Clima extremo

Distribuidoras reforçam redes de olho em eventos climáticos extremos

Empresas pretendem investir R$ 30 bilhões por ano até 2027 para reforçar a resiliência

Enchentes atingem Av Loureiro da Silva, CAFF e região, em Porto Alegre, devido às fortes chuvas no Rio Grande do Sul, em 7-5-2024 (Fotos Gustavo Mansur_Palácio Piratini)
Enchentes atingem Av Loureiro da Silva, CAFF e região, em Porto Alegre, devido às fortes chuvas no Rio Grande do Sul, em 7-5-2024 (Fotos Gustavo Mansur_Palácio Piratini)

BRASÍLIA – Após um ano de 2024 de eventos extremos e problemas espalhados por vários estados brasileiros, as distribuidoras de energia estão se preparando melhor para as ocorrências climáticas e investindo em tecnologia para evitar imprevistos.

Além dos problemas enfrentados no Rio Grande do Sul — onde houve enchentes de grandes proporções — e em São Paulo, com desligamentos prolongados e críticas de autoridades à Enel, as empresas se preparam para a renovação dos contratos de distribuição.

Entre 2025 e 2031, 21 concessionárias têm contratos que chegarão ao fim. O governo federal publicou o decreto 12.068/2024, com regras mais rígidas para os aditivos.

Uma das maneiras da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) medir o desempenho das distribuidoras por critérios de frequência (FEC) e duração (DEC) de interrupções no fornecimento.

Segundo dados da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), as concessionárias já anunciaram investimentos de R$ 30 bilhões por ano até 2027, com foco em equipamentos mais resilientes, para reduzir interrupções de energia.

Cerca de 40% desse montante será destinados à resiliência das redes. Os valores desembolsados são duas vezes maiores do que se investiu entre 2022 e 2023 para modernizar as redes. 

Eventos climáticos cada vez mais extremos

O diretor de meio ambiente e sustentabilidade da CPFL Energia, Rodolfo Sirol, conta que há cerca de 20 anos as ocorrências que precisavam ser sanadas pelas distribuidoras acarretavam consequências em áreas menores.

“Uma situação que antes era limitada a poucos quilômetros quadrados, agora é de uma magnitude que pega às vezes até 50 quilômetros quadrados. No Rio Grande do Sul, as enchentes trouxeram problemas em mais de 300 quilômetros quadrados. Isso se torna extremamente desafiador, porque o sistema não foi planejado para esse cenário”, diz.

Os eventos mais complexos trouxeram mudanças de métodos para as distribuidoras. A CPFL, por exemplo, investiu em sistemas de self-healing, que incluem dispositivos capazes de desligar ou religar de forma automática as redes de determinadas regiões afetadas.

“Com esse sistema, você direciona as equipes de manutenção mais rápido, para que consiga identificar o problema. Antigamente, o que se fazia? Era necessário percorrer a linha de 30 mil clientes para achar o defeito e, aí sim, uma equipe poder consertar”, afirma.

A empresa, que tem áreas de concessão de distribuição em São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná, passou ainda a atuar de forma mais proativa em relação à vegetação.

As espécies de árvores que causam mais problemas são mapeadas e substituídas. Nos primeiros oito anos do projeto, 12 mil árvores foram substituídas por mudas que interferem menos na rede elétrica. 

Mas a CPFL decidiu pisar no acelerador ao perceber que o trabalho demandava mais esforços e, no ano passado, 15 mil árvores deram lugar a espécies que geram menos problemas para a rede.

Nas áreas de concessão da EDP em São Paulo e no Espírito Santo, serão investidos R$ 10 bilhões até 2030. 

A empresa também aposta nos dispositivos de self-healing, presentes em 86% da área da distribuidora em São Paulo, e no monitoramento remoto de subestações.

As subestações da concessionária no Espírito Santo são observadas pelo Centro de Operação Integrado (COI), que pode realizar manobras remotas para reduzir o impacto de ocorrências.

A Equatorial tem um plano interno de contingências que estabelece níveis de criticidade e a força de trabalho a ser acionada diante do cenário de ocorrências previsto para cada situação.

Para melhorar a resposta a crises, a empresa revisitou procedimentos operacionais e processos internos nos sete estados em que atua. As redes estão se tornando mais robustas em locais com maior probabilidade de incidências e a empresa decidiu desenvolver sistemas para a previsibilidade climática.

Problemas no passado foram aprendizado

Presente em 11 estados, a Energisa afirma ter aprimorado o aprendizado relacionado a eventos extremos após as enchentes de 2011 na Região Serrana do Rio de Janeiro, que deixaram mais de mil mortos.

A empresa investiu em melhor previsão meteorológica e criou um plano de contingência operacional, para preparar as equipes a eventos como altas temperaturas, queimadas, ventos e tempestades.

Os funcionários são treinados em condições para simular situações reais e levar aprendizado para os procedimentos.

Em 2024, a Energisa investiu R$ 5,4 bilhões nos segmentos de distribuição e transmissão para melhorar a segurança e a confiabilidade.

Após problemas e críticas de autoridades, a Enel anunciou R$ 24 bilhões em investimentos no setor de distribuição de energia no Brasil de 2025 a 2027.

O anúncio veio depois do apagão de novembro de 2024, que deixou mais de 2 milhões de unidades consumidoras sem energia. Em 2023, a empresa já havia enfrentado uma crise semelhante.

O apagão em São Paulo virou tema de repercussão e pautou a disputa eleitoral pela prefeitura da cidade. Autoridades chegaram a pedir que a Aneel avaliasse o fim do contrato de concessão.

Na época, o presidente da Enel São Paulo, Guilherme Lencastre, chegou a dizer que os contratos de distribuição atuais não preveem incentivos para investimentos em resiliência das redes.

Ainda assim, a distribuidora prevê investir R$ 1,4 bilhões na capital paulista até 2027 para fortalecer, digitalizar e expandir a rede de distribuição.

A Enel atua também nos estados do Rio de Janeiro e Ceará. Segundo a companhia, os investimentos nas três regiões representam 62% de aumento em relação ao período anterior, com foco na infraestrutura da rede nas áreas de concessão.

No Ceará, o plano de investimentos inclui a contratação de 1,3 mil funcionários e a compra de 480 veículos. Serão construídas 13 novas subestações e 600 quilômetros de redes de alta tensão.

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