Óleo, gás e renováveis disputam espaço em alinhamento da Shell Brasil com metas globais de transição

André Araújo, presidente da Shell Brasil (Foto: Divulgação)
André Araujo, presidente da Shell Brasil (Foto: Divulgação)

Os objetivos globais da Shell em seu plano de transição energética, com metas intermediárias a partir de 2030, vão se manifestar considerando diferenças regionais, o que pode prolongar investimentos para reposição de reservas de petróleo e gás natural na estratégia da operação brasileira.

A companhia pretende zerar sua emissões líquidas até 2050 e recentemente atualizou as metas que deverão ser alcançadas em curto e médio prazos. O objetivo é reduzir a intensidade de carbono nos produtos relacionados a energia e comercializados pela companhia em até 8% em 2023, em 20% até 2030, 45% em 2035 e, enfim, 100% até 2050.

“Estou muito satisfeito com duas coisas: a gente poder colocar junto carbono e capital. As duas coisas estão juntas nessa oportunidade para o futuro. Não apenas Shell, mas se a gente olhar para o Brasil, é um tema bastante crítico”, diz o presidente da Shell no Brasil, André Araújo.

A empresa promoveu uma coletiva de imprensa na sexta (16).

Antes de alcançar o objetivo final, no fim desta década, a empresa terá consumido 75% do seu portfólio atual de reservas provadas de óleo e gás. Daí a necessidade de reposição dessas reservas.

“Acho importante mencionar que temos um portfólio global de upstream, de reservas provadas, com a expectativa que 75% dessas reservas vão ser produzidas até 2030. E dessas reservas que temos em 2020, a gente tem a expectativa que só 3% [seja produzido] a partir de 2040″, afirma Araújo.

A estratégia global de transição da companhia está apoiada em três pilares: upstream, transição e crescimento. Para o executivo, o Brasil ainda terá um papel central no upstream – a etapa de exploração e produção de petróleo e gás natural.

“A entidade Shell Brasil Petróleo tem seu carro chefe, que é petróleo e gás, e isso não vai mudar em dois minutos. Esse é um perfil, esses investimentos todos que o grupo faz são investimentos de décadas”, diz.

“É importante mostrar que temos uma perspectiva, particularmente ao longo dessa década e da década seguinte, de redução das nossas reservas provadas. Isso faz com que tenhamos a necessidade de repor parte dessas reservas, porque a gente entende que o mercado vai continuar precisando de óleo e gás e a Shell vai estar presente nesse mercado”.

A fixação de metas intermediárias é um cobrança de governos e entidades ligadas às tentativas de reversão da crise climática, tendo o Acordo de Paris como o principal norteador das políticas.

André Araújo afirma que, globalmente, a Shell parte do entendimento que o Acordo de Paris é factível e uma estratégia de transição, por sua vez, deve considerar diferenças regionais.

“As metas lançadas pelo grupo não são uniformes em relação a todos os países. Os países estão em posições diferentes e não precisamos ter uma expectativa que os países estarão no mesmo lugar a medida que os anos forem passando”, diz.

“Quando a gente fala de estratégia no Brasil do grupo na transição energética, a gente tem que olhar isso de uma forma bem integrada”.

A companhia reconhece, portanto, que a transição é inevitável.

“Entregar valor para os acionistas é extremamente importante – é bom deixar isso claro. Mas, sem dúvida e mais do que nunca, o papel da sociedade e dos nossos clientes estão no centro dessa missão, da emissão líquida zero”, afirma.

“A gente tem uma intenção muito grande de adaptar e incorporar [as metas] à nossa linha de negócios, com a velocidade que for possível, e vamos estar muito em linha, obviamente, com os anseios de governos e da sociedade”.

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Papel da Raízen

Olhando para um horizonte de crescimento, outro pilar da estratégia, o futuro passa por investimentos em biocombustíveis e, portanto, pela Raízen, sociedade (50%-50%) com o grupo Cosan, que atua no mercado de distribuição de combustíveis e produção de etanol.

“Temos uma posição no país, muito alinhada com a estratégia do grupo particularmente no crescimento, que é o terceiro pilar da estratégia da companhia, que está muito ligado à Raízen. Um trabalho, que não existe em outro lugar do mundo, que é o foco da companhia em biocombustíveis, biocombustíveis avançados, [etanol] de segunda geração, biogás e biometano… Já em uma escala grande e o grupo Shell tem demonstrado interesse”, afirma.

Araújo listou como exemplos de projetos que se encaixam nos três pilares do grupo a construção de Marlim Azul em Macaé (RJ), usina que deve iniciar a operação usando gás natural liquefeito (GNL) importado, mas a ideia é usar gás nacional, produzido no pré-sal.

A empresa também avalia investimentos em eólica offshore no Brasil, está desenvolvendo usinas solares em Minas Gerais e na Paraíba e já anunciou investimentos em baterias, como parte da estratégia local de entrada no mercado de geração de energia renovável.

“Estamos investindo bastante em projetos possíveis de solar, estamos com um time no Brasil olhando soluções baseadas na natureza, na área de reflorestamento e teremos, possivelmente, mais projetos de gás”, afirma.

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Aposta no gás de transição

“Gás é um dos pilares de transição. A gente entende que no mundo vai ter uma demanda ainda crescente de gás natural, apesar de se falar muito do foco em energias renováveis, a gente entende que tem esse caminho”, disse Araújo.

A termoelétrica Marlim Azul, em Macaé (RJ) é um projeto em parceria com a Pátria Investimentos e a Mitsubishi Hitachi Power Systems (MHPS). Terá 565 MW de capacidade instalada e a expectativa é começar a venda da energia da unidade em janeiro de 2022.

A Shell também está se preparando para começar a vender gás no mercado livre no Brasil a partir de janeiro de 2022, segundo André Araújo, e demonstrou interesse no arrendamento do terminal de GNL da Petrobras, na Bahia, cuja concorrência foi retomada recentemente, após o fracasso da primeira licitação, ano passado.

Embora na Europa as estratégias de descarbonização estejam focadas na migração para outros energéticos, como o hidrogênio, o executivo acredita que no Brasil o gás natural ainda será um caminho.

“O Brasil tem um caminho no gás natural que vem sendo uma demanda do mercado já há um bom tempo. A gente tem a reserva do pré-sal em pleno desenvolvimento, que tem um volume de gás que não é de graça mas é uma excelente oportunidade para o Brasil. Vários clientes têm sido muito ativos na busca de desenvolvimento de regras flexíveis de acesso ao gás natural”, afirma o executivo.

Outra alternativa em estudo é a tecnologia para separação de CO2, no mesmo processo de separação do gás natural.

“Reconhecemos que as respostas serão diferentes em cada lugar. A Europa é uma grande importadora de gás natural e tem, entre diversas estratégias, o desenvolvimento da segurança no abastecimento de energia, junto com uma estratégia de descarbonização bastante focada, já migrando para novos segmentos, particularmente o setor de hidrogênio, onde a Shell está bastante ativa, com vários projetos”, completa.

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