Transição energética

Mundo precisa investir US$ 5,7 tri por ano até 2030 em transição energética, diz agência

US$ 0,7 trilhão precisam ser redirecionados anualmente para longe dos combustíveis fósseis para evitar ativos ociosos

Transição energética vai custar US$ 5,7 trilhões por ano até 2030. Na imagem: Bomba de petróleo para exploração onshore em um terreno descampado, com turbinas eólicas ao fundo (Foto: Michael/Pixabay)
US$ 0,7 trilhão precisam ser redirecionados anualmente para longe dos combustíveis fósseis para evitar ativos ociosos (Foto: Michael/Pixabay)

BRASÍLIA — Lançado nesta terça (29/3), o World Energy Transitions Outlook (Weto) 2022 da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês) diz que será necessário investir US$ 5,7 trilhões por ano até 2030 em transição energética.

A cifra inclui o imperativo de redirecionar US$ 0,7 trilhão anualmente para longe dos combustíveis fósseis para evitar ativos ociosos.

Investir na transição traria benefícios socioeconômicos e de bem-estar, adicionando 85 milhões de empregos em todo o mundo em energias renováveis ​​e outras tecnologias de baixo carbono entre hoje e 2030, afirma o relatório.

Esses ganhos de empregos superariam amplamente as perdas de 12 milhões de postos nas indústrias de combustíveis fósseis.

“No geral, mais países experimentariam maiores benefícios no caminho da transição energética do que em negócios convencionais”, diz o Outlook.

A Irena também alerta que o ritmo e a escala atual da transição baseada em energias renováveis são inadequados, e intervenções de curto prazo para lidar com a atual crise de energia devem ser acompanhadas por um foco firme nas metas de médio e longo prazo para emissões líquidas zero.

Os altos preços dos combustíveis fósseis, as preocupações com a segurança energética e a urgência das mudanças climáticas ressaltam a necessidade premente de avançar mais rapidamente para um sistema de energia limpa, pontua.

“A transição energética está longe de estar no caminho certo e qualquer ação menos radical nos próximos anos diminuirá, até eliminará as chances de atingir nossas metas climáticas”, disse Francesco La Camera, diretor-geral da Irena.

“Hoje, os governos enfrentam vários desafios de segurança energética, recuperação econômica e acessibilidade das contas de energia para residências e empresas. Muitas respostas estão na transição acelerada. Mas é uma escolha política implementar políticas que cumpram o Acordo de Paris e a Agenda de Desenvolvimento Sustentável”.

Para o executivo, investir em novas infraestruturas de combustíveis fósseis não resolve a crise energética e piora os efeitos das mudanças climáticas.

“Os altos preços dos combustíveis fósseis podem resultar em pobreza energética e perda de competitividade industrial. 80% da população global vive em países que são importadores líquidos de combustíveis fósseis”.

Por outro lado, continua, as energias renováveis ​​estariam disponíveis em todos os países, oferecendo uma saída da dependência de importações e permitindo a dissociação das economias dos custos dos combustíveis fósseis.

Crescimento massivo

A participação das renováveis ​​teria que crescer massivamente em todos os setores, de 14% da energia total hoje para cerca de 40% em 2030.

Para isso, as adições anuais globais de energia renovável precisam triplicar até 2030, enquanto o carvão é totalmente substituído, os ativos de combustíveis fósseis eliminados e a infraestrutura atualizada, seguindo recomendação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

O relatório da Irena aposta na eletrificação e eficiência como os principais impulsionadores dessa mudança, protagonizada por renováveis, hidrogênio e biomassa sustentável.

“A descarbonização do uso final será o centro das atenções com muitas soluções disponíveis por meio da eletrificação, hidrogênio verde e uso direto de energias renováveis. Notavelmente, a eletromobilidade é vista como impulsionadora do progresso da transição energética, aumentando as vendas de veículos elétricos para uma frota global de veículos elétricos vinte vezes maior do que hoje”, aponta o estudo.

Os governos precisarão agir, com políticas estruturais transversais, capazes de acolher as diferentes rotas tecnológicas e as demandas sociais para uma transição justa.

“Particularmente, os maiores consumidores de energia e emissores de carbono do G20 e G7 devem mostrar liderança e implementar planos e investimentos ambiciosos no país e no exterior”, diz a agência.

Para a Irena, os países ricos precisam apoiar o fornecimento global de 65% de energias renováveis ​​na geração de energia até 2030. O financiamento climático, a transferência de conhecimento e a assistência teriam que aumentar para um mundo inclusivo e igualitário.

Papel dos biocombustíveis

O relatório também avalia o papel dos biocombustíveis, que podem contribuir para a descarbonização do setor de transportes, complementando outras medidas, incluindo eletrificação e melhorias na eficiência dos veículos e sistemas.

Biocombustíveis líquidos podem ser implantados sem necessidade de muitas alterações técnicas no estoque de veículos existente e aproveitando a infraestrutura de refino e distribuição — ao contrário de soluções como eletricidade e hidrogênio.

Entre os destaques estão etanol e diesel verde (HVO), que devem liderar a expansão de biocombustíveis nos próximos cinco anos.

“Uma tendência importante é a conversão de refinarias de petróleo fóssil existentes para processar matérias-primas de base biológica em HVO/HEFA e biocombustível. Espera-se que a capacidade global de HVO/HEFA aumente quatro vezes à medida que as plantas em construção e planejadas entrarem em operação”, projeta.

Entretanto, alerta que a principal barreira ao uso de biocombustíveis no transporte, na ausência de medidas políticas, é o custo.

“Os combustíveis fósseis são mais baratos e o acesso ao mercado é mais fácil. Por exemplo, os preços do etanol estão na faixa de US$ 14-32/GJ e os preços do biodiesel entre US$ 22-28/GJ em comparação com US$ 9-16/GJ para gasolina ou diesel de origem fóssil. Os custos projetados de uma série de biocombustíveis avançados em desenvolvimento são ainda maiores (US$ 16-51/GJ)”.

A Irena indica que essas barreiras de custo podem ser superadas com políticas de mandatos de mistura, como acontece no Brasil para o etanol e o biodiesel.

Outro caminho são as aquisições de certificados pelas distribuidoras de combustíveis para comprovar o volume de biocombustível adquirido, sob pena de multa. Os certificados remuneram os produtores de biocombustíveis de forma adicional, a exemplo do RenovaBio.

A Irena também cita como exemplos o Renewable Fuel Standard (RFS), dos EUA, e esquemas semelhantes em países europeus, incluindo o Reino Unido e a Holanda.

O valor dos certificados é definido pelo mercado, com valores típicos equivalentes a USD 2-10/GJ nos Estados Unidos, USD 26-31/GJ no Reino Unido e USD 12-35/GJ na Holanda.