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Ministro pede que Petrobras avalie manter sonda no Amapá por tempo adicional

Ofício do ministro Alexandre Silveira (PSD) foi enviado ao presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, após companhia anunciar desmobilização

Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, durante sua a primeira reunião do CNPE (Foto: Tauan Alencar/MME)
Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, durante sua a primeira reunião do CNPE (Foto: Tauan Alencar/MME)

BRASÍLIA – O Ministério de Minas e Energia (MME) enviou para a Petrobras, nesta quinta (18/5), um ofício em que pede para a companhia avaliar manter os esforços no atendimento às exigências do Ibama, para viabilizar o projeto na Bacia da Foz do Amazonas, em águas profundas do Amapá.

No documento, obtido com exclusividade pelo político epbr, o MME também pede ao presidente da estatal, Jean Paul Prates, que avalie “a possibilidade, dentro da mais estrita legalidade, observância das regras de governança e interesse da companhia, de manutenção da sonda e dos recursos destinados à realização do poço mobilizados, por tempo adicional”.

O documento é assinado pelo ministro Alexandre Silveira (PSD), assinado após a Petrobras anunciar que a sonda seria desmobilizada da região, para projetos no Sudeste.

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O que diz o documento?

“(…) tendo em vista a notícia de indeferimento da licença ambiental para a perfuração do poço exploratório no bloco FZA-M-59, solicito que a Petrobras, dentro das suas regras de governança e, em observância à estrita legalidade, reitere o pleito de licenciamento da atividade junto ao Ibama, envidando todos os esforços necessários ao atendimento das condicionantes e comprovação da adequação do projeto para a prospecção segura e sustentável da área”, diz o ministro.

Silveira se reuniu essa semana com representantes da bancada do Amapá no Congresso Nacional e outras forças políticas ligadas ao estado – como o ministro da Integração, Waldez Góes (PDT) e o senadores Davi Alcolumbre (União) e Randolfe Rodrigues, que anunciou sua desfiliação à Rede.

No documento, o ministério diz que o projeto é de “importância estratégica” para a segurança energética e autossuficiência em petróleo do país, e também destaca que há relevância social para os estados diretamente afetados.

“Além da importância estratégica da exploração sustentável da margem equatorial, tendo em vista os aspectos relacionados à segurança energética e manutenção da autossuficiência em petróleo do país, o assunto é fundamental do ponto de vista social, pois propõe-se a alavancar o desenvolvimento de alguns dos estados com os menores IDH do País, por meio da arrecadação de participações governamentais e criação de emprego e renda para a sua população”.

Por fim, pede que a Petrobras avalie manter os recursos destinados ao projeto no Amapá.

“Neste sentido, solicito avaliar a possibilidade, dentro da mais estrita legalidade, observância das regras de governança e interesse da companhia, de manutenção da sonda e dos recursos destinados à realização do poço mobilizados, por tempo adicional que possibilite o avanço das discussões com o IBAMA para o licenciamento desta importante atividade no âmbito da política de exploração e produção de petróleo e gás natural do país”.

Políticos buscaram mediação

O governador do Amapá, Clécio Luís (Solidariedade), afirmou nesta quinta (18/5) que a decisão do Ibama foi “absurda”, tomada enquanto busca-se um acordo político com a área ambiental para dar continuidade ao projeto (veja o vídeo). A intenção de Clécio e dos parlamentares era engajar o Planalto em uma mediação com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede).

Às 17h desta quinta (18/5), o MME afirmou receber “a decisão do Ibama com naturalidade e o devido respeito institucional”, em nota enviada à imprensa.

Informou ainda que já havia solicitado à Petrobras “aprofundamento dos estudos para sanar maiores dúvidas quanto à viabilidade da prospecção” na região costeira do Amapá. “de maneira ambientalmente segura”.

“O objetivo do MME é sempre buscar o equilíbrio entre desenvolvimento econômico – com geração de emprego e renda – e as necessárias questões ambientais, promovendo transformação e justiça social eficazes e permanentes e preservando o nosso meio ambiente”, diz a nota.

Rodrigo Agostinho (PSB) é o novo presidente do Ibama, escolhido por Marina Silva (Rede) para comandar órgão federal de licenciamento e fiscalização (Foto: Agência Câmara)
Rodrigo Agostinho (PSB) é o presidente do Ibama, escolhido por Marina Silva (Rede) para comandar órgão federal de licenciamento e fiscalização (Foto: Agência Câmara)

“Ibama não trabalha sob pressão”

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, afirmou à agência epbr, nesta quinta (18/5), que a negativa para o projeto da Petrobras no Amapá foi “decisão unânime da equipe técnica que trabalha com óleo e gás”.

O Ibama encerrou o atual licenciamento da campanha do FZA-M-59, em águas profundas da bacia da Foz do Amazonas, por entender que não há viabilidade ambiental.

“Licenciamento é análise técnica. Independentemente do que foi entregue aqui até o momento, tudo que foi entregue não demonstra viabilidade [do projeto]”, comentou o chefe do Ibama.

Sobre os pleitos dos parlamentares amapaenses, disse que “o Ibama não faz política energética. Não é o Ibama que vai decidir se vai continuar tendo petróleo ou se vai explorar petróleo no Brasil. Mas a gente vai continuar trabalhando tecnicamente. A gente não trabalha sob pressão política”, disse.

Deslocamento para projetos no Sudeste

Mais cedo, a Petrobras informou que, em razão das circunstâncias da negativa do Ibama, deslocaria a sonda e o aparato envolvido no projeto do bloco FZA-M-59 para atividades exploratórias na costa do Sudeste. A ideia é que essa realocação fosse realizada nos próximos dias.

A petroleira comunicou ainda que o foco de seus esforços de licenciamento ambiental seria direcionado para a perfuração na Bacia Potiguar, no Rio Grande do Norte – que também faz parte da chamada Margem Equatorial.

Segundo a companhia, ainda não houve uma notificação oficial por parte do Ibama sobre a negativa à licença para perfuração na Bacia da Foz do Amazonas. Reiterou que, uma vez comunicada, pedirá, em âmbito administrativo, a reconsideração da decisão.

“A companhia segue comprometida com o desenvolvimento da Margem Equatorial brasileira, reconhecendo a importância de novas fronteiras para assegurar a segurança energética do país e os recursos necessários para a transição energética justa e sustentável. Para suprir a demanda futura do Brasil por petróleo, o país terá de procurar novas fontes, além do pré-sal”, cita a Petrobras, em nota.

“Neste sentido, a Petrobras está empenhando esforços para obtenção da licença de perfuração na Bacia Potiguar, conforme planejamento previsto no seu Plano Estratégico 2023-27, assim como na execução dos projetos de exploração previstos no Brasil e no exterior”, acrescentou.

Petrobras diz que seguiu rigorosamente os processos

A empresa diz entender que cumpriu rigorosamente todos os requisitos do processo de licenciamento e destacou que todos os recursos mobilizados no Amapá e no Pará para a realização da Avaliação Pré-Operacional — simulado para testar os planos de resposta à emergência — “foram feitos estritamente em atendimento a decisões e aprovações do Ibama”.

A Petrobras também reforçou que o poço objeto do licenciamento está localizado a uma distância de 175 km da costa do Amapá e a mais de 500 km de distância da foz do rio Amazonas.

Alegou ainda que a perfuração foi um compromisso assumido perante a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e que incorrerá em multa contratual se não for realizada.

A epbr fez contato com a assessoria da Petrobras, mas não obteve imediatamente comentários adicionais além do comunicado enviado à imprensa. O espaço segue aberto.