Agendas da COP

Os próximos passos do mercado de carbono no Brasil

Entenda o caminho que o projeto ainda precisa percorrer até virar lei e as empresas começarem a negociar os créditos de carbono

Esforço concentrado no Senado e na Câmara para aprovação do Combustível do Futuro e definições do setor de energia. Na imagem: Congresso Nacional fotografado ao anoitecer, com cúpulas e torre central, ao fundo, refletidas no espelho d'água, em primeiro plano (Foto Edilson Rodrigues/Agência Senado)
PL do mercado de carbono ainda será discutido na Câmara | Foto Edilson Rodrigues/Agência Senado

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
[email protected]

O Brasil ficou um pouco mais perto de ter um mercado regulado de carbono, com a aprovação, nesta quarta (4/10), do projeto de lei 412/2022 pela Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado.

O texto foi aprovado por unanimidade pelos senadores após negociação com a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) que pressionou para que as atividades primárias – como criação de gado e plantação de soja – fossem excluídas dos setores a serem regulados pela nova legislação.

A votação na CMA foi terminativa, ou seja, o texto relatado pela senadora Leila Barros (PDT/DF) não precisa passar pelo Plenário, a menos que haja um requerimento sobre isso – o que é pouco provável. Também foi feito um acordo entre os senadores para evitar a apresentação de recurso.

Isso significa que o texto deve chegar à Câmara nos próximos dias, para discussão e votação, e então seguir para sanção do presidente da República e virar lei – se não houver alterações.

Na Câmara dos Deputados, já se articula o relator. Entre os cotados estão o deputado Sergio Souza (MDB/PR), ex-presidente da FPA, e Aliel Machado (PV/PR), relator do PL 2148/2015, onde está apensado o PL 528/2021 – que também propõe a criação de um mercado de carbono. O texto já tramita em regime de urgência.

A expectativa do governo é aprovar o marco ainda em 2023, antes da COP28, a conferência climática da ONU marcada para 30 de novembro a 12 de dezembro em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Lula (PT) quer chegar ao encontro de líderes globais com medidas concretas que sinalizem a mudança de visão na gestão brasileira atual em relação à anterior, especialmente em questões climáticas e ambientais.

É uma estratégia para atrair investimentos e recursos internacionais para financiar o projeto de neoindustrialização em bases verdes. Demonstra também alinhamento entre o Executivo e Legislativo, já que o texto aprovado hoje foi elaborado junto com governo e indústria.

Governo quer aprovar antes da COP28

“O próprio presidente da Câmara [Arthur Lira (PP/AL)] disse recentemente que a prioridade é a pauta verde. O Brasil tem tudo para se apresentar na COP, no final do ano, com o projeto de lei do mercado de carbono regulado”, disse o secretário de Economia Verde do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg, nesta quarta.

Citando outros temas também em discussão no Congresso, como marco das eólicas offshore e hidrogênio, e o Combustível do Futuro, o secretário afirmou que a regulação do mercado de carbono é o primeiro do conjunto de projetos da agenda verde para transformar a economia brasileira.

“Se o Brasil tiver capacidade de fazer isso, é uma pauta que unifica o país. Isso vai atrair muitos investimentos externos, porque o mundo precisa fazer a transição energética”.

Discussão na Câmara pode levar mais tempo

Apesar da urgência – e do otimismo – do governo, os próprios parlamentares reconhecem a dificuldade de correr com a matéria.

Líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT/BA), disse durante a votação que o esforço será para aprovar até o mês que vem, mas é provável que ao chegar à Câmara o texto receba muitas contribuições, dificultando a aprovação acelerada.

Um dos motivos é que há grandes probabilidades de as discussões na Câmara se estenderem além de novembro antes de chegar a um texto final, até porque existem outras propostas relacionadas ao tema tramitando na casa há alguns anos.

