Combustíveis e Bioenergia

Transição econômica: substituição de SUVs tradicionais por híbridos 

Com maior porte e conforto associados, venda de SUVs disparou no Brasil nos últimos cinco anos, ocupando fatias crescentes do mercado

Transição econômica: substituição de SUVs tradicionais por híbridos. Na imagem: SUV híbrido flex branco da Toyota; na porta do lado do motorista está escrito, em verde: HEV-FFV – híbrido flex (Foto: Reprodução VRUM)
Os dois principais veículos SUVs híbridos vendidos no país em 2022 apresentaram rendimento médio de 17,8 km/L de gasolina na cidade, um rendimento 70% superior aos SUVs convencionais (Foto: Reprodução VRUM)

Os Sport Utility Vehicles, chamados de SUVs (sigla em inglês), caíram no gosto do brasileiro. Tradicionais no mercado europeu e norte americano, caracterizados pelo maior porte e conforto associados, a venda de SUVs disparou no Brasil nos últimos cinco anos, ocupando fatias crescentes do mercado.

Por serem maiores e mais pesados, ou ainda de maior potência, o consumo de combustível acaba sendo sensivelmente maior do que o de veículos compactos e médios vendidos no país.

O efeito disso é a necessidade de maior oferta de combustível e maiores emissões de gases de efeito estufa (GEE) por consequência, que se contrapõem aos esforços que miram justamente o contrário na transição energética.

Mundo afora, os SUVs têm sido alvo de intensa crítica. Se toda a frota mundial de SUVs fosse reunida e considerada um país, seria o sexto maior emissor global de GEE (IEA, 2022). A frota global de SUVs aumentou rapidamente, de menos de 50 milhões em 2010 para cerca de 320 milhões em 2021 — equivalente à frota total de automóveis da Europa.

Como tal, os SUVs estão entre as principais causas do crescimento das emissões de dióxido de carbono na última década (ver Figura 1), a frente de segmentos tradicionais como indústria pesada, aviação e navegação. Substituí-los ou torná-los mais eficientes acaba sendo uma necessidade na agenda energética global. No Brasil, não é diferente.

Figura 1: Crescimento das emissões de CO2 por subsetor de energia de 2010 a 2021 (Fonte: adaptado de IEA, 2022)
Figura 1: Crescimento das emissões de CO2 por subsetor de energia de 2010 a 2021 (Fonte: adaptado de IEA, 2022)

Atualmente, a rota mais econômica para conter as emissões de carbono dos SUVs é investir nos modelos híbridos, dado que é possível aproveitar a infraestrutura existente e que o preço de aquisição dos híbridos está cada vez mais próximo ou até menor do que alguns SUVs típicos (Tabela 1).

A substituição de um tradicional SUV por um veículo híbrido gera uma redução significativa no consumo de combustível e emissões associadas.

Na Tabela 1, vemos preços anunciados dos três principais SUVs e veículos híbridos emplacados no Brasil em 2021; com preços de referência de out/2022 (Fonte: elaboração própria).

Rank. (2021)

SUV compacto

(R$/veículo)

SUV médio

(R$/veículo)

SUV grande

(R$/veículo)

Híbrido 

(R$/veículo)

1º mais emplacado 133.000 178.000 378.000 159.000
2º mais emplacado 106.000 159.000 379.000 154.000

Fazendo as contas

Os números a seguir seguem dados da participação de emplacamentos divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e testes de consumo do Inmetro no Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE).

Desde 2017, o Brasil ganhou uma frota de aproximadamente 2,5 milhões de SUVs. Considerando que, em média, um SUV apresenta rendimento de 11 km/L de gasolina na cidade e que estes veículos percorrem 15.000 km por ano, tem-se um consumo anual estimado de 3,4 bilhões de litros de gasolina associado somente a frota de SUVs do quinquênio 2017-2021.

Em contraponto, os dois principais veículos híbridos vendidos no país em 2022 apresentaram rendimento médio de 17,8 km/L de gasolina na cidade, ou seja, têm rendimento 70% superior aos SUVs convencionais.

