Neste ano, tivemos a oportunidade de participar pela primeira vez de uma COP, sem dúvida uma das experiências mais marcantes das nossas carreiras na área de transição energética.
Com mais de 65 mil participantes, tudo na COP é superlativo. Do porte do evento à quantidade de debates interessantes, das oportunidades de trocas ao tamanho dos espaços, das filas para comprar comida às possibilidades de cruzar nos corredores com as figuras que mais nos inspiram nesse desafio de combater as mudanças climáticas.
Nesta COP, em particular, logo no começo essa grandiosidade se transformou em otimismo, tendo em vista o acordo do mercado de carbono fechado no início das negociações. Mas a frustração com os parcos resultados obtidos na área de financiamento climático fechou o evento em direção contrária.
Frustrante também foi acompanhar, de perto, a falta de compromisso de diversos países de reduzirem o uso de combustíveis fósseis, bem como os lobbies em favor dessas fontes sujas e inúmeros casos de greenwashing empresarial.
O fato é que o evento de certa forma condensa, em duas semanas, os desafios e as oportunidades que enfrentamos no dia a dia do nosso trabalho em defesa da descarbonização da indústria brasileira e de que maneira isso pode ser positivo tanto para o nosso país como para outras geografias muito dependentes de combustíveis fósseis.
O ponto alto nesse sentido foi o fato de essa descarbonização industrial ter assumido um protagonismo inédito na pauta, refletindo a possibilidade de transformação dos processos produtivos como alternativas para a mitigação dos impactos ambientais nos países.
O interesse internacional nessa direção fortalece nossa tese de que o país pode usar a abundância de recursos energéticos renováveis para descarbonizar indústrias existentes e atrair novos investimentos nessa área, ampliando a fabricação de produtos de baixas emissões de carbono e com maior valor agregado.
Ou seja, uma condição que pode reduzir nossas próprias emissões e colaborar com a descarbonização de outras nações, mas com a vantagem adicional de proporcionar retornos financeiros típicos de projetos industriais de alta competitividade. Dessa forma, além dos benefícios climáticos, esse tipo de investimento industrial pode proporcionar taxas de retorno competitivas.
Cobrimos por aqui:
Desafios para Belém
Diante disso, apesar da frustração com o baixo financiamento aprovado especificamente para a questão climática, voltamos da COP confiantes de que há espaço para intensificarmos a estratégia de powershoring no país, com efeitos potencialmente muito positivos tanto em termos de investimentos como de redução de emissões.
Destaque ainda para o fato de que a COP de Baku também serviu, para nós brasileiros, como aperitivo dos desafios do nosso papel como anfitriões em Belém no ano que vem. Fica nítido que a nossa tradicional simpatia não será suficiente para garantir a hospitalidade necessária para as delegações: infraestrutura e organização são aspectos-chave para o sucesso do evento.
Ao mesmo tempo, precisamos ter cuidado para não exagerarmos na expectativa em relação ao desempenho brasileiro no processo, particularmente diante da timidez dos resultados obtidos no Azerbaijão.
Nesse contexto, fica o alento da Secretária Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ana Toni, ao final da conferência: o fato de as discussões serem no Brasil não impossibilita que tenhamos avanços nas negociações. Na realidade, além de se organizar em termos técnicos e de infraestrutura, a prioridade é o trabalho da nossa diplomacia desde já, garantindo alinhamentos e prerrogativas pré-conferência que ditarão as bases das discussões em Belém.
Voltamos da COP revigoradas e esperançosas em relação aos desafios que vem por aí: há muito a ser feito, mas também há muita gente séria envolvida e realmente dedicada a fazer a diferença.
Mais, diante da importância do Brasil no que diz respeito à descarbonização industrial e da liderança da COP no ano que vem, retomamos nossas atividades por aqui muito orgulhosas por podermos atuar entre os protagonistas nos debates sobre o grande desafio do nosso tempo – um debate que tem tudo de superlativo, mas que também tem de ser construído com foco nos detalhes e um passo de cada vez.
Marina Almeida é especialista em Transição Energética do Instituto E+ Transição Energética.
Simone Klein é especialista em Indústria do Instituto E+ Transição Energética.