E mesmo que essas discussões sejam rápidas e o texto fique pronto em tempo recorde, qualquer alteração precisa voltar para análise do Senado, que pode mantê-la ou recuperar o texto original.

Só então o PL vai a sanção do presidente da República, que tem 15 dias úteis para sancionar ou vetar o projeto inteiro ou em partes.

Aprovou: começa a valer?

A implementação deve ocorrer de forma gradual. Estão previstas quatro fases.

A primeira para edição da regulamentação. Após a publicação da lei, está previsto um prazo de 12 meses, prorrogável por igual período, para sua regulamentação.

Regulamentada, começa a segunda fase, em que as empresas reguladas terão um ano para operacionalizar os instrumentos de relato de emissões.

fase três estabelece um período de transição de dois anos, no qual as organizações terão apenas que apresentar o plano de monitoramento e relatar suas emissões e remoções de gases de efeito estufa ao órgão gestor do SBCE.

A implementação plena do sistema de comércio de emissões só começa a valer mesmo na fase quatro, no fim da vigência do primeiro Plano Nacional de Alocação.

Nela, serão distribuídas as Cotas Brasileiras de Emissões e implementado o mercado de ativos do SBCE – e é quando começa a negociação.

Um resumo do PL do mercado de carbono:

  • Cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), inspirado no modelo cap and trade adotado internacionalmente;

  • Atividades, fontes e instalações que emitam acima de 25 mil toneladas de CO2 equivalente por ano estarão sujeitas a um limite de emissões que será definido posteriormente;

  • Já as empresas que emitirem entre 10 mil toneladas de CO2e e 25 mil tCO2e terão que apresentar plano de monitoramento de suas emissões e reportar ao órgão gestor do SBCE.

  • agronegócio está fora das atividades reguladas. Pelo texto, a “produção primária agropecuária e as emissões indiretas pela produção de insumos ou matérias-primas” não serão consideradas entre atividades obrigadas a cumprir um teto de emissões. Mas poderá optar por contabilizar as emissões e remoções líquidas ocorridas em áreas rurais para emissão de créditos no mercado voluntário.

  • Também está prevista a possibilidade de créditos de carbono do mercado voluntário serem utilizados no SBCE, desde que atendidos determinados requisitos.

Curtas

Crise na Amazônia

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse hoje que o impacto ambiental da seca na Amazônia é “tremendo e assustador”. Ela falou com a imprensa após reunião de um grupo de ministros com o vice-presidente Geraldo Alckmin, em Brasília, para tratar do tema. A estimativa do governo é que 500 mil pessoas tenham sido atingidas pela crise ambiental. As informações são do Valor.

El niño impacta economia na AL

O fenômeno que altera a distribuição da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico é apontado pelo Banco Mundial como um fator preocupante para a retomada do crescimento na América Latina.

A estimativa é que o El Niño tenha um impacto potencial de redução de 0,8 ponto percentual no crescimento dos países localizados em áreas tropicais e úmidas, o que pode ser ampliado se for levado em consideração o impacto do fenômeno climático em outros países, o que, através de canais comerciais e preços mundiais, afeta outras nações, relata a Agência Brasil.

Operado por mulheres

AES Brasil e a Unipar inauguraram na terça-feira (3/10), na Bahia, o primeiro complexo eólico do Brasil a ter operação e manutenção realizadas localmente por uma equipe formada somente por mulheres.

O complexo eólico Tucano leva o nome de um dos municípios baianos onde está localizado. Com 52 aerogeradores entrando em operação, a capacidade instalada do empreendimento soma 322 MW.

Biometano no Açu

Coagro, ZEG Biogás e Porto do Açu, no Rio de Janeiro, anunciaram nesta quarta (4/10) a assinatura de um memorando de entendimento para a implantação de uma planta de biometano com capacidade inicial de produção de 5 milhões de m3 por ano. A expectativa é que a decisão de investimento ocorra no primeiro trimestre de 2024, e a planta comece a operar comercialmente em 2025.