Combustíveis e Bioenergia

Paulo Guedes descarta aplicar subsídios aprovados no Senado, com apoio do governo

Jair Bolsonaro (PL) pessoalmente tem cobrado medidas que vão na contramão da política de Guedes

Guedes descarta aplicar subsídios aprovado no Senado, com apoio do governo
“O que foi aprovado hoje é muito importante para o país", diz Bento Albuquerque (Agência Senado)

BRASÍLIA e RIO — O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou logo após a aprovação do PL 1472/2021 no Senado Federal que apenas se a crise provocada pela guerra na Europa se intensificar, o governo começará a “pensar em subsídio” para o diesel.

O projeto aprovado pelo Senado Federal conta um vale-combustível proposto pelo próprio governo federal aos parlamentares e inclui a criação de uma espécie de fundo para subsidiar diesel, gasolina e GLP, a conta de estabilização de preços.

O texto foi relatado pelo senador Jean Paul Prates (PT/RN), em uma articulação que envolveu as lideranças do governo federal na casa, base e partidos do centrão.

Jair Bolsonaro (PL) pessoalmente tem cobrado medidas que vão na contramão da política de Guedes e de sua equipe econômica: subsídios, seja na forma de aportes ou desoneração; e o fim da política de preços da Petrobras.

A epbr apurou que a inclusão do vale-combustível no PL 1472/2021 partiu do próprio governo federal, após reuniões com Jean Paul Prates e outros senadores.

Uma versão dos artigos que criam o novo auxílio partiu de dentro do Ministério de Minas e Energia, comandado por Bento Albuquerque, que participou da coletiva na noite desta quinta (10/3) ao lado de Guedes.

“Se isso [a crise na Europa] se resolver em 30, 60 dias, estaria mais ou menos endereçada. Agora, vai que isso se precipita, vira uma escalada… Aí, sim, começamos a pensar em subsídio para diesel“, afirmou Paulo Guedes.

Sobre a aplicação dos recursos da conta prevista no PL 1472/2021, Guedes disse que “é só uma ferramenta”, que não está no “mapa” do governo.

“A conta de compensação é só uma ferramenta. O que está se dizendo é o seguinte: se a guerra durar seis meses, e se essa guerra escalar, se realmente o petróleo for para 140, 150 [dólares]? O senado está falando o seguinte: tem aqui uma ferramenta se vocês precisarem”.

“Não está hoje no nosso mapa de atuação”, reforçou. Se o petróleo cair, a medida não será necessária e será “uma ferramenta que fica ali do lado”, disse Guedes.

Bento Albuquerque, por sua vez, elogiou a proposta. O Ministério de Minas e Energia defende a criação da conta para controle de volatilidade de preços desde 2020.

“O que foi aprovado hoje é muito importante para o país porque evita justamente a volatilidade dos preços dos combustíveis, tanto para cima, como para baixo”, disse o ministro de Minas e Energia.

Segundo o ministro, a desoneração que pode resultar dos projetos em tramitação é capaz de mitigar apenas uma parte do aumento do diesel anunciado pela Petrobras nesta quinta (10/3).

O que foi aprovado nesta quinta (10)

  • Câmara e Senado aprovaram o PLP 11/2020, que promove uma reforma do ICMS, congela alíquotas nos estados e autoriza governo federal e governadores a desonerar os combustíveis. Projeto segue para sanção presidencial, mas estados falam em questionar a medida no STF.
  • O Senado Federal aprovou e enviou para a Câmara o PL 1472/2021, que cria um novo vale-combustível de até R$ 300 por mês, com R$ 3bilhões de orçamento e promove mudanças de longo prazo: cria diretrizes para políticas de preços e uma conta de estabilização de preços.

Segundo cálculos citados por Guedes, o aumento de R$ 0,90 por litro de diesel será parcialmente mitigado por uma redução de R$ 0,60, sendo R$ 0,33 de redução de PIS/Cofins (federal) que vão custar R$ 18 bilhões a R$ 19 bilhões para a União.

Com a desoneração nos estados, seria possível baratear em outros R$ 0,27 por litro, ao custo de R$ 15 bilhões a R$ 16 bilhões.

Nada está garantido, já que a tramitação ainda depende da Câmara.

