As nações desenvolvidas caminham a passos largos na construção de uma nova economia, verde e sustentável. Este movimento é uma oportunidade para o Brasil deixar de ser o país das eternas oportunidades perdidas e realmente se tornar um pilar relevante para o desenvolvimento econômico.
O mundo demanda comida, minerais e energia renovável, tudo o que o Brasil tem em abundância. Além disso, a quebra nas cadeias de suprimento após a crise da covid-19, e agora com a guerra na Ucrânia, levam a um novo arranjo no como e onde os produtos são manufaturados.
Neste contexto, o país tem a oportunidade de promover um projeto de desenvolvimento sustentável com reindustrialização nacional, geração de empregos e redução das desigualdades sociais a partir de sua condição única para oferecer energia limpa e barata.
O projeto nacional de desenvolvimento sustentável é urgente pois diversos países estão investindo trilhões de dólares e euros na sua transição energética, principalmente na descarbonização. Este movimento global, paralelo a inércia do Brasil, tende a sufocar ainda mais o crescimento do país com a perda da competitividade relativa da nossa matriz energética renovável, principalmente a elétrica.
Vocação energética
Hoje a energia no Brasil é limpa e confiável, mas é cara. Para que ela seja barata, o primeiro passo, aproveitando o início de um novo governo e Congresso, seria um grande acordo no qual as instituições se comprometeriam a não criar ou ampliar subsídios e políticas públicas cujo custo é suportado pelas tarifas de energia.
O segundo movimento seria corrigir as diversas distorções no setor de energia elétrica, eliminando gradualmente todos subsídios existentes, as reservas de mercado e proteções na cadeia da energia.
O marco legal do setor elétrico está defasado e os debates sobre sua modernização estão envelhecidos. Desse modo, o país também precisa avançar com esta grade reforma, criando bases para o desenvolvimento de um mercado de energia justo e sustentável, sem privilégios.
Com efeito, para que o país seja protagonista nesta nova economia verde não podemos simplesmente copiar ou seguir tendências, é preciso liderar a partir da nossa vocação energética. Assim, é importante prestigiar iniciativas nacionais como o uso dos carros a etanol que, afinal, emitem menos gases de efeito estuda (GEE).
Nesse sentido, é importante adotar alternativas favoráveis à nossa atual realidade. Entender soluções de outros países é importante, mas não devemos tropicalizar qualquer iniciativa.
Como exemplo, as eólicas construídas em plataformas no mar, opção que vem sendo adotada por países que não tem espaço e ventos adequados em seus territórios, que só deveriam ser adotadas no Brasil caso fossem mais competitivas do que as construídas em terra.
Outra tendência global, a corrida pelo hidrogênio verde, pode ser uma oportunidade para economia brasileira, se for bem aproveitada. A produção nacional desse novo produto deve demandar a instalação de geração de energia renovável, eólica e solar, em grandes volumes podendo, quiçá, dobrar a capacidade de geração do Brasil apenas para atender essa nova necessidade.
O problema, no entanto, se instala caso essa energia nova produzida continue recebendo os subsídios explícitos e implícitos hoje existentes, e o consumidor brasileiro acabe financiando a produção deste hidrogênio que será utilizado na descarbonização das indústrias europeias, por exemplo, tornando-as mais competitivas. Frise-se: tal movimento, com a nossa conta de luz ainda mais cara, não faria qualquer sentido.
Assim, com uma política equilibrada focada no desenvolvimento sustentável de todos os brasileiros, e não de segmentos específicos, o país tem uma grande oportunidade para atrair investimentos industriais a fim de atender a crescente demanda global por produtos de baixa emissão, verdes.
Perder esta onda seria condenar o país à irrelevância num debate em que devemos ser líderes pelo nosso potencial.
- Opinião | O consumidor não foi convidado para o jantar, mas vai pagar a conta, escreve Clauber Leite, coordenador do Programa de Energia e Sustentabilidade do Idec
Victor Hugo iOcca é diretor de Energia da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace).
Este artigo expressa exclusivamente a posição das autoras e não necessariamente da instituição para a qual trabalham ou estão vinculadas.