Energia solar

Subsídios do setor elétrico prejudicam expansão da demanda por solar, avaliam executivos

Redução é essencial para viabilizar também hidrogênio verde competitivo, afirmam representantes do mercado durante o evento Diálogos da Transição

Na avaliação de executivos do setor de geração solar, a redução de subsídios no setor elétrico, que oneram o consumidor final, é essencial para a expansão da energia solar e a viabilização de um hidrogênio verde (H2V) brasileiro competitivo globalmente. A avaliação foi feita durante a 3ª temporada do Diálogos da Transição da epbr (veja a íntegra acima).

Para o CEO da Voltalia no Brasil, Robert Klein, o governo precisa rever os encargos que encarecem a geração de energia renovável barata, mas que chega cara ao consumidor. 

“Tem alguma coisa acontecendo. São os encargos, são ineficiências, provavelmente, do nosso mercado, que fazem que nosso custo de geração está entre os mais baratos no mundo e nosso custo de consumo é o mais caro do mundo”, pontuou o executivo, durante a live Diálogos da Transição, da agência epbr.

Segundo Klein, que também integra o conselho da recém-criada Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde (ABIHV), a oneração dos custos de energia pode prejudicar a competitividade do H2V produzido no Brasil, que é apontado por muitos estudos como o país que terá o menor valor de produção do energético, sem subsídios. 

A energia elétrica representa em torno de 60% do custo de produção do hidrogênio verde. 

“Se a energia chegar a mil reais no eletrolisador, apesar de você ter gerado com 200 reais ou 150 reais, ou 30 dólares por megawatt-hora, não adianta nada. Ela tem que chegar muito próximo de 30 dólares no eletrolisador, para que possamos competir com o mundo inteiro”, afirma. 

Para Klein, o Brasil tem uma oportunidade única de se posicionar como um exportador de produtos derivados do hidrogênio verde, “se aproveitando da energia elétrica barata, de amônia barata, para que essas usinas de fertilizantes, de aço e outras, se instalem no Brasil e exportar os produtos ao invés de exportar amônia”. 

Na próxima terça-feira, nos Diálogos da Transição 2023, a agência epbr vai discutir os desafios para energia solar por assinatura no país, as oportunidades de negócios, investimentos e os projetos em andamento.

 

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Expansão de renováveis baseada em subsídios

Para Bernardo Bezerra, diretor de inovação, produtos e regulatório da Omega Energia, a expansão da oferta de energia renovável no Brasil não está baseada no aumento da demanda. 

O Brasil está entre os 10 países com maior capacidade de geração de energia solar do mundo. Isso se deve em grande parte à geração distribuída, que soma uma capacidade instalada de 23,4 GW, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)

Já as usinas solares centralizadas somaram em agosto 10,4 GW de capacidade instalada. No último mês, 15 usinas fotovoltaicas entraram em operação, com 744,7 MW de capacidade.

Com isso, a energia solar já responde por 5% de toda a potência do país, de 195 GW, segundo o sistema de informações de geração da Aneel.

“Temos cerca de 200 gigawatts de projetos renováveis onshore que pediram conexão no ano passado. Na nossa visão, só tem demanda para cerca de 22%, cerca de 44 gigawatts. Significa que tem uma grande maioria desses projetos que não tem mercado”, completou. 

Segundo ele, a energia renovável no Brasil é supercompetitiva na margem, comparada com outros países, mas muito cara na ponta do consumidor, seja industrial ou residencial. 

Na avaliação de Bezerra, seria necessário rever os subsídios para tornar o hidrogênio verde competitivo e incentivar a eletrificação e descarbonização da indústria brasileira. 

“Temos que reduzir os subsídios atuais, incentivos atuais e evitar novos subsídios que podem ainda chegar (…) A redução dos subsídios é muito importante, eletrificando outros setores da economia e exportando energia para o mundo”. 

Entre os subsídios, Bezerra destacou os da contratação compulsória de geração termelétrica e pequenas centrais hidrelétricas, que somariam R$ 55 bilhões, contração de leilão emergencial, de cerca de R$ 40 bi, e a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que este ano teve o orçamento aprovada de quase R$ 35 bilhões em subsídios. 

Subsídios para fósseis

Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar, destaca a quantidade subsídios destinados a fontes fósseis. 

“Levantamento do Inesc sobre os subsídios no Brasil aponta que em 2021 foram 118 bilhões em subsídios para combustíveis fósseis. Então, quando a gente fala de subsídio, a gente tem que lembrar que hoje o Brasil ainda não virou a chave”. 

“Só para vocês terem uma ideia, em 2022 foram 12 bilhões pagos na CDE para custear termoelétricas fósseis a diesel, e um bilhão para custear termoelétricas a carvão”, pontua Sauaia. 

Além disso, o presidente da Absolar apontam que o governo federal ainda não cumpriu a obrigação de calcular os benefícios ambientais das fontes renováveis 

“As fontes renováveis abriram mão do desconto que tinham na TUS de TUST, na tarifa de uso do sistema de distribuição e de transmissão, com a promessa do governo federal de que ele iria valorizar os benefícios ambientais na energia elétrica (…) O governo federal, não essa gestão, aprovou importantes leis em 2021 e 2022, mas não entregou a sua contrapartida, a sua lição de casa. Seja para as fontes renováveis, com os atributos ambientais”.

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