Agendas da COP

Um roteiro para emissões líquidas zero sem greenwashing

Grupo de especialistas lança dez recomendações para trazer integridade, transparência e responsabilidade às metas de descarbonização

Um roteiro para emissões líquidas zero sem greenwashing. Na imagem: manifestação de jovens contra greenwashing, com indígenas como a brasileira Samela Sateré-Mawé [de verde], à frente, em Glasgow, na COP26 (Foto: Oliver Kornblihtt/Mídia Ninja/COPCollab26)
Manifestação de jovens contra greenwashing, com indígenas como a brasileira Samela Sateré-Mawé [de verde], à frente, em Glasgow, na COP26 (Foto: Oliver Kornblihtt/Mídia Ninja/COPCollab26)

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Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
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Diálogos da COP 27 | agência epbr cobre a COP27 entre os dias 7 e 18 de novembro, com transmissões ao vivo pelo Youtube, de segunda a sexta, às 14h. Vamos receber especialistas em clima e transição energética, agentes do mercado, indústria e sociedade civil, com convidados diretamente do Egito.

O Grupo de Especialistas de Alto Nível sobre Compromissos de Emissões Líquidas Zero de Entidades não Estatais lançou na quarta (8/11) dez recomendações para trazer integridade, transparência e responsabilidade às metas de descarbonização.

Entre elas, impedir que empresas ou regiões possam declarar líquido zero enquanto estiverem associadas a investimentos em novos projetos fósseis ou desmatamento.

O lançamento ocorreu na véspera do dia das finanças da 27ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP27), em Sharm El Sheikh, Egito.

É um roteiro para desviar do greenwashing e de compromissos climáticos fracos, colocando indústria, instituições financeiras, cidades e regiões no rumo certo para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C até o fim do século. Veja o relatório na íntegra (.pdf)

“Trata-se de cortar emissões, não de cantos. Nosso roteiro fornece padrões e critérios claros que devem ser seguidos ao desenvolver compromissos líquidos zero. Neste momento, o planeta não pode permitir atrasos, desculpas ou mais lavagem verde”, explica Catherine McKenna, presidente e ex-ministra canadense de Meio Ambiente.

As recomendações têm como base as iniciativas Race to Zero e Metas Baseadas na Ciência (Science Based Targets):

  • Planos climáticos devem ser de responsabilidade direta de uma empresa ou de uma região e refletir isso nas ações;
  • Mais ambição no curto prazo: Um plano climático tem que ser suficientemente rápido para evitar a liberação de gases de efeito estufa alinhado ao objetivo de limitar o aquecimento da Terra a 1,5°C;
  • Compensações devem ser plano B: a prioridade deve ser reduzir emissões. A compra de certificados e créditos de carbono deve ser poupada para os últimos anos. Quando usados, esses títulos devem ser confiáveis, e de uma fonte insuspeita e verificável;
  • Planos climáticos e relatórios anuais de progresso precisam ter detalhes suficientes para serem verificados por outras partes de forma independente;
  • Impedir que empresas ou regiões possam dizer que são zero líquido enquanto continuam a construir ou investir em novos suprimentos de combustível fóssil;
  • Qualquer lobby deve ser a favor de uma ação climática positiva, nunca contra. A remuneração dos executivos e os gastos de capital devem ser vinculados a planos de emissão zero líquido;
  • Empresas e regiões que utilizam muita terra devem assegurar que, até 2025, qualquer desmatamento seja interrompido;
  • Empresas e regiões com planos climáticos devem relatar seus progressos efetivamente reduzindo suas emissões, com detalhes e rigor suficientes;
  • Sem fluxo de capital para ajudar países pobres e emergentes em sua transição e adaptação, não haverá zero líquido. Os planos de empresas e regiões ricas devem considerar esse quadro;
  • A começar pelos emissores corporativos de alto impacto, os regulamentos e normas precisam ser desenvolvidos e implementados para garantir que as regras básicas da economia sejam projetadas para fazer com que o líquido zero reduza as emissões.

