Diálogos da Transição

Braço empresarial do G20 pede políticas para bioenergia, hidrogênio e nuclear

Documento propõe regimes de incentivos para triplicar capacidade renovável global até 2030

Vista das instalações com dutos metálicos e tanques de armazenamento da BioFlex, usina de etanol celulósico da GranBio, em Alagoas (Foto Divulgação GranBio)
BioFlex, usina de etanol celulósico da GranBio, em Alagoas | Foto Divulgação

NESTA EDIÇÃO. B20 apresenta recomendações e propostas de ação política para que as principais economias globais acelerem a transição na tentativa de contornar a crise climática.

Marina Silva defende novo acordo internacional voltado à preservação da natureza, com o mesmo rigor aplicado aos acordos financeiros.

E ainda: sancionado programa com incentivos de R$ 18 bilhões para hidrogênio de baixo carbono.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

Elaborar regimes de incentivos para triplicar a capacidade renovável até 2030, estabelecer mecanismos para explorar o potencial sustentável e a prontidão de bioenergia e viabilizar a expansão de soluções como captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS), hidrogênio limpo e energia nuclear são algumas das propostas de ação política apresentadas pelo B20 nesta segunda (30/9).

Braço empresarial do G20 que este ano está sob coordenação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o B20 elaborou um documento com 24 recomendações para os governos das maiores economias do mundo, das quais três dizem respeito à transição energética.

Elas foram elaboradas pela força-tarefa de Transição Energética e Clima:

  • acelerar o desenvolvimento e o uso de soluções de energia renováveis e sustentáveis;
  • dobrar a eficiência energética e promover a eficiência dos recursos e a economia circular;
  • promover soluções naturais eficazes para mitigar as mudanças climáticas e aumentar a biodiversidade.

O grupo aponta a necessidade de investir de US$ 5 bilhões a US$ 8,5 bilhões por ano até 2030 para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), e lista prioridades para a agenda política internacional.

As recomendações chegam na semana em que ocorre a reunião ministerial do grupo de trabalho de transições energéticas do G20. E estão acompanhadas de seis propostas de ações políticas, isto é, como de fato concretizar essas aspirações.

Para acelerar renováveis, governos devem elaborar regimes de incentivos para expandir a infraestrutura das redes e acelerar a ampla eletrificação, garantindo acesso justo, responsável, eficiente e confiável à energia, propõe.

Há também a defesa de iniciativas para “explorar o potencial sustentável e a prontidão de bioenergia e biocombustíveis para descarbonização”, além de viabilizar outras soluções necessárias para o net-zero, como captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS), hidrogênio limpo e energia nuclear.

O olhar para a bioenergia e soluções climáticas naturais não é ao acaso, a força-tarefa é comandada por Ricardo Mussa, CEO da Raízen, produtora de etanol que tem aproveitado fóruns internacionais para defender a sustentabilidade da biomassa brasileira – de olho na expansão do seu mercado. 



Já no tema eficiência energética, a ação política deve focar na eficiência técnica, programas de investimento e medidas para aumentar a conscientização pública, além da economia circular.
 
“Promover a economia circular e o uso eficiente dos recursos globais, desenvolvendo políticas que considerem todo o ciclo de vida dos materiais e fomentando programas de financiamento e conscientização para aumentar a adoção de práticas circulares”, recomenda o B20.

Segundo o B20, as soluções naturais para o clima têm o potencial de reduzir de 5 a 12 GtCO2e por ano até 2030, contribuindo com cerca de 20 a 50% da redução necessária para estar no caminho das emissões líquidas zero. 
 
“Isso requer o desenvolvimento de uma cadeia de valor robusta para escalar projetos de proteção e restauração de alta integridade e melhorar os mecanismos de financiamento e mercado para desenvolver essas iniciativas”, diz o comunicado.
 
Aqui, a solução política é dar escala ao mercado internacional de carbono, como um forma de incentivar a preservação de florestas, que sequestram o gás de efeito estufa e ajudam no equilíbrio do clima do planeta.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), defendeu a urgência de uma revisão das regras do sistema financeiro global para incluir critérios que protejam o patrimônio natural e favoreçam o financiamento de projetos sustentáveis em países emergentes. 
 
A proposta, que Marina chamou de “Basileia 4”, sugere a criação de um novo acordo internacional voltado à preservação da natureza, com o mesmo rigor aplicado aos acordos financeiros anteriores voltados à mitigação de crises econômicas.
 
“Estava mais do que na hora de a gente fazer uma espécie de acordo de Basileia 4, porque teve o 1, o  2, e o 3, depois da crise de 2008, mas sempre com a preocupação correta de proteger o sistema financeiro”, afirmou a ministra, durante seminário Finanças Hoje para o Nosso Amanhã, evento paralelo ao G20, promovido nesta segunda (30/9), no Rio de Janeiro. Leia na cobertura de Gabriel Chiappini


R$ 18 bi para hidrogênio. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou nesta segunda (30/9) a lei 14.990/2024, que destina R$ 18,3 bilhões em um programa de concessão de créditos fiscais para a produção e consumo de hidrogênio no Brasil. O Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC) é a última parte do marco legal criado pelo Congresso Nacional este ano.

Bandeira vermelha patamar 2. A Aneel definiu a bandeira vermelha patamar 2 para o mês de outubro, o que significa uma cobrança extra de R$ 7,877 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Segundo a agência, os fatores que levaram ao acionamento da bandeira foram as previsões de baixa afluência para os reservatórios das hidrelétricas e a elevação do preço do mercado de energia elétrica ao longo do mês de outubro.

Gás para térmicas. A ANP autorizou a TAG a operar o gasoduto de conexão do terminal de regaseificação da Eneva, em Sergipe, à malha integrada de transporte, o que permitirá antecipar a contratação termelétrica na crise hídrica. A Eneva ainda aguarda o aval da agência para o seu pedido de revisão de autorização para operação do terminal, para ajustes na infraestrutura interna do terminal.

Solar em Goiás. A Newave Energia, joint venture entre a Gerdau e a gestora de investimentos Newave Capital, vai iniciar a construção do maior parque solar do estado de Goiás, com capacidade instalada de 452 megawatt-pico (MWp). O projeto Barro Alto vai demandar R$ 1,3 bilhão em investimentos. Uma parte do valor virá do capital próprio das empresas e a outra parte será financiada pela Sudeco.