BUENOS AIRES — Os investimentos em infraestrutura necessários para suportar o aumento das exportações firmes de gás natural da Argentina ao Brasil demandarão contratos de longo prazo entre agentes privados. E, para que a integração regional seja bem-sucedida, será preciso uma “coordenação regulatória” entre os países envolvidos, afirmou o vice-presidente Comercial da Tecpetrol, Leopoldo Macchia.
Em entrevista ao estúdio eixos, durante o Midstream & Gas Day 2025, evento organizado pelo Econojournal, em Buenos Aires, Macchia disse que a construção de uma demanda firme brasileira por gás argentino passa pelo trabalho de construção de confiança entre as partes.
“Não é só setor privado. Os contratos são entre os agentes privados, mas precisamos de um marco de proteção entre país-país que dê alguma forma de segurança e previsibilidade”, comentou.
Ele citou, por exemplo, a necessidade de se avançar numa coordenação entre os países para baixar os custos envolvidos na movimentação de gás na malha de gasodutos de Argentina-Bolívia-Brasil.
O executivo reconhece o desafio de se viabilizar contratos de exportação de longo prazo, mas acredita que o gás argentino tem seu espaço no mercado brasileiro.
“Com o declínio da Bolívia, o Brasil vai precisar de uma fonte de compensação desse gás”, disse.
Uruguaiana é rota mais segura, diz executivo
Ao comentar sobre as diferentes alternativas de rotas de exportação de gás argentino ao Brasil, Macchia destacou que a conclusão da integração via Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, desponta como uma alternativa mais segura, por ser uma via direta, sem intermédio de outros países.
“A nível de segurança energética, o que vejo como mais seguro é a conexão Uruguaiana-Porto Alegre”.
Em 2024, os governos do Brasil e Argentina anunciaram a criação de um grupo de trabalho para estudos conjuntos das alternativas de infraestruturas necessárias para interconectar os gasodutos existentes de cada país.
As rotas a serem avaliadas incluem:
- o uso da infraestrutura existente do Gasbol
- interligação via Uruguaiana
- a rota pelo Chaco Paraguaio
- uma nova rota pelo Uruguai até o Rio Grande do Sul
- e a importação por navios de gás natural liquefeito (GNL)
Hoje, a malha da Transportadora Sulbrasileira de Gás (TSB), em Uruguaiana (RS) é a única conexão direta brasileira à Argentina, mas o gasoduto, inacabado, distribui gás apenas na fronteira, para a UTE Uruguaiana, da Âmbar Energia.
O gasoduto Uruguaiana–Triunfo, o trecho pendente de conclusão do projeto da TSB, tem cerca de 600 quilômetros de extensão e demandará investimentos bilionários.
O Plano Indicativo de Gasodutos de Transporte (PIG), publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em fevereiro, estimou em R$ 6,8 bilhões o projeto – sem considerar investimentos adicionais na duplicação do Gasbol, para superar gargalos na região Sul.
Tecpetrol faz primeiros testes no Brasil
A Tecpetrol, empresa do Grupo Techint (controladora da Ternium, Usiminas e Tenaris), anunciou em abril a sua primeira exportação de gás ao Brasil, em regime de testes.
- A produtora argentina enviou gás à Edge, comercializadora do grupo Compass, com gás oriundo da Bacia Noroeste;
- e depois à MGás (joint venture entre o grupo J&F e a Inner Grow).
A Tecpetrol possui produção própria de 25 milhões de m3/dia na Argentina, onde opera dois campos de gás convencional na Bacia Noroeste e o principal campo de gás não convencional do país: Fortín de Piedra, localizado na Bacia de Neuquén.