Hoje, o jornalista da agência epbr Gabriel Chiappini conversou com Bruna Mascote (Catavento Consultoria), Anita Baggio (Eneva), Guilherme Moya (2W Energy) e Sergio Gusmão Schodolski (Fundação Amazônia Sustentável) sobre financiamento climático. Assista o Diálogos da COP27 no Youtube

Ativistas contra fósseis

O primeiro dos dias temáticos da COP27 começou hoje, focado em finanças, enquanto cerca de 50 ativistas ocupavam a chamada ‘Zona Azul’ — a principal área do centro de conferências em Sharm el-Shaik supervisionada pela ONU — para gritar “Pare de financiar combustíveis fósseis! Pare de financiar a morte!”.

“Na cúpula do G7 do ano passado, houve um acordo para acabar com o financiamento público para combustíveis fósseis até o final deste ano. Mas a Agência Internacional de Energia (IEA) disse que, na verdade, a lenta transição para as energias renováveis ​​é o que está exacerbando a crise climática e a crise energética”, comenta Susan Huang, representando a ONG Oil Change International.

Os ativistas defendem que investimentos em planos de energia renovável sejam apoiados pela comunidade.

Aliança eólica offshore

Bélgica, Colômbia, Alemanha, Irlanda, Japão, Holanda, Noruega, Reino Unido e Estados Unidos se juntaram na terça (8/11) à Global Offshore Wind Alliance (GOWA), com o compromisso de acelerar investimentos na geração eólica offshore e viabilizar pelo menos 380 GW de capacidade instalada até o final de 2030. Leia na epbr

US$ 1 bilhão para transição em emergentes

Já nesta quarta (9/11), Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), Masdar e Swiss refirmaram acordos de cooperação para integrar a Energy Transition Accelerator Financing Platform (ETAF), plataforma global de financiamento climático da Irena destinada a mobilizar capital para a transição em mercados emergentes.

100 dias decisivos

Organizações da sociedade civil avaliam que os primeiros 100 dias do novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) devem priorizar o desmatamento zero e a agricultura de baixo carbono para que o Brasil consiga cumprir a meta de reduzir emissões de gases do efeito estufa até 2030.

Esse foi o tom dado por pesquisadores nesta quarta (9/11) no Brazil Climate Action Hub, espaço da sociedade civil na COP27.

“A Amazônia representa 77% das emissões brasileiras por mudanças de uso da terra, sendo que 91% dessas emissões está diretamente associado à conversão da floresta para a agropecuária, e têm como principal frente de expansão a ocupação de terras públicas por meio da grilagem”, observa Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam e coordenadora do MapBiomas Fogo.

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Crimes contra a humanidade

Organizações ambientais entraram com uma ação no Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade cometidos na Amazônia nos últimos dez anos.

O processo movido em conjunto por Climate Counsel (Australia), Greenpeace Brasil e Observatório do Clima aponta mais de 12 mil conflitos por terra ou água na maior floresta tropical do planeta.

Segundo o grupo, entre 2011 e 2021, os conflitos no campo resultaram em 430 assassinatos, 554 tentativas de assassinato, 2.290 ameaças de morte, 87 casos de tortura e mais de 100 mil expulsões ou despejos. A maior parte das vítimas são povos indígenas e comunidades tradicionais.

Enquanto isso, no Brasil…

A Comissão de Meio Ambiente (CMA) aprovou nesta quarta suas emendas para o Orçamento de 2023, prevendo a destinação de R$ 1,23 bilhão para ações de preservação e recuperação do meio ambiente.

Do total, os senadores recomendam incrementar em R$ 350 milhões o orçamento do Ibama para a gestão do uso sustentável da biodiversidade e recuperação ambiental.

Outros R$ 500 milhões devem ser destinados ao Ministério do Meio Ambiente para a “implementação de programas, planos e ações para a melhoria da qualidade ambiental urbana”.

As emendas ao Projeto da Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2023 (PLN 32/2022) seguem para análise da Comissão Mista de Orçamento (CMO). Agência Senado