Diálogos da Transição

Prioridade do Brasil no G20, padrão global para biocombustíveis emperra na reta final de negociações

SAF para aviação e hidrogênio de baixo carbono são dois novos combustíveis que precisam da harmonização de diferentes certificações

Grupo de Trabalho de Transições Energéticas em Foz do Iguaçu (Foto: Audiovisual G20 Brasil)
Grupo de Trabalho de Transições Energéticas em Foz do Iguaçu (Foto: Audiovisual G20 Brasil)

NESTA EDIÇÃO. GT de transições energéticas do G20 negocia declaração de ministros até sexta (4/10) e Brasil tenta avançar com agenda de padronização global para biocombustíveis.
 
SAF para aviação e hidrogênio de baixo carbono são dois novos combustíveis que precisam da harmonização de diferentes certificações desenvolvidas ao redor do mundo.
 
E ainda: agência da ONU para aviação defende diversificação do parque industrial.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Descarbonizar o setor de transportes global até 2050 requer que novos combustíveis como diesel verde, SAF (aviação), biometano, amônia e metanol respondam por um terço do consumo em meados do século, segundo estimativas da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).
 
Um objetivo ambicioso e que vai precisar de esforço político e articulação entre países do Norte e do Sul para viabilizar investimentos, mas também um padrão que leve em conta a intensidade de carbono.
 
Esta é uma das prioridades do Brasil na presidência rotativa do G20 este ano, mas que está emperrada. 
 
“Um obstáculo que nos preocupa muito é uma padronização da contabilidade de carbono de todos esses novos combustíveis e nós percebemos que não estamos avançando nesse sentido, e isso é uma prioridade muito grande”, disse o embaixador André Corrêa do Lago a jornalistas na manhã desta terça (1/10), após abertura da reunião técnica do grupo de trabalho de transições energéticas do G20.
 
Esta é a semana de encerramento dos trabalhos do GT, que deve culminar em uma Declaração de Ministros a ser discutida na Cúpula de Líderes em novembro, no Rio de Janeiro.
 
Segundo o secretário do Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, no nível técnico, há um entendimento de que é importante harmonizar padrões estabelecidos internacionalmente.
 
Um exemplo vem da indústria de aviação, que para cumprir suas metas de emissões líquidas zero até 2050 precisará de combustíveis sustentáveis (SAF, em inglês) cuja oferta é escassa atualmente.
 
Para que o SAF ganhe escala, será preciso diversificar a produção, e países do Sul Global como Brasil e Índia despontam como potenciais fornecedores.
 
“Os padrões são muito variados. Esses combustíveis começam com agricultura, que é muito diferente no Brasil, onde temos às vezes três safras. Então, o padrão de um país, não necessariamente serve para outro. Por isso acreditamos que todo mundo ganharia se tivéssemos uma padronização”, comenta Corrêa do Lago. 



Mariana Espécie, coordenadora do GT de Transições Energéticas, e assessora especial do Ministério de Minas e Energia, afirma que a padronização se estende a uma série de soluções de transição energética, inclusive o hidrogênio.
 
Uma das rotas de obtenção do hidrogênio de baixo carbono é a eletrólise com energias renováveis e tem sido a aposta de empresas e países que desenham hubs industriais verdes.
 
Mas há outras formas de obter a molécula, como a reforma do etanol e do biogás, que buscam reconhecimento por sua contribuição climática.
 
Segundo Espécie, a estratégia da presidência brasileira não é discutir tecnologias, e sim abordar o “como resolver” questões críticas para acelerar a transição energética global.
 
“Toda vez que tentamos entrar no debate muito tecnológico, percebemos que abre espaço para polarizações e que não vão nos tirar desse lugar de necessidade. Então temos pensado de uma forma mais holística, olhando para financiamento, dimensão social e o que falta para implementação desses novos combustíveis”.

