Novo Marco Legal

Ministério do Meio Ambiente diz que PL do licenciamento é inconstitucional

Ministério chefiado por Marina Silva divulgou nota nesta quarta (21), após avanço do projeto no Senado.

Marina Silva participa da primeira reunião extraordinária de 2025 do CNPE, no Ministério de Minas e Energia, Brasília (DF), em 18 de fevereiro (Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Marina Silva (Rede) participa da primeira reunião extraordinária de 2025 do CNPE, em 18 de fevereiro (Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil)

BRASÍLIA – O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) divulgou nota nesta quarta-feira (21) em que manifesta oposição à aprovação da nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental (PL 2159/2021).

A pasta, comandada por Marina Silva (Rede), diz que as propostas afrontam a Constituição Federal e violam o princípio da proibição do retrocesso ambiental. Veja a nota no site do ministério.

A posição contrária do MMA ao projeto cita decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a inconstitucionalidade da Licença por Adesão e Compromisso (LCA) para atividades de médio impacto ambiental.

O ministério classificou o PL como “omisso em relação à crise climática” e disse que a proposta terá impacto negativo para a gestão ambiental, além de provocar aumento na judicialização, tornando o processo ambiental mais moroso e oneroso para o Estado e sociedade.

O projeto está na pauta do plenário do Senado Federal desta quarta (21/5), com grande apoio para sua aprovação.

Autolicenciamento é ponto crítico

Apontado pelo MMA como um dos pontos mais críticos do PL, a aplicação da LAC simplifica o licenciamento, baseada em autodeclaração. “Na prática, o texto permitiria o uso da LAC para um percentual expressivo de empreendimentos que atualmente são licenciados”, diz a nota.

“Além disso, esses empreendimentos seriam monitorados por amostragem, dispensando a necessidade de fiscalização, pelo órgão ambiental, de todos os empreendimentos licenciados por essa modalidade”, aponta a nota.

Para o MMA, a LAC deveria ser adotada somente para projetos de pequeno porte, baixo impacto e que não envolvam áreas sensíveis, sempre com verificação do Relatório de Caracterização do Empreendimento (RCE) por parte do órgão licenciador.

No Senado, emendas de Jaques Wagner (PT-BA), Randolfe Rodrigues (PT-AP) e Eliziane Gama (PSD-MA), que foram parcialmente acatadas, definem que a LAC só será permitida para empreendimentos considerados de pequeno ou médio porte e baixo ou médio potencial poluidor — e nos quais a entidade licenciadora não tiver identificado fragilidade ambiental.

“Para o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), a LAC deveria ser adotada somente para projetos de pequeno porte, baixo impacto e que não envolvam áreas sensíveis, sempre com verificação do Relatório de Caracterização do Empreendimento (RCE) por parte do órgão licenciador”, diz a nota.

O que diz o Meio Ambiente sobre a Lei Geral do Licenciamento Ambiental

Licença por Adesão e Compromisso (LAC). “Um dos pontos mais críticos do PL é a aplicação da Licença por Adesão e Compromisso (LAC), modalidade simplificada de licenciamento baseada na autodeclaração do empreendedor”, diz o MMA.

  • O problema está na permissão que projetos de médio porte e potencial poluidor utilizem o mecanismo de autolicenciamento, fiscalizados por amostragem pelos órgãos ambientais.
  • A LAC valeria para duplicação de rodovias e dragagens, “inclusive em regiões sensíveis e habitadas por comunidades vulneráveis, que podem ser autorizados sem qualquer análise técnica prévia, aumentando o risco de danos ambientais e sociais”, diz o MMA. 

Fragilização do SISNAMA e do ICMBio. Segundo a pasta, o PL desidrata as atribuições dos órgãos colegiados do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), como o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e os conselhos estaduais.

  • “Ao transferir competências decisórias para entes federativos de forma descoordenada, pode estimular uma “concorrência antiambiental” entre estados e municípios, que, no intento de atrair mais investimentos, poderão oferecer flexibilizações e padrões menos rigorosos que os municípios ou estados vizinhos, comprometendo a uniformidade dos critérios e a efetividade da fiscalização”.
  • O texto permite que empreendimentos em unidades de conservação sejam licenciados sem a manifestação obrigatória e prévia do ICMBio.
  • Medida similar é aplicada às manifestações da Funai, para projetos com interferência em terras indígenas, contrariando a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.

Omissão ante impactos indiretos e sinérgicos. “A medida compromete a análise de impactos cumulativos, como desmatamento, pressão sobre comunidades indígenas, contaminação de corpos d’água e grilagem de terras — frequentemente decorrentes de grandes empreendimentos como hidrelétricas, estradas e portos“. 

Condicionantes. O PL exige a “comprovação do nexo causal direto” de impactos; do contrário, empresas podem questionar as condicionantes ambientais, além de medidas preventivas e compensatórias.

  • A pasta cita o caso da barragem de Fundão, em Mariana (MG), “em que a dificuldade em atribuir responsabilidade por impactos indiretos comprometeu a reparação de danos às comunidades afetadas e ao meio ambiente”. 

A possibilidade de que o empreendedor questione condicionantes sob o argumento de não ter ingerência sobre terceiros ou poder de polícia traz uma ampla gama de possibilidades de questionamentos com o potencial de gerar dúvidas, resultando em insegurança jurídica e maiores prazos para o processo. 

Apoio do governo à reforma do licenciamento ambiental

Em audiência na Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado na terça (20), o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB/AL) afirmou que a aprovação da lei dará ao presidente Lula respaldo legal e clareza técnica para decidir sobre investimentos que enfrentam resistência por questões ambientais.

“O presidente Lula pensa como a gente. Agora, ele tem um estilo próprio. Se a legislação der a ele a opção de decidir, com uma lei mais clara que simplifique o licenciamento ambiental, certamente ele decidirá levando em consideração todos os temas”, disse Renan Filho.

O ministro também criticou o que chamou de “barreiras ideológicas” no debate sobre licenciamento ambiental de obras. “Um país pobre como o Brasil não pode permanecer com pessoas em dificuldade porque a gente não faz investimentos”.

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