BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viajará ao Rio de Janeiro, na próxima sexta (13/9), para a cerimônia de inauguração do gasoduto Rota 3 e da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Polo GasLub (antigo Comperj), ambos projetos da Petrobras em Itaboraí, na Região Metropolitana.
A expectativa, contudo, é que o gás do Rota 3 comece a chegar ao mercado, de fato, entre outubro e novembro.
Com a entrada em operação do projeto, a Petrobras espera uma redução imediata da reinjeção – ainda que não resolva, estruturalmente, a questão.
É uma pauta cara ao governo. Reduzir os volumes injetados nos reservatórios e aumentar a oferta da molécula é uma das bandeiras do programa Gás para Empregar e do novo decreto da Lei do Gás.
A expectativa da estatal é que, com a UPGN do Polo GasLub, parte do GNL importado – e mais caro que o gás nacional – seja substituída pelo gás do pré-sal, com reflexos esperados nas negociações de preços em curso com as distribuidoras.
Rota 3 conviveu com muitos atrasos
O projeto integrado do Rota 3 apareceu pela primeira vez nos planos de negócios da Petrobras no planejamento do ciclo 2014-2018, ainda no governo de Dilma Rousseff (PT), e tinha a previsão inicial de operação para 2017.
Era um dos grandes investimentos do ambicioso projeto de instalação do Comperj.
Foram necessários dez anos e quatro governos (de Dilma Rousseff/PT, Michel Temer/MDB, Jair Bolsonaro/PL a Lula 3/PT) para que o projeto, enfim, fosse concluído.
Entre idas e vindas, o Rota 3 passou por uma série de atrasos desde que, em 2015, na esteira da eclosão da Lava-Jato, as obras da UPGN foram paralisadas.
O projeto, rebatizado de GasLub, foi retomado em 2019 e logo depois voltou a enfrentar problemas quando, em março de 2020, a Prefeitura de Itaboraí solicitou a redução de 70% do efetivo de trabalhadores, em função da pandemia.
O lockdown nos portos da China também atrasou a entrega de equipamentos. Além disso, Petrobras e a empresa contratada para tocar a obra, SPE Kerui-Método, disputam na Justiça os valores de aditivos contratuais.
A saga do Comperj
A UPGN de Itaboraí é a primeira grande entrega da Petrobras no antigo Comperj. O projeto sairá do papel 16 anos depois que Lula, à época no segundo mandato (2006-2009), começou a executar as obras daquele que seria o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, mas que se tornou nos governos seguintes em algo bem diferente de tudo o que se planejou durante o período de bonança da estatal.
O Comperj era tido como uma das marcas da gestão desenvolvimentista da Petrobras nos anos 2000, mas se converteu num dos maiores símbolos de desperdício de recursos e corrupção da história da estatal.
Ainda no governo Dilma, entrou no olho do furacão das investigações da Operação Lava Jato. Os casos de corrupção nas obras do complexo foram, aliás, a base da primeira condenação de Sérgio Cabral – e da derrocada do ex-governador do Rio e dos governos do MDB no Rio.
O projeto petroquímico acabou desidratado pelos governos e gestões seguintes da Petrobras.
Antigo Comperj pode receber novos investimentos
A UPGN de Itaboraí terá capacidade para processar 21 milhões de m³/dia de gás do pré-sal e será importante para conter a escalada da reinjeção provocada pelo atraso na finalização das obras do projeto.
Isso porque alguns campos offshore conectados ao Rota 3 e que deveriam estar escoando o gás até a costa estão reinjetando pela indisponibilidade da infraestrutura.
O gás seguirá até a costa, no Polo GasLub, por meio de um gasoduto offshore de 307 km de extensão e 48 km de gasodutos terrestres – este último trecho passará pelos municípios de Maricá e Itaboraí, até chegar à UPGN.
A Petrobras tem, desde as gestões passadas, planos de outros projetos para o GasLub, como a construção de uma planta de lubrificantes avançados e combustíveis (diesel S-10 e QAV), a partir de interligações já existentes de algumas unidades do Polo com a Refinaria de Duque de Caxias (Reduc).
A estatal também planeja um projeto termelétrico a gás, com capacidade de 1.867 MW, mas cujo investimento ainda depende do sucesso num futuro leilão de térmicas.
Na gestão de Jean Paul Prates, a Petrobras anunciou também estudos para voltar a investir em petroquímica no local, bem como em projetos de biorrefino.