NESTA EDIÇÃO. Distribuidoras planejam investir R$ 30 bilhões por ano até 2027 para adaptar infraestruturas a eventos climáticos no Brasil.
Cientistas apontam que tempestades e ondas de calor devem ser mais frequentes e severas, conforme o mundo quebra recordes consecutivos de aumento de temperatura.
NDCs são oportunidade para incorporar transição energética com resiliência.
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A era dos extremos climáticos já chegou ao Brasil e o setor elétrico está sentindo o peso disso no seu planejamento para os próximos anos.
Segundo a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), as concessionárias já anunciaram investimentos de R$ 30 bilhões por ano até 2027, com foco na redução das interrupções no fornecimento de energia, a exemplo dos apagões durante tempestades.
Cerca de 40% desse montante será destinado à resiliência das redes. Os valores desembolsados são duas vezes maiores do que se investiu entre 2022 e 2023 para modernizar as redes, mostra reportagem de Daniel Cardozo.
O movimento ocorre em meio à iminência de renovação de contratos – 21 concessionárias têm contratos encerrando entre 2025 e 2031 –, regras mais rígidas do governo federal para os aditivos, e previsões de tempestades mais frequentes e severas, assim como ondas de calor e períodos de seca mais intensos.
Publicada final de janeiro, análise do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) calcula que o Brasil ficou 0,79ºC mais quente no ano passado, com a maior parte do país registrando anomalias de temperatura acima de 2°C.
Isso se traduziu, no nosso dia a dia, em 578 municípios relatando cerca de R$ 20 bilhões em prejuízos relacionados aos eventos climáticos.
O caso mais emblemático foi o Rio Grande do Sul, cujas inundações em maio de 2024 causaram danos de mais de R$ 1 bilhão somente às redes elétricas – além de deixar centenas de milhares de pessoas desalojadas.
Transição com resiliência
A distribuição de eletricidade é só um recorte. O impacto do clima vai muito além: secas extremas significam reservatórios de hidrelétricas com menor capacidade de gerar energia, demandando acionamento de térmicas a gás natural e carvão e lançando mais gases de efeito estufa na atmosfera.
Ondas de calor fazem com que equipamentos de ar condicionado fiquem ligados por mais tempo, pressionando sistemas elétricos – no primeiro semestre de 2024, por exemplo, o Brasil consumiu 7% mais energia em meio às temperaturas mais elevadas.
“A mudança dos padrões climáticos e eventos climáticos extremos, incluindo padrões de precipitação e a frequência de inundações e ondas de calor, pode prejudicar a operação sustentada da infraestrutura física. Isso, por sua vez, se torna um risco à segurança energética e pode ter efeitos em cascata significativos em outros setores e atividades críticas que dependem do setor de energia”, alertou um relatório (.pdf) da Agência Internacional de Energia Renováveis (Irena, em inglês), no final do ano passado.
Enquanto mais de uma centena de países se prepara para apresentar a atualização das suas contribuições ao Acordo de Paris (NDCs, em inglês), para limitar o aquecimento do planeta até 1,5°C, a agência destaca que construir uma infraestrutura mais resiliente também é um esforço importante de adaptação às mudanças climáticas
“Para acomodar os riscos relacionados às mudanças climáticas e lidar com as mudanças nos padrões de demanda e fornecimento, a infraestrutura energética deve se tornar mais resiliente, flexível e sustentável. As NDCs podem incluir detalhes sobre as medidas e metas pretendidas para a infraestrutura resiliente”, indica.
As NDCs devem ser apresentadas até a COP30, que será presidida pelo Brasil, em Belém, no Pará.
E o desafio da resiliência corre o risco de ser ofuscado por uma outra agenda: a dos combustíveis fósseis.
A COP29 já deu sinais de que em meio à preocupação de garantir segurança energética, petróleo, gás e carvão devem ganhar mais tempo nas políticas nacionais – não é só o Trump, nos EUA. Por aqui, Lula também é favorável a novas fronteiras exploratórias.
Cobrimos por aqui
Curtas
Guerra comercial mira energia. Os Estados Unidos vão adotar tarifas sobre as importações de recursos energéticos do Canadá e do México a partir de amanhã (4/2). A taxa sobre o setor de energia será de 10% para produtos canadenses e 25% para produtos mexicanos. Também foram anunciadas novas taxas sobre produtos chineses.
Reforço na transmissão. O Ministério de Minas e Energia (MME) enquadrou sete projetos de reforços e melhorias em instalações de transmissão no Reidi. As iniciativas terão a suspensão da incidência das contribuições para Cofins (7,6%) e PIS (1,65%) sobre as receitas derivadas de aquisições de bens e serviços destinados à implantação dos empreendimentos.
Hidrelétricas reversíveis. O planejamento para as usinas hidrelétricas reversíveis (UHR) no Brasil deve dar um passo importante neste ano, com a regulamentação do tema. Os sistemas de armazenamento de energia, que incluem baterias químicas e usinas reversíveis, estão em debate na Aneel. A segunda fase da consulta pública sobre o tema foi encerrada no dia 30 de janeiro.
Biocombustíveis versus alimentos. O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para a região Sudeste, minimizou o questionamento levantado pelo presidente Lula sobre um possível impacto da produção de biocombustíveis sobre os preços dos alimentos. “Foi um deslize do presidente“, disse a jornalistas.
Biodiesel marítimo. A Vibra vai comercializar diesel marítimo com até 30% de biodiesel para a Svitzer, no período entre janeiro de 2025 e dezembro de 2026. A previsão é que serão consumidos 230 m³/mês. A princípio, o teor de biodiesel será de 2%, com aumento gradual de acordo com os resultados do monitoramento de desempenho das embarcações.
Mestrandos da Amazônia. Estudantes com trabalhos em temas voltados à justiça climática, fontes renováveis de energia, economia verde, agricultura, água, sistemas alimentares, economia de baixo carbono, florestas, bioeconomia, entre outros, podem se inscrever até 28 de fevereiro no Programa de Bolsas de mestrado da Cátedra Escolhas Economia e Meio Ambiente. A seleção é exclusiva para nascidos na Amazônia Legal ou que estejam matriculados em instituições de ensino estabelecidas na região.