Aeronaves já decolam abastecidas com SAF em alguns países na Europa e na Ásia, além dos Estados Unidos e Canadá, na América. O consumo ainda é pequeno, e concentrado, assim como a produção.
 
Isso precisa mudar, defende Jane Hupe, diretora do programa ambiental da Associação Internacional da Aviação Civil (Icao, em inglês).
 
Durante um evento paralelo à agenda do G20, a diretora da Icao disse que a organização quer que todos os 193 países sejam produtores, mudando a lógica de mercado dos combustíveis fósseis – concentrado em quem tem reservas de petróleo.
 
A aviação civil internacional é signatária de um acordo na Icao, o Corsia, que estabelece que a partir de 2027 será obrigatório mitigar ou compensar emissões de gases de efeito estufa dos voos.
 
“Nós queremos o SAF em todo o mundo. Não só no Norte. Queremos ele introduzido em 193 países e, para isso, estamos fazendo um esforço enorme para expandir a capacidade em países emergentes”, conta Hupe.
 
“O SAF precisa ser global, precisa ser harmonizado e temos tudo pronto para ir de um setor difícil de abater para o melhor piloto de net zero no setor intensivo”, completa.


Demanda para SAF. Os combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês) devem ter respostas muito rápidas das companhias aéreas que buscam soluções para descarbonizar suas operações, disse nesta terça (1/1) o diretor-geral de Itaipu Binacional, Enio Verri. Para o executivo, esse mercado deve ganhar impulso antes do hidrogênio verde
 
Aço e cimento querem mercado de carbono. Representantes dos setores de aço e cimento defenderam a importância da regulação do mercado de carbono no Brasil em entrevista ao estúdio eixos. O CEO do grupo Votorantim, Osvaldo Ayres, disse que a regulação é fundamental para que os incentivos levem a uma sociedade com menos emissões.
 
R$ 128,6 bi para transmissão. Plano Decenal de Expansão de Energia 2034 da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que o Brasil demandará R$ 128,6 bilhões em investimentos, até 2034, para a construção de 30 mil km de novas linhas de transmissão e 82 mil megavolt ampère (MVA) em novas subestações. O país tem 187 mil km de linhas e pode chegar a 217 mil km em 2034.
 
Expansão da matriz. O Plano da Operação Energética para o horizonte 2024-2028 (PEN 2024) do ONS estima um acréscimo de cerca de 30 GW de capacidade instalada no período, resultando em 245 GW ao final de 2028, com forte inserção de usinas solares e eólicas, além do impulso na mini e micro geração distribuída (MMGD) – prevista para evoluir para cerca de 26% da matriz ao final de 2028. Esse cenário exigirá maior flexibilidade das fontes convencionais, especialmente das hidrelétricas.
 
Crise climática. Com 8.500 quilômetros de costa, o Brasil vem testemunhando uma série de problemas causados pelo avanço do mar, desde o desaparecimento de pontos turísticos até a alteração do equilíbrio natural na foz do rio Amazonas. Segundo relatório da ONU, o nível regular do oceano subiu 13 centímetros em regiões do país nos últimos 30 anos e pode subir mais 16 centímetros até 2050. (Reuters/UOL)
 
Etanol na bp. A bp divulgou nesta terça (1/10) que concluiu a aquisição dos 50% de participação da Bunge em sua joint-venture bp Bunge Bioenergia. A produtora de biocombustíveis foi renomeada para bp bioenergy. Com a nova unidade de negócios, a bp passa a ter capacidade de produzir por dia cerca de 50 mil barris de etanol equivalente a partir da cana-de-açúcar por meio de 11 usinas.
 
Eletromobilidade. A Voltta, comercializadora varejista da Eneva, e a Volkswagen Caminhões e Ônibus fecharam uma parceria para a ampliação da frota elétrica. A comercializadora vai disponibilizar energia elétrica de fontes renováveis com 30% de desconto às concessionárias da Volkswagen.