Diálogos da Transição

Veja quais são litorais brasileiros mais afetados por extremos climáticos

Pesquisadores da Unifesp apontam que toda a costa brasileira já sofre alguma consequência das mudanças climáticas; litorais das regiões Sudeste e Sul são os mais impactados

ES, RS e SP são litorais brasileiros mais afetados por extremos climáticos
Inundação do Rio Cai em São Sebastião do Caí, no Rio Grande do Sul, em julho de 2020 (Foto: Fernando Mainardi/SEMA RS)

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Editada por Nayara Machado
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Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) avaliaram as ondas de calor ao longo da costa brasileira e revelam que Espírito Santo, Rio Grande do Sul e São Paulo estão experimentando cada vez mais climas extremos, com prejuízos econômicos.

Globalmente, a temperatura da Terra está 1,15°C acima da média de 1850-1900 – e os anos de 2015 a 2022 foram os oito mais quentes já registrados. O motivo já é bastante conhecido: as emissões de gases causadores do efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso –, também em trajetória de alta.

No Brasil, alguns estados litorâneos estão sentindo cada vez mais os impactos deste avanço de emissões e temperatura.

Publicado pela revista Nature, o estudo da Unifesp revela que o litoral do Espírito Santo é a região que mais sente os efeitos climáticos, com aumento de 188% da frequência das ondas de calor e de frio nos últimos 40 anos.

No Rio Grande do Sul, a ocorrência de eventos extremos dobrou, e em São Paulo, está em 84%.

Os pesquisadores avaliaram uma série histórica com dados de temperatura do ar observados a cada hora do dia ao longo das últimas duas décadas em cinco regiões costeiras do país: São Luís (MA), Natal (RN), São Mateus (ES), Iguape (SP), e Rio Grande (RS).

Embora toda a costa brasileira já esteja sofrendo algum impacto das mudanças climáticas, os litorais das regiões Sudeste e Sul são os mais impactados.

Nos litorais de RS, SP e ES, a frequência de ocorrências diárias de extremos máximos de temperatura e das ondas de calor tem aumentado ao longo dos anos. Além disso, as ondas de frio no ES também estão mais corriqueiras.

“Estes dados mostram como as regiões Sudeste e Sul do Brasil já se encontram com impactos da temperatura do ar e que irão afetar a biodiversidade e até a economia”, destaca Fábio Sanches, autor da pesquisa e pós-doutorando pelo IMar/Unifesp.

“Identificamos o litoral do ES como a região mais afetada dentre as que estudamos, pois além das ondas de calor, foi a única região onde a frequência de ondas de frio é cada vez maior”, explica Sanches.

Alerta de vulnerabilidade

Além da frequência de eventos no Sudeste e Sul, um dado sobre a intensidade das temperaturas mínimas extremas chamou a atenção dos pesquisadores: no litoral do RS o frio extremo está cada vez mais quente.

“Isso significa que está ficando cada vez menos frio no sul do país, o que pode ter impactos na produção agrícola e até no turismo”, analisa Ronaldo Christofoletti, coordenador da pesquisa, bolsista produtividade do CNPq e professor do IMar/Unifesp.

O número de eventos por ano é variável, dependendo de fenômenos como El Niño e La Niña, mas, em média, no ES, a taxa de aumento de eventos extremos é calculada em 4,7% ao ano, enquanto SP fica em 2,1% e RS, 2,5% ao ano.

De acordo com os pesquisadores, um sinal de alerta para a vulnerabilidade climática do Brasil.

Prejuízos para o agro

Mais do que um desconforto térmico – que para alguns pode ser resolvido ligando o aquecedor ou o ar-condicionado – os impactos desses extremos já são observados com as inundações causadas por fortes chuvas, secas prolongadas afetando reservatórios de água e quebrando safras, por exemplo.

“O agronegócio brasileiro está ameaçado por estas variações. A produtividade é dependente do ciclo anual de temperatura e chuva, e as alterações de extremos e de amplitude térmica podem baixar a produtividade, a qualidade da produção ou mesmo levar a perda da safra”, explica Christofoletti.

“Especialmente no sul do país, com os dados de que as temperaturas mínimas estão cada vez mais quentes, pode levar a uma alteração do sistema produtivo nas próximas décadas”, completa.

Orçamento curto

Enquanto isso, as empresas vão esgotando seu orçamento de carbono.

Relatório do provedor de dados de investimento MSCI mostra que as companhias listadas em bolsa devem exceder, em outubro de 2026, a quantidade de carbono que pode ser lançada na atmosfera sem que a temperatura global ultrapasse 1,5 °C – dois meses antes do previsto no ano passado.

O rastreador revelou “uma lacuna significativa” entre as promessas climáticas das empresas listadas e suas emissões reais.

No mundo todo, apenas 17% das organizações estabeleceram metas ambiciosas o suficiente para alinhar as emissões com a meta de 1,5°C em 2100. Reuters

Cobrimos por aqui:

Curtas

Ucrânia planeja reconstrução ecológica

Mesmo que a guerra continue e seu resultado permaneça incerto, um projeto de reconstrução está em andamento com o olhar para duas questões chaves: ter a menor pegada de carbono possível e melhorar a resiliência da nação aos impactos das mudanças climáticas.

Os líderes também veem a energia limpa como uma forma de acabar permanentemente com a dependência do país do gás russo. E será crucial para as esperanças do país de se tornar membro da União Europeia. A Ucrânia recebeu o status de candidata em junho e, como parte disso, precisará se alinhar aos princípios de sustentabilidade, metas climáticas e legislação do bloco. Bloomberg

União Europeia está finalizando uma lei para fixar a meta de obter 42,5% da energia do bloco de fontes renováveis até 2030. A lei final, que os diplomatas dos países da UE revisarão na quarta-feira (17/5), confirma um acordo político alcançado com o Parlamento Europeu no final de março. Reuters

Menos carvão

Nos países do G20, eólica e solar reduziram a participação da energia a carvão desde a assinatura do Acordo de Paris, em 2015, mas a substituição do fóssil ainda precisa ganhar velocidade, de acordo com o Global Electricity Review, publicado nesta segunda (15) pelo think tank Ember.

A participação combinada das duas renováveis chegou a 13% da eletricidade em 2022, em comparação com 5% em 2015. A participação da energia eólica dobrou e a da solar quadruplicou, puxando o carvão para 39% ante 43% em 2015.

Fundo para descarbonizar aviação

A Emirates criou um fundo de US$ 200 milhões para financiar projetos de P&D com foco na redução do impacto dos combustíveis fósseis na aviação comercial, área em que as companhias aéreas enfrentam o maior obstáculo para reduzir suas emissões — e onde está o maior potencial de descarbonização. Os recursos serão desembolsados ao longo de três anos.

Diversidade na Petrobras

A companhia criou gerência setorial de Diversidade, Equidade e Inclusão e, para preencher a função, fará, pela primeira vez, um processo seletivo interno exclusivamente para pessoas de grupos sub-representados: mulher, pessoa preta ou parda, pessoa com deficiência/PCD ou LGBTQIA+. A seleção é exclusiva para empregados/as concursados/as com graduação em qualquer área e que preencham um desses requisitos.

Chamada para fertilizantes

A Sanepar publicou o edital de chamamento público de seleção de parceiro estratégico para produzir fertilizante orgânico e organomineral, a partir de lodo de esgoto gerado nas Estações de Tratamento. O período para envio de propostas vai até 21 de junho.

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