Internacional

Consórcio global lança primeiros modelos de passaporte de bateria

Global Battery Alliance quer estabelecer uma cadeia de valor até 2030; os passaportes vão monitorar o desempenho de sustentabilidade de baterias elétricas, como a pegada de CO2 e a taxa de reciclagem

Consórcio global lança primeiros modelos de passaporte de bateria. Na imagem: Consórcio Global Battery Alliance, criado para monitorar o desempenho de sustentabilidade de baterias elétricas, durante reunião no Fórum Econômico Mundial 2023, em Davos (Foto: Sandra Blaser/WEF)
Aliança quer estabelecer uma cadeia de valor de bateria sustentável até 2030 (Foto: Sandra Blaser/WEF)

BRASÍLIA — A Global Battery Alliance (GBA, na sigla em inglês), consórcio de montadoras, fabricantes de baterias e organizações governamentais e não-governamentais, apresentou nesta quarta (18/1) os primeiros modelos de passaportes de baterias. O lançamento oficial ocorreu durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

A tecnologia busca monitorar o desempenho de sustentabilidade das baterias elétricas, mensurando a pegada de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e a taxa de reciclagem dos materiais.

Três protótipos foram anunciados ao longo do evento, dois modelos da Audi e um modelo da Tesla. A aliança quer estabelecer uma cadeia de valor de bateria sustentável até 2030.

Na prática, os passaportes vão gerar dados sobre o fluxo dos materiais brutos gerenciados durante o processo de fabricação — como o local onde os metais foram extraídos e refinados e até como as células da bateria foram feitas. Tanto os proprietários dos veículos elétricos quanto as empresas poderão ter acesso ao armazenamento.

As informações sobre a qualidade da bateria e segurança ambiental serão padronizadas e estocadas em uma nuvem. Os dados ajudarão a determinar como a bateria será reutilizada e reciclada posteriormente. Cada bateria terá um QR Code para o rastreamento.

Durante o painel Why we need battery passports, no terceiro dia do Fórum de Davos, especialistas avaliaram que a transparência aos consumidores é uma das principais metas para a implementação da ferramenta.

Segundo o CEO do Eurasian Resources Group (ERG), Benedikt Sobotka, “o passaporte da bateria trará níveis novos de transparência na cadeia de suprimentos, do começo ao fim”.

O empresário, que esteve envolvido no desenvolvimento do passaporte, assegura que o produto é “tangível para os clientes”, e o descreve como um “gêmeo digital da bateria física encontrada nos carros”.

Compromisso ESG e net-zero

Além de fiscalizar o desempenho das empresas no que diz respeito à governança ambiental, social e corporativa (ESG, em inglês), a ferramenta tem o objetivo de atender às metas do Acordo de Paris e, desta forma, contribuir para a neutralização dos setores de transporte e de energia.

Martin Brudermüller, CEO da BASF explica que as taxas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) durante a fabricação de baterias convencionais podem crescer cerca de 30% até 2030 nas indústrias, mas é possível evitar cerca de 70 bilhões de toneladas de CO2 até 2050.

A inovação também pretende solucionar obstáculos na etapa de reciclagem, incentivando o aproveitamento e a capacidade de materiais descartados, como o lítio, promovendo a economia circular. 

“Teremos que reciclar de 10 a 12 milhões de toneladas de materiais de bateria em um futuro muito próximo”, alerta Sobotka. 

Desafios na cadeia de fornecimento

Um dos maiores desafios para a expansão dos passaportes de baterias é a cadeia de fornecimento de armazenamento de energia, que é altamente complexa. 

“O material de bateria pode ser produzido na África, enviado para o refino na China, depois para a Coréia, para o Japão, e do Japão para os Estados Unidos. Então você teria uma unidade dessa bateria que daria a volta ao mundo duas ou três vezes antes de realmente acabar no veículo”, explica Sobotka. 

Com os avanços das discussões, as questões regulatórias estão sendo vislumbradas entre os membros da aliança. 

De acordo com a diretora executiva da GBA, Inga Petersen, as regras para a manutenção e organização dos dados se encontram em fase de elaboração. 

“Acreditamos que o mercado selecionará seus próprios instrumentos e haverá muita concorrência entre os diferentes sistemas de TI”, comenta a executiva. 

“Gostaríamos de orquestrar um ecossistema para que as diferentes soluções possam conversar umas com as outras, emitir informações comparáveis ​​e relatos consistentes”, completa.

Passaporte na União Europeia

Em abril do ano passado, a Alemanha anunciou o desenvolvimento dos passaportes de baterias destinados ao monitoramento das emissões de CO2 dos produtos importados ou fabricados pela União Europeia (UE). O país investiu 8,2 milhões de euros para a concepção da classificação de sustentabilidade. 

Na época, o governo alemão contou com a parceria de 11 empresas, incluindo as montadoras BMW e a Volkswagen, até indústrias químicas responsáveis pelo desenvolvimento das baterias, como a BASF e Umicore. 

As testagens para o estabelecimento de padrões técnicos terá duração de três anos. Após isso, os veículos elétricos recarregáveis, transportes leves e baterias, vendidos na UE, precisarão publicizar sua pegada de carbono e, a partir de 2027, terão que cumprir um limite de emissões de GEE.

Em 2026, o uso do passaporte de bateria será obrigatório no bloco econômico, com expectativas de avanço para outras nações.