Diálogos da Transição

Rio Grande do Sul reacende discussão sobre transição justa do carvão

Rio Grande do Sul vai elaborar plano de transição justa para regiões carboníferas; Abdan defende nuclear em SC

Rio Grande do Sul levanta o debate sobre transição justa do carvão. Na imagem: Vista das instalações da termelétrica a carvão mineral Candiota (RS), com capacidade instalada de 350 MW, com chaminés emitindo fumaça poluente na atmosfera (Foto: Eduardo Tavares/PAC)
Termelétrica a carvão mineral Candiota (RS), com capacidade instalada de 350 MW (Foto: Eduardo Tavares/PAC)

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Editada por Nayara Machado
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O impacto da redução do uso de combustíveis fósseis na economia do Rio Grande do Sul será objeto de estudo e norte para ações incorporadas ao Proclima 2050, documento com estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas no estado.

O governo estadual recebe, na próxima quinta-feira (1º/2), as propostas de consultorias e assessorias técnicas que vão ajudar na elaboração de um plano estadual de transição energética justa.

Além de mapear soluções para a matriz energética da indústria gaúcha, o objetivo é orientar políticas públicas que irão auxiliar as populações dependentes de atividades ligadas ao carvão a migrar para outras oportunidades econômicas.

O carvão é a fonte de energia com maior intensidade de carbono. A urgência de limitar emissões e controlar o aumento da temperatura global tem colocado pressão sobre a desativação de termelétricas que utilizam o mineral como insumo.

Análise da S&P Global aponta que o carvão provavelmente atingiu seu pico em 2023, com expectativa de declínio a partir de 2024 no cenário mundial. O crescimento do consumo foi impulsionado pela China, mas a expansão das renováveis e mudanças no setor energético indicam que o fóssil começará a perder espaço na matriz.

No Sul do Brasil, onde a população já sente os efeitos da mudança climática, uma preocupação é como realocar as pessoas empregadas nas zonas carboníferas, em meio à iminente redução da demanda por combustíveis fósseis.

“Os consumidores de carvão em escala industrial vão caminhar na busca pelas energias renováveis e se adequar, por uma questão econômica, para o atingimento das metas de redução das emissões. Então vamos trabalhar para oferecer oportunidades para essa população”, explica a secretária de Meio Ambiente de Infraestrutura do estado, Marjorie Kauffman.

Em entrevista à agência epbr, Kauffman afirma que a questão social é um dos principais eixos do estudo, pois um dos maiores desafios é apresentar a transição energética à população gaúcha como uma oportunidade, não como uma punição. Leia na matéria de Gabriela Ruddy

As usinas do RS

Duas das maiores usinas termelétricas a carvão do país estão em terras gaúchas: Pampa Sul, com 345 megawatts (MW), e Candiota III, com 350 MW. As unidades foram alvos de desinvestimentos de grandes grupos com metas de descarbonização do portfólio.

Pampa Sul, que entrou em operação em 2019 com contrato no mercado regulado até 2044, foi vendida pela Engie em 2022, por R$ 2,2 bilhões, para as gestoras Starboard e Perfin. Elas se comprometeram a descomissionar a usina antes do fim da outorga.

Já Candiota foi vendida em 2023 pela Eletrobras para a Âmbar Energia por R$ 72 milhões. O contrato da usina termina em dezembro de 2024. Existe um esforço no setor para a extensão da outorga até 2050, medida incluída nas emendas do projeto de lei das eólicas offshore (PL 11247/2018), que foi aprovado pela Câmara em novembro e seguiu para discussão no Senado.

Alternativa nuclear em SC

De olho na transição do carvão, a Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan) se movimenta para integrar pequenos reatores modulares (SMRs, na sigla em inglês) às termelétricas fósseis no Sul do país.

Em setembro de 2023, a entidade organizou uma visita ao complexo termelétrico Jorge Lacerda, em Santa Catarina, um dos potenciais parceiros para o projeto.

Segundo o presidente da Abdan, Celso Cunha, o objetivo é aproveitar as instalações para gerar uma energia considerada mais limpa.

Ele afirma que as SMRs são menores e mais seguras do que as usinas nucleares de grande porte, e que é possível desenvolver o projeto em parceria com empresas internacionais, que já têm experiência nesse tipo de empreendimento no exterior.

“É muito melhor essa substituição [por SMRs] do que perder todo o empreendimento e deixar de gerar energia. Com o tempo, é possível treinar a mão de obra existente para trabalhar na nova térmica e minimizar o desemprego”, defende Cunha.

Ele observa que o Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo, o que pode ajudar a viabilizar projetos do tipo.

Dona do complexo termelétrico Jorge Lacerda (740 MW), a Diamante Energia não se posicionou sobre a adoção das SMRs até o fechamento desta edição.

Em abril de 2023, a empresa anunciou a criação de uma joint venture com o grupo Nebras Power, subsidiária da Qatar Electricity & Water Company (QWEC), para investir R$ 5 bilhões em dois projetos de termelétricas a gás, em Santa Catarina. Em paralelo, a companhia investe em projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em captura de carbono.

Cobrimos por aqui:

Curtas

234 GW de eólicas offshore

Os projetos para eólicas offshore no Brasil já acumulam 234,2 GW com pedidos de licenciamento no Ibama, mostrando o apetite de grandes empresas no desenvolvimento deste mercado – apesar de o país ainda não ter aprovado um marco legal e da crise que afeta projetos de eólicas offshore pelo mundo.

A TotalEnergies apresentou mais quatro pedidos de licenciamento de parques na costa brasileira. Juntos, os projetos no Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Piauí, somam 12,1 GW em capacidade instalada. A Fiabe Participações também entrou com um pedido de 2,8 GW em um projeto no Espírito Santo.

Presidência do B20

Lançado nesta segunda-feira (29), no Rio de Janeiro, o Business 20 Brazil (B20 Brasil), uma espécie de braço de negócios do G20, será comandado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em dezembro, o Brasil assumiu a presidência do grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo.

Ao longo de uma série de reuniões nos próximos meses, os participantes brasileiros e estrangeiros vão elaborar um documento com demandas e sugestões para os chefes de governo e de Estado que se encontrarão na reunião de Cúpula do G20 em novembro, no Rio de Janeiro.

Trainee para mulheres

Engie, TAG e Jirau Energia estão com inscrições abertas para o Programa de Trainee 2024, com 23 vagas externas afirmativas para mulheres. As vagas estão disponíveis em todas as regiões do país e, para concorrer, é preciso se identificar com o gênero feminino e ter formação em engenharia, administração, economia ou tecnologia da informação entre dezembro/2020 e dezembro/2023. Para algumas vagas, também é necessário possuir um nível de inglês intermediário.