BRASÍLIA – A Petrobras inaugurou, nesta sexta-feira (13/9), o Complexo de Energias Boaventura, novo nome do polo GasLub e terceiro batismo do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí (RJ).
É uma homenagem ao convento São Boaventura, ruínas de uma construção do século XVII, para abrigar uma ordem franciscana.
Transmitida ao vivo pela agência eixos (veja acima), a cerimônia, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), marcou o início das operações do gasoduto Rota 3 e da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN), que deve estar operacional nos próximos meses.
A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, anunciou durante o evento novos processos licitatórios para a continuidade das obras no complexo industrial.
Além de processar o gás natural do pré-sal que chegará a Itaboraí por meio do Rota 3, a Petrobras pretende construir na região um parque termelétrico e unidades de refino destinadas à produção de fertilizantes e lubrificantes. A expectativa é que esses projetos sejam detalhados a partir desta sexta-feira.
Em conversa com a eixos, a deputada estadual e presidente da Frente Parlamentar pela Retomada do GasLub, Verônica Lima (PT/RJ), afirmou que os novos certames vão priorizar a geração de empregos e renda na cidade de Itaboraí e no entorno. Somente na primeira etapa do projeto, 10 mil postos de trabalho foram criados.
Além disso, é possível que as regras dos futuros editais estejam em linha com a política de conteúdo local, com foco em investimentos na indústria naval.
“São processos licitatórios que vão ajudar a desenvolver essa região tão importante para o estado. Itaboraí precisa retomar o seu desenvolvimento [que foi abalado pelo declínio do antigo Comperj], várias empresas se instalaram na região apostando no sucesso do empreendimento da Petrobras, mas tiveram que sair ou fecharam as portas”, comentou a deputada fluminense.
Verônica participou das rodadas de negociação em Brasília para a inauguração da infraestrutura de gás natural do Polo GasLub. Foram várias audiências no Palácio do Planalto junto à Casa Civil de Rui Costa (PT) e com o próprio presidente Lula. A empreitada conta com apoio de parlamentares ligados ao tema, tanto do governo quanto da oposição.
Segundo Eduardo Pazuello (PL/RJ), em síntese, a retomada do Comperj “é extremamente benéfica para o estado do Rio, pois promete impulsionar o desenvolvimento econômico regional, gerar empregos e aumentar a oferta de combustíveis sustentáveis”.
O congressista da oposição, no entanto, alerta para os riscos associados à exclusividade da Petrobras na condução do complexo industrial. Ele está liderando um frente voltada à indústria de petróleo na Câmara dos Deputados.
“Para maximizar esses benefícios, é necessário aprender com os erros do passado e considerar parcerias que possam trazer eficiência e competitividade”, comentou.
Para Pazuello, a abertura para investidores privados poderia ampliar os investimentos em capex do novo Complexo de Energias Boaventura, tornando o projeto “mais dinâmico e competitivo”.
“Além disso, a participação de outros players poderia acelerar a adoção de soluções sustentáveis, garantindo que o complexo esteja alinhado com as tendências globais de transição energética.”
Gás novo no mercado só em outubro
A expectativa é que o gás do Rota 3 comece a chegar ao mercado, de fato, na primeira quinzena de outubro.
A UPGN de Itaboraí, a maior do país, terá capacidade para processar 21 milhões de m³/dia de gás da Bacia de Santos. E será importante para conter a escalada da reinjeção provocada pelo atraso na finalização das obras do projeto.
Isso porque alguns campos offshore conectados ao Rota 3 e que deveriam estar escoando o gás até a costa estão reinjetando em função da indisponibilidade de infraestrutura de transporte do energético.
Com a entrada em operação da UPGN, a Petrobras espera uma redução imediata da reinjeção – ainda que não resolva, estruturalmente, a questão.
É uma pauta cara ao governo. Reduzir os volumes injetados nos reservatórios e aumentar a oferta da molécula é uma das bandeiras do programa Gás para Empregar e do novo decreto da Lei do Gás.
A estatal espera que, com a UPGN do Polo GasLub, parte do GNL importado – e mais caro que o gás nacional – seja substituída pelo gás do pré-sal, com reflexos esperados nas negociações de preços em curso com as distribuidoras.
Após a conclusão das obras de todo o Complexo de Energias Boaventura, o conjunto de unidades terá capacidade aproximada de produzir 12 mil barris por dia (bpd) de óleos lubrificantes de Grupo II, 75 mil bpd de diesel S-10 e 20 mil bpd de querosene de aviação (QAV-1). A planta vai operar em sinergia com a Refinaria Duque de Caxias (Reduc).
A saga do Comperj
A UPGN de Itaboraí é a primeira grande entrega da Petrobras no antigo Comperj. O projeto sairá do papel 16 anos depois que Lula, à época no segundo mandato (2006-2009), começou a executar as obras daquele que seria o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, mas que se tornou nos governos seguintes em algo bem diferente de tudo o que se planejou durante o período de bonança da estatal.
O Comperj era tido como uma das marcas da gestão desenvolvimentista da Petrobras nos anos 2000, mas se converteu num dos maiores símbolos de desperdício de recursos e corrupção da história da estatal.
Ainda no governo Dilma (PT), entrou no olho do furacão das investigações da Operação Lava Jato. Os casos de corrupção nas obras do complexo foram, aliás, a base da primeira condenação de Sérgio Cabral – e da derrocada do ex-governador do Rio e dos governos do MDB no Rio.
O projeto petroquímico acabou desidratado pelos governos e gestões seguintes da Petrobras.
- Combustíveis e Bioenergia
- Empresas
- Mercado de gás
- Petróleo
- Política energética
- Vídeos
- Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj)
- Comperj
- Diesel S10
- Distribuição de combustível
- Governo Lula
- Itaboraí
- Operação Lava Jato
- Petrobras
- Polo GasLub
- Pré-sal
- Processamento de gás
- Querosene de aviação (QAV)
- Refinaria Duque de Caxias (Reduc)
- Reinjeção de gás natural
- Rio de Janeiro
- Rota 3
- UPGN
- Verônica Lima