Supondo que os 2,5 milhões de SUVs fossem substituídos por esses híbridos, teríamos uma economia estimada de 2,4 bilhões de litros de gasolina por ano no país, o que representa 6,3% do consumo nacional, segundo média dos últimos três anos.

Em termos de emissões de carbono, a redução estimada seria da ordem de 40% com híbridos não plugáveis, sendo maior, entre 50-55%, com híbridos plugáveis (Híbridos Plug-in).

Grosso modo, estamos falando de reduções aproximadas de 40 a 55% das emissões de gases de efeito estufa na comparação direta entre um SUV subcompacto/médio e um híbrido, dependendo dos modelos em questão.

Por que um híbrido e não um puro elétrico

Os SUVs poderiam também vir a serem substituídos por veículos a bateria sem motor de combustão, os ditos puro elétricos. Este ainda é, porém, um caminho inviável economicamente falando.

Considerando veículos de mesmo porte e os atuais preços de aquisição dos veículos, combustíveis e eletricidade, seriam necessários mais de 1 milhão de quilômetros rodados para valer a pena trocar um híbrido por um puro elétrico (ver simulação da Figura 2), dada a diferença de preços existente entre eles.

Se colocarmos na conta o custo de capital e a necessidade de novos investimentos em infraestrutura de recarga, a situação fica ainda mais desfavorável ao puro elétrico, pelo menos por enquanto. Obviamente, a simulação traz um retrato do momento, que certamente será modificado com o tempo, mas que não invalida a conclusão auferida.

Figura 2: Comparativo entre um veículo híbrido e um elétrico no Brasil em relação ao custo de aquisição e rodagem (Fonte: elaborado por Marcelo Gauto)
Figura 2: Comparativo entre um veículo híbrido e um elétrico no Brasil em relação ao custo de aquisição e rodagem

Mudança de hábitos e menores emissões

Parte importante da transição energética depende da mudança de hábitos dos consumidores. Haverá aqueles que trocarão seus veículos por novas formas de mobilidade urbana, ao passo que outros seguirão inclinados a adquirir veículos particulares de maior porte.

A “hibridização dos SUVs” é um caminho que vai contribuir para atender aos que desejam este tipo de veículo, reduzindo o consumo de combustíveis e as emissões de carbono.

Como demonstrado no artigo, a substituição da frota de SUVs do Brasil por veículos híbridos é uma alternativa que reduziria quase pela metade as emissões de carbono associadas a esta frota. A redução das emissões pode ser ainda maior se o veículo híbrido for Flex rodando com etanol.

O esforço econômico para tal é mínimo ou negativo, dependendo dos veículos comparados, porque a tecnologia já existe a preços competitivos e aproveita a infraestrutura pronta dos combustíveis líquidos que o país dispõe.

A transição energética é certamente um dos maiores desafios socioambientais que se tem pela frente nas próximas décadas. Reduzir as emissões de carbono com o menor impacto econômico possível é ainda mais desafiador. A adoção de tecnologias mais eficientes que já possuem economicidade é um bom caminho a trilhar. Em mercado aberto e competitivo, a decisão caberá ao consumidor, soberano nas suas escolhas. Vai de híbrido?

Cobrimos por aqui:

Referências

FENABRAVE. Anuários. Disponível em: <www.fenabrave.org.br/portalv2/Conteudo/anuarios>. Acessado em outubro de 2022.

IEA. Global SUV sales set another record in 2021, setting back efforts to reduce emissions. Disponível em: <www.iea.org/commentaries/global-suv-sales-set-another-record-in-2021-setting-back-efforts-to-reduce-emissions>. Acessado em outubro de 2022.

Inmetro. Veículos automotivos (PBE Veicular). Disponível em: <www.gov.br/inmetro/pt-br/assuntos/avaliacao-da-conformidade/programa-brasileiro-de-etiquetagem/tabelas-de-eficiencia-energetica/veiculos-automotivos-pbe-veicular>. Acessado em outubro de 2022.