BRASÍLIA – “Para o setor de transportes, o hidrogênio é promissor. Ele entrega emissões nulas de escapamento, o que faz todo o sentido para o processo de descarbonização”, disse a gerente executiva ambiental da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Erica Marcos, nesta quarta (16/8).
Ela defende que a adoção dos veículos elétricos a célula a combustível (VECC) é favorável às transportadoras, pois, além de possibilitar operações mais limpas e estáveis, pode agregar competitividade às várias rotas de propulsão.
“O hidrogênio é tecnicamente e mecanicamente favorável para os transportes. Estamos favorecendo a nossa operação”, explicou. “As transportadoras têm mais opções, as tecnologias competem entre si e os preços caem. Também permite viagens silenciosas, estáveis e limpas”.
No entanto, o uso de hidrogênio como propulsor ainda apresenta alto custo associado à sua produção em larga escala, podendo ser repassado no preço final aos consumidores.
A gerente explicou que o valor é “muito acima do que podemos abarcar em escala” e, por isso, serão necessários subsídios para viabilizar a implementação dos VECC.
“O preço é o problema. É muito acima do que podemos abarcar em escala, por isso, precisamos dos incentivos corretos para viabilizar a parte econômica”, afirmou.
Como a tecnologia está em fase de testes, ainda é preciso desenvolver a oferta e a infraestrutura rodoviária de armazenamento e carregamento para que a alternativa ganhe escala.
O hidrogênio de baixo carbono tem aplicação na eletrificação das frotas por meio da tecnologia de células a combustível. A principal vantagem dessa alternativa é que ela produz eletricidade sem emissões poluentes, sendo a água o seu único subproduto.
Vantagem brasileira
Na corrida pela descarbonização, o combustível a célula a hidrogênio desponta como opção para substituir o óleo diesel. Em nações mais avançadas na transição energética, os veículos pesados movidos a combustíveis fósseis já enfrentam restrições de circulação.
De acordo com a gerente, a vantagem significativa do Brasil consiste na presença de uma matriz energética próspera, capaz de produzir e fornecer hidrogênio globalmente.
“A matriz elétrica brasileira é favorável, sendo 78% renovável e 22% não renovável. Temos todo o potencial para entregar e produzir hidrogênio para o Brasil e mundo”, destacou.
Erica Marcos participou de audiência pública na Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde (CEHV) do Senado, nesta quarta (16/8).
Entre as propostas em discussão, está o PL 725/22, que disciplina a inserção do hidrogênio como fonte de energia, sugere a adição obrigatória da molécula nos gasodutos brasileiros, com percentuais mínimos de 5% e 10% a partir de 2032 e 2050, respectivamente.
Maior autonomia
Em abril, a CNT lançou o relatório Hidrogênio Renovável, da série Energia no Transporte. O levantamento traz dados sobre a aplicação do H2 como rota para a modalidade rodoviária no Brasil e no mundo.
Segundo os dados da instituição, em comparação ao veículo 100% elétrico, o tempo de abastecimento do VECC é inferior e a autonomia é maior. São pontos positivos para frotas comerciais, que precisam operar continuamente.
O documento cita, como exemplo, o GenH2 Truck, da Mercedes-Benz, a ser lançado este ano. O caminhão a célula a combustível possui autonomia de 1.000 km, rodando com dois tanques de H2 líquido.
Considerando os motores a diesel + biodiesel, os VECC apresentaram uma redução significativa de GEE, aproximadamente 87% menores para caminhões e 89% menores para ônibus urbanos. O estudo analisou o ciclo de vida de emissões europeu.
Quanto ao registro de veículos pesados que utilizam o hidrogênio como propulsor, a China conta com 4.300 caminhões (50,6%) e 4.200 ônibus (49,4%), enquanto a Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão e Alemanha contam com apenas ônibus movidos a hidrogênio, com 100 unidades cada.
Já os registros de outras nações apontam para uma predominância do uso de célula a combustível como fonte energética no transporte coletivo de passageiros.
Demanda maior nos transportes
Apesar de 74% das indústrias estarem desenvolvendo iniciativas utilizando o hidrogênio sustentável, apenas 6% idealizam projetos focados em mobilidade.
As informações foram apresentadas pela especialista de Desenvolvimento Industrial do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Paula Bucchianeri, na CEHV, nesta quarta (16/8).
“Fizemos várias entrevistas e o setor que possui maior demanda hoje é o de transportes. Falamos com empresas de navios e automóveis, e, sem dúvida alguma, esse é um setor que será bastante impactado, junto com a agroindústria e siderurgia”, contou.
A maioria dos projetos miram a substituição dos combustíveis fósseis (55%), seguida pela produção de hidrogênio verde (29%) e produção de bens e equipamentos (10%).
O perfil da indústria mostra que 71% das empresas estão buscando recursos para implementar projetos de hidrogênio sustentável em seus negócios, enquanto 29% ainda não iniciaram uma preparação nesse âmbito.
“Nossa matriz elétrica é limpa, com uma baixa intensidade de carbono, e as empresas cada vez mais estão buscando a diminuição de emissão de carbono de captura de carbono […] Elas já estão em busca de recursos para implementar projetos de hidrogênio verde mas ainda não sabem como fazer isso”, disse.
Em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Senai trabalha em uma estratégia para fomentar novos modelos de negócio para a indústria utilizando o hidrogênio de baixo carbono.