Diálogos da Transição

Airbus: fim dos fósseis na aviação, só com hidrogênio

Setor aéreo aposta em biocombustíveis e hidrogênio renovável, mas terá desafio trilionário para substituir fósseis

Airbus afirma que fim dos derivados fósseis na aviação, só com combustíveis do hidrogênio. Na imagem: Projeto gráfico da Airbus de uma versão adaptada do superjumbo A380 para receber novo motor a hidrogênio (Foto: Divulgação)
Segundo a Airbus, o primeiro projeto para receber motor a hidrogênio será uma versão adaptada do superjumbo A380 (Foto: Divulgação)

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Editada por Nayara Machado
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Com meta de atingir zero carbono até 2050, a indústria da aviação tem pela frente um desafio trilionário para substituir o consumo de querosene fóssil nas aeronaves, a partir do desenvolvimento de novos combustíveis e tecnologias de propulsão.

No curto e médio prazo, biocombustíveis drop-in derivados de biomassa e resíduos, também conhecidos como SAF (sigla em inglês para combustíveis sustentáveis de aviação) prometem apoiar o setor nessa transição, com um potencial de reduzir até 65% da pegada de carbono.

Mas a longo prazo, a desfossilização completa da aviação dependerá do hidrogênio renovável, aposta a fabricante francesa de aeronaves Airbus.

“Estamos desenvolvendo a próxima tecnologia, que é a desfossilização real, o combustível que não tem carbono. O que tem mesmo zero emissão de carbono é o hidrogênio”, explicou Giberto Peralta, presidente da Airbus Brasil em entrevista à agência epbr em junho.

O executivo observa que ainda há um investimento grande a ser feito em tecnologias de motores e aplicações, para viabilizar comercialmente o abastecimento com hidrogênio líquido.

Em dezembro de 2022, a fabricante apresentou o motor de célula a combustível movido a hidrogênio que está desenvolvendo para suas aeronaves de emissões zero. A previsão de lançamento é 2035.

Paralelamente, estuda hubs de abastecimento em aeroportos ao redor do mundo.

“A produção de hidrogênio já existe e ela é relativamente dominada. Tem que melhorar a tecnologia dos motores, da aplicação. Eu faço um paralelo com o avião elétrico. Não existe avião elétrico porque não existe bateria que consiga manter a carga de altíssima densidade com peso baixo. Quando essa tecnologia acontecer, vai existir avião elétrico. Com o hidrogênio é a mesma coisa”, diz Peralta.

“Comercialmente, não existe tecnologia de manter hidrogênio na forma líquida para ser transportado dentro do avião. Essa tecnologia está sendo desenvolvida. Quando tiver, vai funcionar”, completa.

O executivo conta que a Airbus está trabalhando com universidades em diversas frentes para avançar nesse sentido. Hoje, um dos focos das pesquisas é no armazenamento do hidrogênio – uma realidade dentro do laboratório, mas inviável na escala comercial.

As promessas para 2035. Um estudo do Fórum Econômico Mundial aponta três modelos promissores de novas gerações de aeronaves para desfosilizar o setor, hoje responsável por 2% das emissões globais de gases de efeito estufa.

Para distâncias mais curtas, aeronaves elétricas com bateria. O relatório aponta que a eletrificação consegue eliminar as emissões de voos de até 400 km, aumentando para 600 km em 2050, desde que as baterias sejam carregadas com eletricidade renovável.

Um desafio, porém, é evitar que o carregamento ocorra diretamente nas redes elétricas, que em muitas partes do mundo continuarão dependentes de combustíveis fósseis durante as próximas décadas. Outro, é superar os impactos climáticos da mineração e outras etapas da produção de baterias.

Para distâncias médias, eletrificação com células a hidrogênio. Viagens de cerca de 2.000 km, com possibilidade de atingir 4.000 km, têm potencial de ser atendidas pelas células a combustível, eliminando a maior parte das emissões.

Uma incerteza aqui é sobre o vapor de água liberado na atmosfera, que poderia levar à formação de rastros significativos, mas o estudo diz ser difícil avaliar o impacto climático desses rastros.

Combustão direta do hidrogênio para qualquer distância praticada hoje. “As aeronaves de combustão de hidrogênio eliminariam as emissões de CO2 e de fuligem durante o voo, mas ainda produziriam emissões de óxidos de azoto (NOx), resultando num aumento do vapor de água em comparação com o combustível de aviação”, analisa o Fórum Econômico Mundial.

Assim como no caso das aeronaves com célula a combustível, os analistas apontam, no entanto, dificuldades em avaliar o impacto climático total dessa tecnologia relacionado aos rastros de vapor. Mas há a possibilidade de melhorias operacionais para reduzir ou eliminar essa formação.

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