diálogos da transição

Do G20 para o Brics: Brasil retoma agenda de bioenergia e transição justa

Entre as prioridades estão a harmonização regulatória para novos combustíveis e o acesso universal à eletricidade

Mariana Espécie, assessora especial do Ministério de Minas e Energia (MME) | Foto: Brics Brasil
Mariana Espécie, assessora especial do Ministério de Minas e Energia (MME) | Foto: Brics Brasil

NESTA EDIÇÃO. Presidência brasileira estende pauta do G20 de transições energéticas para a Cooperação de Energia do Brics.

Novos combustíveis sustentáveis e pobreza energética estão entre os focos.

Combustíveis fósseis devem permanecer tabu.


EDIÇÃO APRESENTADA POR

A agenda energética do Brics em 2025, sob a presidência brasileira, deve seguir os passos do G20 de 2024 e incluir entre as prioridades a harmonização regulatória para novos combustíveis e o acesso universal à eletricidade, além de blindar os fósseis.
 
O Brics, composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e, recentemente, seis novos membros – Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã – reúne 48,5% da população mundial e responde por mais da metade do crescimento da economia global, com taxas médias de crescimento entre 3% e 5% (a média global é de 2,5% a 3%).
 
São economias grandes, posicionadas entre os maiores emissores atuais de gases de efeito estufa, mas que guardam diferenças significativas em relação a países do Norte que também compõem o G20.
 
Como presidente do fórum de países ricos em 2024, o Brasil conseguiu colocar foco em discussões que o interessa, como reconhecimento do papel da bioenergia na descarbonização dos transportes e a transição justa e acessível – acolhendo diferentes rotas.
 
Agora, o país quer estender esse diálogo para o bloco de emergentes.
 
“As atividades que norteiam as discussões dentro da Cooperação de Energia [do Brics] foram definidas em 2020 e tem um plano de trabalho que orienta essas discussões. Este ano, o principal interesse da presidência brasileira é atualizar essas discussões”, explica Mariana Espécie, assessora especial do Ministério de Minas e Energia (MME).
 
Espécie, que também foi coordenadora do Grupo de Trabalho de Transições Energéticas do G20, afirma que o objetivo é trazer uma perspectiva voltada para os desafios que os cenários de energia do futuro vão demandar dos países que integram o bloco.
 
Ela conversou com jornalistas na manhã desta terça (25/2), após o primeiro encontro da Cooperação de Energia do Brics.
 
“Quando falamos da cadeia de novos combustíveis, por exemplo, [queremos] pensar em discussões sobre certificação, harmonização regulatória para que esses combustíveis possam ter, por exemplo, suas reduções de emissões devidamente contabilizadas”, exemplifica.
 
O tema, que conseguiu espaço tímido na declaração final do G20 de 2024, busca agora no Brics um posicionamento capaz de ampliar parcerias no Sul Global.
 
Entre as possíveis entregas do grupo estão dois relatórios com experiências dos membros em combustíveis novos e renováveis e serviços energéticos para combate à pobreza.



Essa é a mensagem que deve nortear os trabalhos do grupo de energia do Brics, sinalizou na mesma coletiva, o diretor do Departamento de Energia do Itamaraty, João Marcos Paes Leme.
 
“As duas coisas são imperativas. Você não precisa abrir mão de uma para ter a outra, ao contrário, elas são frequentemente complementares. A transição energética implica, certamente, desafios muito particulares para os países em desenvolvimento que têm menos acesso a financiamento. Por outro lado, oferece uma quantidade enorme de oportunidades econômicas para um novo paradigma que está se formando nessa área”.

  • África do Sul e China são exemplos dessas diferenças. Enquanto no país africano a energia é cara e o acesso falho, a nação asiática é recordista em expansão renovável e tem impulsionado a queda de custos em tecnologias solares e de armazenamento. 

Na prática, significa que não devemos esperar grandes ambições em relação à ‘transição para longe dos combustíveis fósseis’ necessária para limitar as mudanças climáticas. 
 
O argumento é que muitas tecnologias para substituir carvão e petróleo ainda não estão disponíveis ou exigem investimentos fora do alcance de parte dos membros.

Os encontros começaram nesta terça (25/2) em Brasília. Durante a abertura da 1ª Reunião de Sherpas do Brics, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, defendeu o papel do fórum na promoção de uma nova ordem mundial, em meio a tensões geopolíticas e rápidas transformações tecnológicas – envolvendo seus próprios membros, aliás.
 
A intenção da presidência brasileira é atuar em três áreas centrais: reforma da governança global, cooperação do Sul-Sul e uma parceria do Brics para o desenvolvimento social, econômico e ambiental.
 
As prioridades são seis: cooperação em saúde global; comércio, investimento e finanças; combate à mudança do clima; governança da inteligência artificial; reforma do sistema multilateral de paz e segurança; e desenvolvimento institucional do Brics.
 
Estão previstas mais de 100 reuniões ministeriais e técnicas, que deverão ocorrer entre fevereiro e julho de 2025, em Brasília. Já a Cúpula dos Líderes está programada para julho e deve dar indicativos da posição que o grupo deve defender na COP30, também sob a presidência brasileira, em novembro.

Em novembro de 2025, Belém, no Pará, receberá delegações do mundo inteiro para discutir a próxima rodada de contribuições ao Acordo de Paris, com foco no corte de emissões até 2035.
 
Um ponto que frustrou emergentes na COP29, do Azerbaijão, o financiamento climático deve seguir na agenda da COP30 com pressão renovada pelo Brics.
 
Na segunda (24/2), o embaixador Maurício Lyrio, sherpa do Brics pelo Brasil, disse que a presidência buscará uma coordenação maior entre os países, para pressionar por mais recursos no combate à mudança do clima. A ideia é que o grupo leve uma posição conjunta para a COP30.
 
Além disso, instituições de financiamento multilaterais, como o Banco do Brics, e regionais, como o BNDES, devem ser engajadas nessas discussões sobre como mobilizar recursos para que economias emergentes acelerem suas transições.


Desconectados. A preocupação com o descasamento entre o cronograma de expansão e adequação das linhas de transmissão de energia e os subsídios previstos no Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixo Carbono é uma das principais pautas da Associação Brasileira do Hidrogênio Verde (Abihv) para 2025. Leia na entrevista com Fernanda Delgado, presidente da entidade.

Importações suspensas. O governo federal prorrogou por 180 dias o prazo do grupo de trabalho responsável por avaliar os impactos da importação de biodiesel e do Selo Biocombustível Social na mistura do diesel vendido no Brasil. Com isso, fica suspensa a possibilidade de importação do biocombustível até agosto deste ano. 

China contra a poluição. A China pretende eliminar efetivamente a poluição atmosférica grave até o final de 2025, à medida que as autoridades intensificam os esforços de controle. A ação inclui melhorias nos sistemas de previsão da qualidade do ar e alerta precoce, além de aprimoramento na gestão de partículas nocivas transportadas pelo ar (PM2,5) e ozônio. (Reuters)

COP da biodiversidade. Empresas que usam a codificação genética do mundo natural para criar medicamentos e cosméticos enfrentaram novos apelos nesta terça (25) para ajudar a proteger esse recurso, com o lançamento de um fundo específico na COP16. (Reuters)

Newsletter diálogos da transição

Inscreva-se e fique por dentro de tudo sobre Transição Energética