A experiência brasileira com biocombustíveis pode servir de referência para a Índia e países da África como exemplo de descarbonização sustentável do setor automotivo, segundo o vice-presidente da Stellantis para a América do Sul, João Irineu Medeiros.
Em entrevista ao estúdio eixos nesta quarta-feira (26/6), Medeiros afirmou que os combustíveis renováveis ajudarão a descarbonizar matrizes de transportes de países, reduzindo a dependência do carro elétrico para desempenhar esse papel.
“Como é que eu posso dizer que vou descarbonizar usando um carro 100% elétrico, cuja fonte de geração ainda é bastante fóssil, que depende do carvão mineral, do gás natural? É um contrassenso, um desequilíbrio que precisa ser ajustado para que a gente possa traçar metas com objetivos bem definidos globalmente”, avaliou.
Para Medeiros, a hibridização em diferentes graus de motorização e baterias também tem um papel a desempenhar para reduzir as emissões dos transportes.
Ele lembrou também que é importante que as soluções sejam adequadas ao poder de compra dos consumidores.
“De uma forma bem equilibrada, a gente combina o motor a combustão com diferentes níveis de eletrificação. Como o nosso portfólio vai do segmento A até o segmento E, eu preciso de diferentes níveis de eletrificação para que ela possa caber no bolso do cliente que vai comprar aquele carro”, explicou.
A companhia tem R$ 32 bilhões aprovados em investimentos para a América do Sul no período de 2025 a 2030, o que inclui tecnologias para descarbonização dos veículos.
Programa Mover e ciclo de vida
O executivo da Stellantis defendeu também o processo de reaproveitamento de veículos, por meio da reciclagem e reuso de peças.
Segundo ele, isso pode garantir um ciclo de vida com menor intensidade de carbono, evitando, por exemplo, a mineração e manufatura do ferro, aço, alumínio e plásticos, principais componentes de um veículo.
A reciclagem de veículos é um dos pontos aprovados na lei do Programa Mobilidade Verde (Mover), que trouxe novas regras para a análise do ciclo de vida dos combustíveis e dos automóveis. A metodologia de avaliação “do berço ao túmulo”, que avalia todas as etapas produtivas das peças e dos combustíveis, será aplicada a partir de 2027.
“A regulação é importante porque estabelece uma base do ponto de vista da sustentabilidade, e a partir dali as empresas podem calibrar as suas estratégias de negócio de forma igual, sem diferenciar nem criar nenhum benefício concorrencial para qualquer empresa”, disse Medeiros.
O VP da Stellantis citou, ainda, que os carros brasileiros têm vida útil de 20 a 30 anos e acabam saindo de capitais para o interior do país conforme vão perdendo valor.
“Temos que recuperar esses carros, trazer de volta para a cadeia produtiva da matéria-prima, para evitar que a gente tenha que minerar de novo, retirar mais petróleo, retirar mais produto da natureza para fazer um carro novo”, afirmou.
Medeiros afirmou ser necessária a aplicação dos “quatro Rs” da sustentabilidade, que incluem repensar, reduzir, reciclar e reutilizar.
“Metade do peso de um carro é aço e ferro, tem também 10% de alumínio, plástico e outros materiais. Eu preciso recuperar isso e reutilizar aquilo que eu posso, que está funcionando. O que não puder ser recuperado, podemos queimar e gerar energia para produzir alguma coisa”, explicou.