Bioeconomia

Com pico de fósseis até 2030, aviação precisará de SAF para continuar voando

Rystad estima que, em 2050, cerca de 50% da demanda de combustível para a aviação poderá vir dos SAF

Europa define metas para combustíveis sustentáveis de aviação. Na imagem: Caminhão tanque para abastecimento de aeronave com 80% de SAF (Foto: Divulgação/Airbus)
Caminhão tanque para abastecimento de aeronave com 80% de SAF (Foto: Divulgação/Airbus)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Com Gabriel Chiapppini

Levantamento da Rystad Energy aponta que, a partir de 2030, os combustíveis fósseis não serão suficientes para atender a demanda do setor de aviação.

Entra em cena o combustível sustentável (SAF, na sigla em inglês), que além de desempenhar um importante papel na descarbonização do setor – cerca de 65% dos cortes de emissões podem vir da substituição de fósseis por renováveis – será fundamental para manutenção das operações aéreas.

“O setor de refino [tradicional] não será capaz de produzir combustível de aviação suficiente. As refinarias atingirão o pico antes de 2030, e não serão capazes de produzir combustível de aviação porque é um subproduto da gasolina”, disse o analista Per Magnus Nysveen, durante o Energy Transition Marathon, na quarta (10/4).

“Então, o SAF não é algo bom de se ter, é algo obrigatório para setor da aviação”, completou.

O analista da Rystad estima que, em 2050, sejam produzidos 5 milhões de barris de SAF (cerca de 795 milhões de litros) por dia.

“Cerca de 50% da demanda de combustível para a aviação poderá vir dos SAF”, afirmou.

Dos 100 milhões de barris de petróleo consumidos por dia, 7 milhões de barris são para a aviação. Hoje, o setor responde por 15% das emissões de gases do efeito estufa do setor de transporte.

Mas, por enquanto, a oferta de biocombustível para o setor aéreo ainda é baixa e precisa superar algumas barreiras para escalar e conseguir atender a demanda.

Vale dizer: no ano passado, as companhias aéreas internacionais compraram cada gota de SAF disponível no mercado.

Estimativas da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) indicam que a produção deve triplicar este ano, saltando dos 600 milhões de litros fornecidos em 2023 para 1,8 bilhão de litros em 2024.

Ainda assim, sua participação no mercado global é de apenas 3% de todos os combustíveis renováveis produzidos. 97% da produção é destinada a outros setores, como o transporte terrestre.

Eletrificação reduz demanda por fósseis na frota terrestre

No total, o setor de transportes consome 58 milhões de barris de petróleo por dia e emite cerca de oito gigatoneladas de gases do efeito estufa por ano. O transporte rodoviário responde por 75% e o marítimo cerca de 10% das emissões, com consumo de 45 milhões e 6 milhões de barris de petróleo por dia, respectivamente.

A Rystad estabeleceu dois cenários até 2030, com aquecimento de 1,6°C e 1,9°C, de acordo com o nível de descarbonização das atividades.

No cenário business as usual (sem mudanças de comportamento), 10 milhões de barris de petróleo por dia devem ser retirados, por conta do aumento da participação veículos elétricos leves (-6 milhões de barris) e pesados (-4 milhões de barris).

“Até 2030, esperamos que a porcentagem de veículos elétricos nas vendas totais de automóveis cresça de 20% para cerca de 50%”, pontua Nysveen.

Contudo, o preço dos eletrificados e a falta de infraestrutura para recarga ainda são alguns entraves para esses modelos.

“A infraestrutura tem que estar um pouco à frente da demanda, caso contrário, [os consumidores] ainda não se atreverão a comprar um veículo elétrico”.

Para o analista, os governos precisam ser proativos para ajudar os investimentos em infraestrutura acontecerem.

Baratear para eletrificar

O preço tem um peso de 80% na hora em que o consumidor está decidindo pela compra de um automóvel, conta Lars Lysdahl, também analista da Rystad.

“Se você tem um carro que custa cerca de US$ 40 mil, você atrai apenas 10% dos mercados, ou apenas 10% da população. Se reduzir esse preço para US$ 20 mil, você atenderá a 80% do mercado”.

