BRASÍLIA — Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgada nesta quarta (13/8) indica que a maior parte dos industriais brasileiros está apostando na COP30 como uma oportunidade para fortalecer sua imagem no exterior, ampliando o protagonismo do país na agenda climática.
O levantamento entrevistou 1000 executivos de pequenas, médias e grandes empresas entre maio e junho de 2025, e identificou que 54% considera a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro, em Belém (PA), relevante para os negócios.
A mesma proporção avalia que o evento trará impacto positivo ou muito positivo para o setor. As maiores taxas de expectativa estão nas regiões Norte-Centro-Oeste (64%) e Nordeste (60%).
Além disso, 75% dos empresários acreditam que a COP30 pode fortalecer a imagem da indústria brasileira no exterior, especialmente como fornecedora de soluções para lidar com a crise climática global.
Energias renováveis, hidrogênio verde e biocombustíveis são alguns exemplos.
“Biocombustíveis é um dos pilares que levaremos para a COP30”, conta à agência eixos o chair da Sustainable Business COP30 (SB COP), Ricardo Mussa.
“Quando olhamos transição energética, é algo que já está pronto, utiliza a infraestrutura atual e, principalmente para os [setores] difíceis de abater, como marítimo e aviação, é a solução e o Brasil tem algo concreto para levar”, completa.
Iniciativa criada pela CNI, a SB COP é um fórum empresarial que está reunindo propostas do setor privado global com foco na transição para uma economia de baixo carbono.
A intenção é fazer uma curadoria de experiências e soluções desenvolvidas pela indústria em diferentes países que poderiam ser escaladas e priorizadas em estratégias nacionais. Até meados de setembro, o fórum espera divulgar 40 projetos selecionados.
Eles serão levados a Belém, como parte da contribuição do setor privado à agenda de ação climática.
Desafio do financiamento
“O dado de que mais da metade da indústria vê a COP30 com otimismo confirma o que já sabemos: o setor produtivo está comprometido com a agenda climática”, avalia Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da CNI.
No entanto, o custo de capital ainda impõe desafios aos investimentos para a transição industrial.
A pesquisa da CNI aponta que apenas 12% enxerga o ambiente regulatório brasileiro favorável aos investimentos em sustentabilidade e baixo carbono.
Houve também uma queda em relação a 2024 no percentual dos interessados em crédito para financiar ações sustentáveis: recuou para 66% em 2025, ante 72% no ano passado.
A COP30 deve retomar as negociações da COP29, de Baku, no Azerbaijão, em torno do financiamento climático.
A conferência terminou com a aprovação da Nova Meta Coletiva Quantificada de Financiamento Climático (NCQG, em inglês) prevendo alcançar US$ 300 bilhões anuais até 2035, com uma aspiração de chegar a US$ 1,3 trilhão por ano.
Em Belém, os países devem avançar na definição dos caminhos para mobilizar os recursos necessários à implementação da nova meta, estabelecendo mecanismos, fontes e instrumentos financeiros.
“A COP30 é uma oportunidade para transformar ambição em ação. É preciso garantir mecanismos de financiamento que viabilizem os compromissos assumidos e apoiem, especialmente, os países em desenvolvimento”, comenta Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI.
“Para a indústria brasileira, isso significa ampliar investimentos em inovação e descarbonização”, pontua.
Nesta terça (12/8), o presidente Lula disse que o Brasil irá propor, na COP30, que países ricos paguem uma tarifa para conter as mudanças climáticas. Deve enfrentar resistências, no entanto, diante do clima de incertezas globais e inflação.