Interligado Nacional. Canal Energia
A Shanghai Electric iniciou a operação das primeiras turbinas eólicas de 8 MW projetadas para parques offshore na China. São equipamentos projetados pela Siemens Gamesa, mas produzidos e comercializados no país pela Shanghai Electric. Promessa é de geração adicional de 20% de energia, com redução de 11%. Veja o vídeo da instalação
A GNA, joint venture entre Prumo Logística, BP e Siemens, realizou na sexta (12) a atração da FSRU BW MAGNA, embarcação que servirá como terminal flutuante de GNL, no Porto do Açu –capacidade de regaseificar 21 milhões de m³ de gás natural por dia para atender exclusivamente às usinas termoelétricas integradas ao projeto.
A eleição presidencial nos EUA será um ponto crítico para o futuro dos carros elétricos na maior economia do mundo, aponta a Wood Mackenzie.
O presidente da frente parlamentar do setor sucroenergético, deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), vai formalizar um pedido de apoio na Câmara dos Deputados para a derrubada do veto à tributação especial do RenovaBio. O veto está na pauta desta quarta (17).
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) reduziu para 10% (B10) a mistura obrigatória de biodiesel, por riscos de desabastecimento do mercado, informou sua assessoria nesta terça (16). Decisão vale para a comercialização desta terça-feira até o próximo dia 21.
A primeira negociação de créditos de carbono do RenovaBio precificou os CBIOs a R$ 50, equivalente a US$ 9,92, no câmbio de sexta (12). Cem créditos comprados na B3 pela Datagro Conferences, unidade de eventos da consultoria Datagro.
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