Ponte do G20 para a COP30

Clima e energia estão entre prioridades da presidência do Brasil no Brics em 2025, diz ministra

"Vamos fazer poucos compromissos, mas tentar entregar resultados”, diz Paula Barboza

16ª Cúpula do Brics em Kazan. na Rússia, em outubro de 2024 (Foto Sergey Bobylev/Photohost agency brics-russia2024.ru)
16ª Cúpula do Brics em Kazan. na Rússia, em outubro de 2024 | Foto Sergey Bobylev/Photohost agency brics-russia2024.ru

RIO – Em janeiro de 2025, o Brasil assume a presidência do Brics com uma agenda que inclui a transição energética e a reforma dos mecanismos financeiros globais, em que pretende fazer uma ponte entre os acordos alcançados durante a presidência do G20, este ano, e a COP30, que acontece em Belém, no final do ano que vem.

Atualmente, o Brics é um grupo de países do Sul Global formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Irã e Arábia Saudita – este último ainda não integrado formalmente. 

Além dos países-membros, este ano foram anunciados os países parceiros, que incluem Cuba, Bolívia, Turquia, Cazaquistão, Belarus, Tailândia, Vietnã, Nigéria, Uganda, entre outros.

Segundo a ministra Paula Barboza, chefe da Coordenação-Geral de Negociações Comerciais Extrarregionais do Itamaraty, responsável pela cúpula do Brics no ano que vem, o Brasil pretende aproveitar a oportunidade para alcançar um alinhamento entre os compromissos nacionais dos países-membros, conhecidos como NDCs, a fim de garantir a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C.

“Um dos temas principais que a gente vai tratar nessa área de mudança do clima e meio ambiente é justamente na área de financiamento de projetos e na área de alinhamento dos NDCs”, afirmou à agência eixos, durante evento promovido pelo Centro de Estudos e Pesquisa Brics, nesta quarta (11/12), no Rio de Janeiro. 

Cinco prioridades da agenda brasileira

Barboza explica que a agenda da presidência do Brasil possui dois eixos principais: a reforma da governança global e a cooperação Sul-Sul.

Esses eixos serão o alicerce para avançar em cinco prioridades, que incluem a mudança do clima e as transições energéticas, além da reforma do sistema financeiro e monetário internacional; a governança da inteligência artificial; a cooperação em saúde pública; e o desenvolvimento institucional do Brics.

“Vamos discutir temas de financiamento de projetos voltados à sustentabilidade, inclusive mudança do clima e qualquer projeto ligado à mitigação e adaptação”, revela. 

A ministra destaca que, diferente das discussões que ocorreram na COP29 de cobrança por financiamento climático com recursos de países ricos, no Brics, o foco será no papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) – conhecido como banco do Brics. 

“Essa questão com os países ricos pode estar num pano de fundo, mas no Brics mesmo a discussão deve ficar em torno do financiamento do NDB. Minha expectativa é que haja algum resultado mais prático (…) Vamos fazer poucos commitments (compromissos), mas tentar entregar resultados”, avalia. 

A 29ª Conferência Climática das Nações Unidas terminou com o compromisso de países ricos em liderar a mobilização de pelo menos US$ 300 bilhões anuais até 2035 para países em desenvolvimento investirem em ação climática. Um valor muito aquém dos US$ 1,3 trilhão anuais esperados. 

Grandes produtores de óleo e gás

Ela lembra que os membros do Brics, incluindo a Arábia Saudita, são responsáveis por 43% do petróleo, 53% das reservas de gás natural e 70% do carvão, além das grandes reservas de minerais críticos, o que evidencia a importância estratégica do bloco na definição de soluções globais para a crise climática

Nesse contexto, o Brasil, com sua matriz elétrica predominantemente limpa e uma matriz energética com maior participação de biocombustíveis, assume um papel de liderança para na agenda de transição energética.

“Justamente porque é um bloco diferente de nós, que é um desafio. É importante você conversar, consertar. Ainda que as posições sejam diferentes, você tem que sentar e conversar. Diplomacia é isso. É sentar com o diferente”, avalia. 

“O Brics é um ótimo espaço para a gente discutir com países com matrizes energéticas tão diferentes da brasileira. Por isso, pode ser considerado um momento prévio à COP30. Então, nós estamos utilizando um foro com países que estarão importantíssimos na COP30 e estaremos tendo discussões prévias, o que é um privilégio”, completa.

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