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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Analistas da McKinsey apontam que o fornecimento de muitos minerais e metais necessários para a fabricação das principais tecnologias de baixo carbono enfrentará uma escassez até 2030, mesmo na atual trajetória de investimentos ainda distantes da meta de 1,5ºC.
De acordo com o levantamento, alguns materiais como o níquel devem sofrer escassez modesta (aproximadamente 10 a 20%), enquanto outros, como o disprósio, que é um material magnético usado na maioria dos motores elétricos, podem sofrer escassez de até 70% da demanda.
“A menos que ações de mitigação sejam implementadas, essa escassez provavelmente prejudicaria a velocidade global da descarbonização porque os clientes não conseguiriam mudar para alternativas de baixo carbono”, observa a análise.
Além disso, a disputa por matéria-prima tende a gerar a picos de preços e volatilidade entre os mercados, tornando as tecnologias mais caras e reduzindo a velocidade da transição.
Não à toa, o acesso a esses materiais esteve em evidência esta semana na cúpula de países latino-americanos e caribenhos e da União Europeia.
O bloco europeu, formado por países ricos e industrializados, busca acordos com a América Latina para garantir uma cadeia de suprimentos.
A cúpula CELAC-UE rendeu, por exemplo, um acordo com o Chile para suprimentos essenciais a setores-chave da descarbonização europeia, como a indústria de veículos elétricos.
Assim como outras tecnologias de transição, os veículos elétricos exigem mais minerais quando comparados com seus concorrentes convencionais na fase de produção.
“Os veículos elétricos a bateria (BEVs) são tipicamente 15 a 20% mais pesados do que os veículos com motor de combustão interna comparáveis e, portanto, se tornarão um fator importante para a demanda de materiais nas próximas décadas”, exemplifica a McKinsey.
Gargalos e rupturas
A geração de eletricidade a partir dos ventos também adiciona pressão à cadeia de suprimentos. Projetada para chegar a 2 terawatts em 2030, a indústria eólica enxerga risco de rupturas que podem atrapalhar novas adições a partir de 2026.
Um mapeamento do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês) indica que tanto os EUA quanto a Europa provavelmente verão gargalos no fornecimento de turbinas e componentes já em 2025, como resultado da corrida verde das duas economias.
Segundo a McKinsey, os investimentos em mineração, refino e fundição precisarão aumentar para até US$ 4 trilhões até 2030 – isto é, cerca de US$ 300 bilhões a US$ 400 bilhões por ano).
Além de um adicional de 200 a 500 gigawatts de energia (idealmente de baixo carbono), que precisará entrar em operação até 2030 para alimentar esses ativos. Esse volume equivale a 5-10% da capacidade de eólica e solar estimadas até 2030.
Vale dizer, a criação de empregos também tende a crescer. Os analistas esperam uma demanda por 300 mil a 600 mil novos profissionais especializados em mineração.
- Leia também: Empregos em renováveis crescem, mas sem diversidade
Concentração
“Continuaremos a ver uma alta concentração de suprimentos de minerais e metais em um punhado de países, incluindo, por exemplo, a China (elementos de terras raras), a República Democrática do Congo (cobalto) e a Indonésia (níquel)”, avalia a McKinsey.
E o cenário regulatório cada vez mais focado na regionalização, exemplos das leis de Redução da Inflação dos EUA e da Indústria Net Zero da UE, ameaçam potencializar essa conjuntura.
Os especialistas alertam que a concentração de suprimentos pode afetar o acesso regional a materiais, mesmo quando o mercado global está equilibrado.
“Ao mesmo tempo, tal concentração também poderia oferecer oportunidades para países mineradores tradicionais desenvolverem atividades de refino internamente”, completam os analistas.
Nos planos do governo brasileiro
Recentemente, governo e BNDES formaram um grupo de trabalho para avaliar áreas estratégicas para financiamento, no contexto de transição. Entre elas, a criação de uma cadeia de suprimentos e produção de painéis fotovoltaicos e minerais críticos à transição energética, dentro da própria região de extração no Brasil.
O país marcou sua entrada no mapa global do lítio em maio, com o lançamento da iniciativa Lithium Valley Brazil, na bolsa de valores de Nova York, Nasdaq.
A iniciativa, liderada pelo governo de Minas Gerais em conjunto com o Ministério de Minas e Energia (MME), tenta atrair investimentos internacionais para exploração do lítio no Vale do Jequitinhonha, norte mineiro, que concentra a maior reserva desse mineral no Brasil.
Políticas para a cadeia do lítio também estão na agenda de reindustrialização do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
O CNDI trabalha em diretrizes para a exploração mineral, considerando sustentabilidade, transição energética e desenvolvimento tecnológico. Faz parte de um movimento para atrair investimentos para a cadeia do lítio e estabelecer um polo industrial para o minério.
Cobrimos por aqui:
- Gás natural, lítio e combustíveis em agenda bilateral com Argentina
- Deputados mineiros discutem criação de Polo de Lítio
- Brasil pode se posicionar como produtor confiável de minerais críticos, diz diretor da Vale
- Como o Brasil pode entrar na rota do aço verde
Curtas
Consumo de energia em queda
Projeções da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) indicam que a taxa de crescimento do consumo de eletricidade em todo o mundo diminuirá à medida que países mais ricos lidam com os efeitos contínuos da crise energética e a desaceleração econômica global.
Na União Europeia e no Japão, a procura por energia deve declinar 3%. Já nos Estados Unidos, a demanda deve cair quase 2% este ano.
Segurança climática e adaptação
Chamada pública do BNDES com Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) da ONU vai destinar cerca de R$ 1 bilhão para desenvolvimento de projetos de segurança alimentar e de adaptação às mudanças climáticas no semiárido nordestino. Até quatro projetos serão escolhidos no edital Sertão Vivo. Agência Brasil
Weg cresce com negócios de energia
A Weg encerrou o segundo trimestre de 2023 com lucro líquido de R$ 1,37 bilhão, o que representa um crescimento de 49,9% ante o apurado no mesmo período do ano passado. De acordo com a companhia, o resultado se deve ao “bom desempenho dos negócios de ciclo longo”, que fabrica produtos para projetos de grande porte, como linhas de transmissão e energia eólica. Broadcast
El Niño exacerba o aquecimento global
O aquecimento global causa uma atmosfera mais quente e úmida, o que vem adicionando intensidade a eventos climáticos extremos há décadas. E em junho chegou o padrão climático El Niño, que está adicionando combustível.
Globalmente, junho foi o junho mais quente nos registros de 174 anos mantidos pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, em inglês). O Canadá está em uma temporada recorde de incêndios florestais. O gelo marinho está no nível mais baixo de todos os tempos. CNBC
Hidrogênio verde de biomassa
A Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK Rio) e o Ministério para Assuntos Econômicos e Proteção Climática da Alemanha (BMWK) realizam no dia 3 de agosto a Conferência Brasil-Alemanha: hidrogênio verde e derivados a partir da biomassa. Com foco na cadeia de valor do hidrogênio renovável e derivados, o evento ocorre no AQWA Corporate, Rio de Janeiro. Inscrições
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