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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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Pernambuco se juntou nesta última semana aos estados brasileiros vítimas dos extremos climáticos que tendem a se tornar cada vez mais frequentes caso o mundo não consiga limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o fim do século, como alertam os cientistas.
Só nos últimos seis meses, tivemos situações semelhantes no início do ano em Petrópolis, no Rio, e em São Paulo, além das chuvas que assolaram o sul da Bahia, no final do ano passado.
De acordo com o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC, sigla em inglês), entre os anos de 2010 a 2020, o número de mortes causadas por inundações, secas e tempestades foi 15 vezes maior.
Na capital de Pernambuco, o acúmulo de água já é o maior registrado nos últimos 50 anos, segundo a prefeitura do Recife e vitimou, até o momento de publicação desta matéria, 91 pessoas, além de 26 desaparecidos. Cerca de 5 mil pessoas estão desabrigadas.
Em entrevista à agência epbr, Moacyr Araújo, coordenador da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), explica que houve uma coincidência de dois fenômenos climáticos que ocorreram de forma intensa.
Um desses fenômenos é chamado de ‘piscina quente’ — causado pela alta temperatura em uma região do oceano, sempre superior a 27ºC — que está mais quente que o normal.
Adicione-se a essa equação falhas no planejamento urbano e destruição de mangues, e a conta do desastre está fechada.
“Recife foi e continua sendo uma cidade ocupada irregularmente. Quando se aterra uma área de rios, manguezais ou espaços de vegetação para construir prédios ou casas, por exemplo, acontece o que nós estamos vendo porque a água vai procurar espaço para passar”, comenta o gestor ambiental Herbert de Souza Andrade.
“O que vai causar a enchente é que, a partir de um aterro, se perde a capacidade de drenar a água e essa água vai transbordar e invadir a cidade. É essa falta de planejamento urbano que causa tudo isso”, completa.
A situação se agrava porque os maiores impactados são pessoas em situação de vulnerabilidade, que vivem em lugares com menos infraestrutura e acesso a serviços básicos como saúde e locomoção, por exemplo.
Ainda segundo o levantamento da ONU, mais de 3 bilhões de pessoas vivem em espaços mais suscetíveis às mudanças climáticas. Os lugares com taxas de vulnerabilidade mais altas estão particularmente situados na África Ocidental, Central e Oriental; Sul da Ásia; América Central e do Sul. Leia na reportagem de Ana Guerra, da agência epbr
Cobrimos por aqui:
- COP27, justiça climática e as lições de Petrópolis
- Acordo de Paris está no limite e rota até 2050 vai determinar extensão dos danos, aponta IPCC
- Clima tem que incorporar dimensões de classe, etnia e gênero
Vale lembrar que o governo brasileiro vem jogando contra quando o assunto é conter as emissões de carbono que causam as alterações climáticas.
Levantamento do MapBiomas, rede colaborativa de ONGs, universidades e startups, mostra que quase 98% dos alertas de desmatamento no Brasil desde janeiro de 2019 não possuem registro de ação de fiscalização ou autorização — no ano passado, as queimadas fizeram com que a Amazônia perdesse sua capacidade de absorver CO₂ e se tornasse uma emissora.
Nesta segunda (30/5), a consultoria socioambiental Synergia divulgou um estudo mostrando que garimpo e extração de madeira ilegais podem ser causa de 442 focos de incêndio na Amazônia Legal no primeiro trimestre.
De acordo com o estudo, somente no primeiro trimestre de 2022, os focos de calor no primeiro trimestre deste ano ocorreram em regiões onde há registros recentes de ocupações, principalmente por conta de garimpos ilegais — como é o caso das áreas próximas ao Rio Negro.
Os focos também aparecem onde há intensificação de conflitos históricos de ocupações irregulares de terras, extração ilegal de madeira e garimpos ilegais — como é o caso de terras indígenas localizadas em Roraima: Yanomami, São Marcos e Raposa Serra do Sol, essa última com 154 focos nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2022.
Clima e energia Eventos climáticos extremos, crescente demanda por renováveis e a necessidade de soluções de energia mais resilientes e flexíveis estão levando os consumidores comerciais e industriais a reorientar o armazenamento de energia e reexaminar suas opções, inclusive apostando na digitalização.
“Atrás do medidor, muitas coisas estão acontecendo. Seja o cliente de varejo, com várias lojas, ou um cliente industrial, uma mina ou refinaria, com necessidades de energia que sobem e descem”, diz Prudence Hoffman, gerente geral interina e líder técnica da equipe de armazenamento de energia da Honeywell Process Solutions.
Em entrevista à agência epbr, ela aponta algumas tendências no armazenamento de energia.
Casa dos Ventos firma PPA com Lightsource bp A parceria, com duração de 10 anos, é o primeiro PPA (Power Purchase Agreements) solar de longo prazo que a Casa dos Ventos assina como compradora de energia e marca o início da operação da Lightsource bp no Brasil, com seu primeiro projeto em energia solar.
O contrato de geração de energia, por meio da planta solar Milagres, terá duração de 10 anos. A construção da planta de Milagres (210MWp), em Abaiara, no estado do Ceará, já foi iniciada e terá duração de 21 meses, com previsão de geração no início de 2024.
EDPR contrata CAEs para projeto eólico. A EDP Renováveis obteve dois Contratos de Aquisição de Energia (CAEs) a 15 anos no leilão de energia renovável brasileiro (A-4) para a venda de energia limpa produzida por 93 MW de um projeto eólico com 124 MW de capacidade total instalada.
Os projetos eólicos estão localizados no estado da Paraíba e têm previsão para entrar em operação em 2025.
Com os novos CAEs, a EDPR tem agora 2,2 GW de capacidade assegurada na América do Sul e um total global de 9,8 GW de capacidade renovável assegurada para o período de 2021-25.
Chamada para reduzir gasto com energia na indústria. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou uma chamada pública para empresas interessadas em reduzir custos com energia.
Ao todo, serão destinados R$ 20 milhões em quatro anos no Programa Aliança 2.0, para aumentar os ganhos de eficiência energética nos processos de produção. Os projetos serão desenvolvidos em 24 indústrias energointensivas.
As empresas selecionadas receberão, cada uma, um aporte de R$ 400 mil e precisarão oferecer uma contrapartida no mesmo valor. Além disso, assumem o compromisso de implementar um plano de ação acordado e construído junto com a equipe técnica do projeto.