NESTA EDIÇÃO. Responsável por regulamentar a concessão de R$ 18,3 bilhões em incentivos ao hidrogênio no Brasil, Ministério da Fazenda afirma que prioridade é descarbonizar a indústria.
País tem mais de R$ 188,7 bilhões em investimentos privados anunciados para desenvolver o setor nos próximos anos.
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A descarbonização da indústria brasileira deve ser o foco dos subsídios que serão concedidos ao hidrogênio de baixo carbono nos próximos anos. É o que promete o Ministério da Fazenda, responsável pelo decreto que irá regulamentar a concessão de R$ 18,3 bilhões no Programa Nacional de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC).
Na quinta (13/3), o governo organizou um workshop em Brasília para discutir o tema, que divide diferentes elos da cadeia.
Hoje, a maior parte dos empreendimentos de produção em larga escala de hidrogênio verde em desenvolvimento no Brasil está olhando para a exportação, em especial para o mercado europeu.
Mas esse foco na exportação do energético, sem adensamento de cadeias indústrias no Brasil, é visto como pouco vantajoso para o país.
“O objetivo do governo e do Ministério da Fazenda, em especial, é priorizar a descarbonização da indústria nacional”, garante o subsecretário de Acompanhamento Econômico e Regulação, Gustavo Henrique Ferreira.
A concessão de crédito se dará por meio de um processo concorrencial. E, segundo Ferreira, existe a possibilidade de realização de um leilão voltado exclusivamente para projetos de exportação. Leia na cobertura de Gabriel Chiappini
Entre os mecanismos para viabilizar o acesso aos incentivos, o governo estuda diferentes modelos de leilão, como certames específicos para produtores, para compradores ou combinados, nos quais contratos de longo prazo entre ambos sejam apresentados previamente.
Farinha pouca, meu pirão primeiro
Até agosto de 2024, os projetos de hidrogênio anunciados no Brasil somavam R$ 188,7 bilhões em previsão de investimentos, de acordo com um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A maior parte no Porto de Pecém, no Ceará, que está atraindo aproximadamente R$ 110,6 bilhões.
São investimentos de capital intensivo, que demandarão uma série de suportes para sair do papel: desde mecanismos de financiamento até infraestrutura de transmissão, passando por profissionais qualificados e garantia de demanda para o insumo de baixo carbono.
Siderurgia, refino de combustíveis para o transporte aéreo e marítimo, abastecimento de caminhões pesados, fertilizantes e indústria química são alguns potenciais consumidores.
O programa de incentivos do governo tem como missão viabilizar essa indústria no país, mas o volume disponível é apenas uma fração do montante que esse setor vai movimentar.
E mesmo entre as associações que representam a cadeia há diferentes visões sobre o que deve ser priorizado.
Para a Associação Brasileira de Hidrogênio (ABH2), por exemplo, os incentivos devem favorecer projetos que ofereçam custos acessíveis ao consumidor final, independente da intensidade das emissões de carbono, considerando o limite de 7 kg de CO2 por H2 produzido, estabelecido por lei.
Vai de encontro à visão da Associação Brasileira das Indústrias de Hidrogênio Verde (ABIHV), para quem o foco deve ser a substituição de combustíveis fósseis, dando exclusividade, portanto, para as rotas renováveis.
Paralelamente, o setor químico tem como preocupação garantir que o subsídio fique no Brasil, e incentive grandes consumidores indústrias a descarbonizar suas atividades, enquanto fabricantes de equipamentos querem garantias de conteúdo local – o que pode favorecer a eletrólise com renováveis, mas também as rotas que usam etanol e biometano.
Cobrimos por aqui
Curtas
ZPE para hidrogênio. O Conselho Nacional das Zonas de Processamento de Exportação (CZPE) aprovou na quarta (12/3) a instalação de um projeto para produção de hidrogênio e amônia verdes, com capacidade de produção de 3 GW ao ano, na ZPE de Parnaíba, no Piauí, pelo grupo espanhol Solatio. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a iniciativa deverá movimentar cerca de R$ 27 bilhões em investimentos.