Projeto cria vale-combustível

Lideranças do governo articularam a criação de um novo programa social para ajudar beneficiários do Auxílio-Brasil, com um vale-combustível. Foi incluído no PL 1472/2021.

Segundo o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB/TO), a intenção é criar o novo benefício ainda neste ano — o que pode entrar em choque com a legislação eleitoral.

O entendimento do relator dos textos, Jean Paul Prates (PT/RN), é que a proposta só poderia ser executada a partir de 2023.

A proposta é pagar parcelas de até R$ 300 para motoristas autônomos de transporte individual e motociclistas que também sejam beneficiários do programa de transferência de renda do governo.

Política de preços na lei

O texto cria a Conta de Estabilização de Preços de Combustíveis (CEP-Combustíveis) e uma política de preços interna, que terá como base os custos internos de produção além do valor internacional.

A conta será abastecida a partir de um sistema de bandas de preços, a ser regulamentado pelo governo federal.

Em geral, é um plano antigo do Ministério de Minas e Energia (MME): quando o preço do petróleo dispara, o aumento da arrecadação e lucros da Petrobras repassados para União na forma de dividendos é usado para dar descontos nos preços.

Quando os preços do mercado internacional estiverem abaixo do limite inferior estipulado na regulamentação, os recursos serão acumulados na conta.

A pedido da Economia, o relator alterou a possibilidade de financiamento adicional da conta. Há agora o limite para o uso de dividendos da Petrobras — será usado o excedente em relação ao que for previsto no Orçamento Anual.

Aumento do vale-GLP

Também amplia o tamanho do programa Gás para os Brasileiros para que beneficie 11 milhões de famílias, que será custeado com recursos do bônus de assinatura do leilão de Sépia e Atapu.

O Gás para os Brasileiros foi criado ano passado a partir de um projeto de Carlos Zarattini (PT/SP). Inclui nos benefícios pagos a famílias de baixa renda um adicional correspondente a 50% do preço médio do botijão de gás de cozinha (GLP) de 13 kg, a cada dois meses.

Pelo orçamento atual, de R$ 300 milhões para o primeiro bimestre deste ano, a cobertura é de cerca de 5 milhões de famílias.

Reforma do ICMS

O PLP 11/20 foi aprovado mesmo sem acordo entre os governadores e pode ser votado ainda hoje na Câmara dos Deputados.

O texto regulamenta a cobrança do ICMS sobre os combustíveis ao unificar as alíquotas, com a criação de um órgão de compensação e inclui a possibilidade de desoneração dos impostos federais para os combustíveis.

As novas alíquotas do tributo estadual não poderão sofrer reajustes no primeiro ano e, posteriormente ao prazo, serão limitadas a revisões semestrais.

Foi incluído durante as negociações a pedido do próprio governo, especialmente da equipe econômica. A pasta tenta apostar na desoneração do PIS/Cofins tanto para operações internas como importações como forma de suavizar a alta dos preços dos combustíveis.

Também autoriza estados a instituir o tributo de forma ad-rem (por valor fixo, e não percentual) e monofásica para a gasolina, etanol anidro, diesel, biodiesel, GLP e QAV. As mudanças teriam que ser discutidas e aprovadas no Comsefaz.

Como forma de transição até a efetivação das novas regras, o texto aprovado estabelece o congelamento do ICMS do diesel até o final de 2022. O valor de base será uma média das alíquotas dos últimos cinco anos.

Os chefes dos estados tentaram incluir uma emenda para aliviar a arrecadação até o final do ano ao usar o parâmetro de novembro de 2021 para a cobrança do ICMS de todos os combustíveis — o que supostamente travaria a arrecadação na alta — mas não foi aceita pelo relator.

Segundo Prates, a emenda é pior para os próprios estados porque restringe a possibilidade de aumento na receita com outros combustíveis além do diesel.

É na proposta de Reforma Tributária que os governadores têm defendido ser o melhor espaço para discutir mudanças estruturais na cobrança do ICMS, desde que preservada a autonomia dos estados na escolha do valor da alíquota.

Em aceno aos governadores, a matéria prevê a chance de reajustes extraordinários, fora dos prazos estipulados, caso o peso da alíquota ad-rem tenha uma disparidade de 5% ou mais, para cima ou para baixo, em relação ao preço final dos combustíveis aos consumidores.