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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Gustavo Gaudarde
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O marco legal das eólicas offshore caiu em um limbo político: aprovado na Câmara, o tema se tornou secundário ao carregar um amontoado de emendas para acomodar lobbies setoriais e de estados, numa negociação com sinais trocados na base do governo.
Ainda sob interesse permanente de setores do governo – e embalado por grandes produtores nacionais de petróleo e gás natural – a geração de energia renovável em alto-mar tem esse ano uma nova chance no Senado.
A expectativa do mercado é que a relatoria seja definida em breve e o projeto de lei volte a ser o das eólicas offshore. Em tempo, o texto já passou pela casa, com parecer de Carlos Portinho (PL/RJ). Ainda precisa ser despachado no retorno ao Senado e pode mudar de relator.
“Nós temos muita capacidade da extração de petróleo em águas profundas, submarinas. Portanto, a gente tem um grande potencial”, afirmou Rodrigo Rollemberg. O secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do MDIC participou nesta quarta (27/3) do Brazil Offshore Wind Summit no Rio.
“É muito importante que a gente faça isso ouvindo o setor produtivo, ouvindo a eólica, ouvindo os empresários do setor, ouvindo a Confederação Nacional da Indústria, o BNDES, para que possamos conjuntamente discutir e elaborar instrumentos que possam dar segurança jurídica, dar tranquilidade, dar estímulo aos investimentos em eólicas offshore”, defendeu.
Veja a entrevista completa em vídeo, no TotalEnergies Studio, produzido pela agência epbr.
O movimento para tirar do papel uma regulação capaz de atrair os bilhões em investimento necessários para transformar a eólica offshore em uma realidade no Brasil entra em seu segundo ano desde a edição de um decreto no governo Bolsonaro. Foi uma tentativa de surfar uma onda global, que fracassou.
De lá para cá, o mundo mudou: “esse é um tema que precisa de planejamento, de planejamento de longo prazo, nós temos grandes desafios internacionais, em função de subsídios grandes dados por outros países”, reconheceu o secretário.
Grandes projetos foram cancelados no exterior, leilões deram vazio por condições desfavoráveis aos investidores e a cadeia de suprimentos da geração eólica ainda se recupera dos efeitos da pandemia.
O que não abala o ânimo do setor de óleo e gás. A própria Petrobras, que pretende hoje ser uma geradora de energia renovável no futuro, está alocando cada vez mais mais recursos de P&D no offshore.
“Queremos instalar dois aerogeradores para ganhar experiência, analisar, se preparar”, disse diretor de transição energética, Maurício Tolmasquim.
O plano é instalar as turbinas de teste até 2029 na costa do Rio Grande do Norte e do Rio de Janeiro.
Em paralelo, a companhia já tem quatro projetos comerciais em análise nas instâncias internas de governança, em preparação para concorrer quando o governo realizar o leilão de cessão de áreas para esse segmento, o que ainda não há previsão.
Cobrimos por aqui:
- MME quer debater critérios e disputa de áreas para eólicas offshore
- Elbia Gannoum: leilão de eólica offshore será sinal crucial para investidor
- Ceará mapeia recursos em infraestrutura para eólica offshore e hidrogênio
- Prumo confia na sinergia entre óleo e eólica offshore para desenvolver Açu
- Petróleo dá ao Rio potencial para liderar eólica offshore, diz Felipe Peixoto
Em busca de € 1 bilhão
Em outro tópico, Emmanuel Macron e Lula declaram a ambição de levantar € 1 bilhão em quatro anos para um programa de investimentos públicos e privados em projetos de bioeconomia para a Amazônia, tanto do Brasil como da Guiana Francesa.
As fontes serão perseguidas. Será formada uma parceria entre os bancos públicos brasileiros, incluindo o Basa da Amazônia e o BNDES, com a Agência Francesa de Desenvolvimento. Além de um acordo científico entre a francesa Cirad e a Embrapa.
Com isso, será criado um “hub de pesquisa, investimento e compartilhamento de tecnologias-chave para a bioeconomia”, que pode levar a investimentos no Centro Franco-Brasileiro de Biodiversidade Amazônica (CFBBA) e na formação de redes de universidades francesas e brasileiras.
Os presidentes cumpriram uma agenda florestal em Belém, sede da COP30 no Brasil, sem menção a projetos comuns de energia ou infraestrutura.
Nas declarações (veja a íntegra), a reafirmação de compromissos da COP28, o que inclui a retirada gradual dos combustíveis fósseis das matriz de ambos, combinado com as responsabilidades “diferenciadas e respectivas capacidades” e o combate à pobreza.
Diferentemente da agenda no Rio de Janeiro. “O Brasil está querendo os conhecimentos da tecnologia nuclear não para fazer guerra”, afirmou Lula no lançamento do submarino Tonelero, que tem tecnologia francesa.
“A guerra destrói. O que constrói é o desenvolvimento, é o conhecimento científico, é o conhecimento tecnológico” (Uol).
Anti-mineração e exploração
De volta à Amazônia, Raoni Metuktire, liderança indígena, pediu o veto à Ferrogrão, estrada de ferro planejada para conectar os estados do Mato Grosso e Pará, alvo de críticas de ambientalistas pelos impactos que sucederiam a ampliação da infraestrutura na região.
“Eu sempre fui contra esse trabalho de destruir floresta, de mineração, de exploração. Se o trabalho de destruir continuar, devemos ter problemas sérios”, apelou o cacique (G1).
“Lula, declare a Amazônia uma zona livre de petróleo”, foi o lema do protesto do Greenpeace que aproveitou a exposição dada a visita de Macron para, mais uma vez, exigir a suspensão dos trabalhos para exploração do petróleo na Foz do Amazonas, atualmente liderados pela Petrobras.
A empresa confia na emissão da licença este ano, bem como os governos estaduais da Margem Equatorial. Lula já prometeu que sai, sem meias palavras. Cabe ao Ibama rever a negativa da licença em 2023, após os novos investimentos e propostas da companhia para assegurar a integridade ambiental do projeto. O pano de fundo, contudo, é político e climático.
Curtas
Descarbonização 1
A Veolia e a Braskem vão iniciar pesquisas para a descarbonização no polo industrial de Triunfo (RS). Pretendem viabilizar a substituição de fósseis por soluções a partir de energias renováveis. E mira um potencial de redução de 500 mil toneladas de CO2e por ano com a descarbonização da produção de vapor.
Descarbonização 2
O Grupo CCR comprou ou certificou 100% de seu consumo de energia a partir de fontes renováveis. Vai antecipar para o fim deste ano a meta de 2025. Recorreu a três frentes: usinas solares no modelo de geração distribuída; migração para o mercado livre com compra de energia renovável; e certificados IRECs. Consumiu 578 mil MWh em 2023, 80% nos ativos de mobilidade urbana; 12% em aeroportos e 8% na CCR Rodovias.
Vai longe
Mais de 80% dos Sustainability-Linked Bonds (SLB) monitorados pela Climate Bonds Initiatives foram desalinhados com metas climáticas globais em 2023. São títulos vinculados a metas de sustentabilidade, que miram condições mais favoráveis de captação, com redução do custo de financiamento. Relatório está disponível na íntegra.
SAF em Amsterdã
A Emirates iniciou o uso de SAF no aeroporto Schiphol (Amsterdã). Ao todo, 700.000 galões de SAF serão utilizados nas operações ao longo de 2024. Faz parte do acordo de fornecimento de 2 milhões de galões do combustível sustentável de aviação fechado com a Neste. O próximo destino do SAF será Changi, em Cingapura, que começará nos próximos meses, segundo a Emirates.
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