Na convenção do PDT, Ciro prometeu reindustrializar o Brasil mas "sem aventura, rupturas nem desrespeito a contratos" / Imagem: PDT
A definição do bloco chamado Centrão, que nessa quinta anunciou, ainda que informalmente, o apoio ao pré-candidato do PSDB, Gerando Alckmin, à presidência da República, já provoca mudanças nas principais campanhas ao Planalto. Em discurso na convenção do PDT que o confirmou oficialmente como candidato ao governo federal, Ciro reforçou hoje seu posicionamento à esquerda. Candidato criticou fortemente o governo de Michel Temer, a quem responsabilizou por quebrar o Brasil “em nome de uma suposta austeridade” e disparou também contra o mercado financeiro, segundo ele responsável em boa parte pela grave dívida pública nacional.
Mas, em uma ponderação inédita desde o começo de sua campanha à presidência, o candidato afirmou que pretende recuperar a economia brasileira sem alterar contratos firmados. “Não cabe aventura nem ruptura nem desrespeito aos contratos”, disse Ciro, após ressaltar que vai governar para os mais pobres e para a classe trabalhadora e colocando a criação de “milhões de postos de trabalho como sua primeira e mais urgente tarefa como presidente.
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Essa semana Ciro reafirmou que retomaria “com as devidas indenizações” todos os campos de petróleo do pré-sal leiloados durante o governo Temer a empresas estrangeiras e criticou a negociação em andamento entre a brasileira Embraer e a norte-americana Boeing. As falas foram lembradas por líderes do Centrão como pontos decisivos para o grupo optar por Alckmin e abandonar as negociações com o pedetista.
Ciro ainda listou áreas prioritárias em que pretende investir para produzir a reindustrialização do Brasil. E citou o setor de petróleo e gás entre elas. O discurso de confirmação da sua candidatura foi recheado com falas contra a corrupção, classificada por ele como “um câncer que destrói a crença na democracia e na política, sobretudo ente os jovens”, e contra os privilégios, que promete perseguir e encerrar”, além de uma defesa da austeridade fiscal, que vê como necessária para recuperar as contas públicas.
Descolar da rejeição ao governo Temer será o desafio para Alckmin
Mas se a definição do Centrão deixou Ciro livre para reposicionar-se à esquerda em busca do apoio do PSB, a formação de uma chapa com cinco partidos que compõem boa parte da base parlamentar e ministerial do atual governo será um desafio para Alckmin.
O tucano ganhou com o acordo o direito à exposição durante mais da metade do horário eleitoral gratuito, um apoio importante para quem ainda precisa crescer nas pesquisas para alcançar os primeiros colocados em intenções de votos. Ganhou também de volta parte da confiança do mercado, que ontem impulsionou a bolsa e reduziu a cotação do dólar após a noticia do acordo se espalhar. Mas teve sua imagem ainda mais aproximada ao atual governo, que amarga 94% de rejeição da população.
Evitar essa identificação será uma tarefa se Alckmin não quiser seguir o caminho de Ulysses Guimarães na eleição de 1989. Dono da maior aliança daquele pleito, o Doutor Ulysses amargou o sétimo lugar na corrida, carregando nas costas a rejeição ao governo de José Sarney, seu correligionário.
A articulação com o Centrão também está em vias de provocar uma importante defecção no front do tucano: a do seu coordenador de campanha e ex-governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), segundo informação do Estado de São Paulo. Perillo é desafeto de um dos principais quadros do Democratas, o senador Ronaldo Caiado. Se confirmado, esse será apenas o primeiro ajuste que o tucano deve fazer, sacrificando aliados para acomodar na sua campanha os cinco partidos que formam o novo Centrão. Outros ajustes virão na próxima semana, quando lideranças regionais das seis siglas – PSDB, DEM, PR, PP, SD e PRB – sentarem para acordar as alianças estaduais. O PSDB fará sua convenção nacional para oficializar o nome de Alckmin apenas no dia 28 de julho.
A definição do Centrão alterou as peças no tabuleiro e reforçou a tendência para que centro-esquerda e centro-direita se aglutinem entre si se quiserem derrotar o nome de Jair Bolsonaro, que segue como o pré-candidato com maiores chances de chegar ao Planalto nos cenários sem a presença do ex-presidente, os cenários mais prováveis para a eleição de outubro.