FLORENÇA (IT) — Investidores privados precisam de previsibilidade para investir na transição energética de países em desenvolvimento, afirmou, nesta segunda-feira (19/5), a sócia-fundadora da eB Capital Luciana Antonini Ribeiro, durante mesa redonda promovida pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) com apoio da Nature4Climate.
Em novembro de 2024, a 29ª Conferência Climática das Nações Unidas (COP29) encerrou com um acordo de que os países ricos deverão liderar a mobilização de pelo menos US$ 300 bilhões anuais até 2035 para países em desenvolvimento investirem em ação climática. Entretanto, os países em desenvolvimento consideram o valor insuficiente e querem US$ 1,3 trilhão anualmente até 2035.
Segundo Ribeiro, o grande desafio da previsibilidade ao se tratar de infraestrutura é que a legislação de quase todos os projetos é a nível local, o que leva investidores a terem que se adaptar a diferentes legislações sem a previsibilidade de quanto tempo vai demorar a aprovação do projeto.
“Você tem situações nos Estados Unidos em que projetos de infraestrutura fundamentais para que a gente tenha o destravamento de investimentos, demore 12 anos. Qual é a probabilidade de um investidor privado entrar num projeto que vai demorar 12 anos para ser aprovado? Não existe”, disse a executiva.
Outro desafio no financiamento de ações nas nações em desenvolvimento por capital estrangeiro é a variação do risco cambial. Uma situação que pode ocorrer é os investidores terem retorno na moeda do país, mas prejuízo na conversão para dólar.
No ano passado, o governo lançou o Programa de Mobilização de Capital Privado Externo e Proteção Cambial, o Eco Invest Brasil, com a expectativa de atrair investidores estrangeiros e reduzir o risco de projetos verdes no país através de mecanismos de proteção cambial.
Entretanto, a executiva considera que a plataforma não é suficiente para resolver o problema.
“Isso resolve um pedaço da equação, que é a equação que pode atrair capital com redução de custo de hedge (mecanismos de proteção contra riscos financeiros). Existe toda uma discussão vinculada a equity (capital investido por sócios) que hoje ainda não está resolvida e que a gente precisa endereçar”, afirmou.
Incertezas econômicas e geopolíticas
O risco político é visto por profissionais seniores de energia como a principal barreira ao crescimento do investimento na transição energética, de acordo com pesquisa da DNV realizada com mais de 1.100 pessoas.
Segundo relatório da empresa, no início do ano, o Índice de Incerteza da Política Econômica Global chegou a um recorde histórico. Entre os fatores agravantes está a guerra comercial iniciada pelos EUA.
O cenário levou ao crescimento em 7 p.p. do número de executivos do setor do petróleo e gás cujas organizações priorizarão combustíveis fósseis em vez de energias renováveis nos próximos cinco anos — 53% em 2025, ante 46% em 2024.