Na avaliação dele, algumas empresas, como a chinesa BYD, já conseguem alcançar uma parcela importante do consumidor, baseado na redução do preço final dos automóveis elétricos.

“Há um aumento exponencial no mercado adicional total à medida que o preço diminui linearmente. O que estamos vendo agora é que a BYD já tem um carro compacto no mercado, que está bastante acessível”.

Para fazer frente à indústria chinesa, a Peugeot vem realizando esforços para oferecer eletrificados com custos mais competitivos.

Linda Jackson, CEO da Peugeot, afirma que o compromisso é reduzir o custo dos seus veículos elétricos em pelo menos 40% até 2030, apostando em uma estratégia que busca eficiência de custos.

A empresa integra o grupo Stellantis que tem a meta de que 100% das vendas no mercado europeu sejam de veículos elétricos até 2030. Até lá, veículos híbridos plug-in fazem parte de uma estratégia de transição.

“É um período de transição, mas o fim do jogo é a eletrificação. Mas veremos quão rapidamente isso cresce e é obviamente dependente país por país e dos incentivos e também da infraestrutura”.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Crise energética

Para o CEO de uma das principais empresas de energia da Alemanha, é pouco provável que a indústria doméstica recupere para os níveis anteriores à guerra na Ucrânia, uma vez que os preços elevados do gás natural liquefeito importado colocaram a maior economia da Europa em “desvantagem”.

Markus Krebber, executivo-chefe da RWE, também critica a decisão da então chanceler Angela Merkel, em 2011, de encerrar a sua matriz nuclear sem substituir o combustível por outra fonte de energia além das importações de gás russo. Financial Times

Corrida do lítio

A Argentina é o quarto maior produtor de lítio do mundo e, junto ao Chile e à Bolívia, integra o Triângulo do Lítio sul-americano. O território argentino detém mais de 20% das reservas globais do metal, cobiçado por fabricantes de baterias para smartphones, carros elétricos e painéis solares. Porém, a demanda vem crescendo tão rapidamente que, segundo especialistas, a mineração de lítio parece estar reproduzindo alguns dos vícios historicamente ligados à exploração de outros minerais. Conheça os donos das enormes reservas de lítio na Argentina.

Biometano

A Mitsui Gás e Energia do Brasil e a Geo bio gas&carbon (grupo Geo Biogás) anunciaram nesta quarta (10/4) a criação da GeoMit, uma joint venture para construir e operar plantas de biometano a partir de resíduos de cana-de-açúcar e do agronegócio. A intenção da GeoMit é estabelecer parcerias com produtores de biomassa, para o uso sustentável dos resíduos orgânicos.

Fortescue inaugura fábrica de eletrolisadores

Localizada em Gladstone, Queensland, na Austrália, é uma das primeiras plantas industriais do mundo a contar com uma linha de montagem automatizada. As instalações têm 15 mil m² de área construída, com a capacidade para produzir mais de 2 GW de pilhas de eletrolisadores de membrana de troca de prótons (PEM) por ano.

O desenvolvimento da fábrica da Fortescue foi viabilizado pelo apoio do governo de Queensland, incluindo aportes financeiros, o fornecimento de uma subestação elétrica, rede rodoviária, comunicações e conexão de água da rede local, bem como a alocação de terras.

Cemig SIM planeja expansão

A empresa do Grupo Cemig que atua no mercado de energia solar por assinatura, espera crescer seis vezes até 2027. Para isso, aportará investimentos da ordem de R$ 3,5 bilhões, nos próximos três anos. O negócio é focado na energia solar por assinatura, com adesão 100% digital, sem necessidade de obras ou instalação de painéis na unidade consumidora.

Crédito de carbono para abater Escopo 3

A iniciativa Science Based Targets (SBTi) vai passar a aceitar compensações com créditos de carbono como parte das estratégias de descarbonização das empresas. É uma guinada que deve ter reflexos nos projetos privados de proteção da Amazônia. Os títulos poderão ser usados para abater emissões de gases de efeito estufa relacionadas à cadeia de valor. Capital Reset