Impacto ambiental. A demanda de distribuidoras de combustíveis para suspender a mistura de biodiesel no diesel, por até 90 dias, resultaria na retirada do mercado de 2,4 bilhões de litros do biocombustível, aumentando as emissões de CO2 em 4,5 milhões de toneladas pelo maior consumo de diesel fóssil, calcula a produtora de biodiesel Binatural.
Transição na mineração. Levantamento da consultoria EY identificou que a transição energética está entre as principais preocupações do mercado de mineração brasileiro, ao lado de mudanças climáticas e meio ambiente. A lista de riscos indicados pelos executivos também inclui aumento de custos, produtividade e esgotamento de recursos e reservas.
COP30. Uma rodovia de quatro pistas que corta dezenas de milhares de hectares de floresta amazônica protegida está sendo construída para a cúpula do clima que será sediada por Belém (PA), em novembro.
O objetivo é facilitar o trânsito na cidade, que receberá mais de 50 mil pessoas — incluindo líderes mundiais. Mas enquanto o governo estadual apregoa as credenciais “sustentáveis” da rodovia, moradores e conservacionistas estão indignados com o impacto ambiental. (BBC)
Financiamento climático. O quinto fundo flagship (CI V) da Copenhagen Infrastructure Partners (CIP) ultrapassou a captação de € 12 bilhões em recursos. A carteira conta com mais de 50 projetos em estágio de desenvolvimento em áreas como eólica, solar fotovoltaica e armazenamento em baterias. As iniciativas serão implementadas em países de baixo risco da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Clima extremo. A Agência Espacial dos Estados Unidos, a Nasa, anunciou nesta quinta-feira (13/3), que o nível global do mar apresentou uma elevação “inesperada” em 2024, sobretudo por causa do aquecimento das águas dos oceanos. Segundo a análise, a taxa de elevação foi de 0,59 centímetro, bem acima da projeção inicial, de 0,43 centímetro.
Empreendedoras climáticas. Uma organização de mulheres empreendedoras no Brasil está provando que as soluções climáticas mais eficazes vêm de quem vive na linha de frente das mudanças. A Quintessa, uma empresa certificada B Corp, está capacitando soluções lideradas por mulheres e impulsionadas pela comunidade, desde sistemas de conservação de água até a agricultura resiliente ao clima, em algumas das regiões mais vulneráveis do Brasil.
Tudo na Circularidade é o nome do programa anunciado pelo BNDES na quinta (13/3) para apoiar cooperativas de catadores de materiais recicláveis. Objetivo é fortalecer a capacidade produtiva e ampliar a comercialização e o rendimento dessas entidades no mercado de reciclagem. A iniciativa de economia circular conta com R$ 20 milhões do Fundo Socioambiental para contratação de uma entidade gestora. A seleção pública está aberta até 5 de maio. (Agência Brasil)
Artigos da semana
Leilão de hidrogênio no Brasil deve estar atento à demanda doméstica Mandatos para uso de hidrogênio de baixo carbono para produção de novos combustíveis são alternativa para induzir demanda, escreve o colunista Gabriel Chiappini
Biocombustíveis, segurança energética e alimentar Produção de biocombustíveis pode aumentar oferta de alimentos e gerar renda no campo, desde que integrada a práticas agrícolas sustentáveis e políticas públicas eficientes, escreve o colunista Marcelo Gauto
Data centers e energia: oportunidade ou armadilha para o Brasil? Potencial de energia limpa pode posicionar Brasil como hub global de data centers, mas especialistas alertam para impactos ambientais e necessidade de priorizar descarbonização indústria, escreve Clauber Leite
Quais são os critérios e premissas por trás do diferimento tarifário da Light? Paulo Steele e Helder Sousa analisam as propostas e possíveis efeitos da rescisão tarifária da distribuidora do Rio