BRASÍLIA — A janela de oportunidades para investimentos em data centers é curta e está se fechando. Esse é o entendimento da Associação Brasileira de Data Center (ABDC), que defendeu, em audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (3/9), a aprovação da Política Nacional para Data Centers (Redata).
Para o vice-presidente da ABDC, Luis Tossi, decisões de investimentos por parte das empresas do setor estão sendo tomadas agora e, por isso, é importante o Brasil estar atendo à janela de oportunidade oferecida pelo mercado neste momento, sob pena de perder para outros países projetos que poderiam ser instalados em solo brasileiro.
“O mercado todo anseia por ele, justamente porque o Redata, no meu ponto de vista, não é um projeto de renúncia fiscal, ele é uma medida provisória que busca uma atração de investimento”, defende.
“O principal é colocar o Brasil em pé de igualdade com os nossos concorrentes, principalmente porque a política é focada na redução de impostos e na antecipação da reforma tributária”, completa Tossi.
De acordo com o executivo, o planejamento feito hoje mira os próximos cinco anos, e o tempo médio de implantação de um data center no Brasil fica entre 18 e 24 meses.
“É importante que nós tenhamos leis, tenhamos medidas provisórias de atração de investimento numa janela de tempo muito curta, porque essa janela está passando”, frisou.
Batizada de Redata, a política prometida pelo ministro da Fazenda, Fernand Haddad (PT), deveria ter sido lançada no primeiro semestre de 2025, mas foi adiada por causa da crise fiscal.
No Planalto, chegou-se a discutir uma versão sem benefícios fiscais, limitada a ajustes regulatórios para prestação de serviços digitais nas ZPEs.
No fim, acabou saindo uma Medida Provisória voltada aos data centers, mas sem eles, obrigando a contratação de energia renovável nova por empresas instaladas em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs).
Formatação do Redata
Na minuta do governo, o incentivo aos investimentos inclui a desoneração do imposto de importação para produtos sem similar nacional, além de PIS/Pasep, Cofins e IPI. Expectativa é atrair até R$ 2 trilhões em dez anos.
Serão estabelecidas contrapartidas, como a destinação de parte da capacidade de processamento para atendimento à demanda doméstica.
Pelo alto consumo de eletricidade, uma entrada mais massiva dos data centers no país é vista como uma maneira de aumentar a demanda por energia elétrica, que praticamente estagnou na última década. Já existem, inclusive, projetos negociando a compra de energia no mercado livre brasileiro.
Nos cálculos do vice-presidente da ABDC, um projeto de data center de 500 MW seria suficiente para cobrir toda a renúncia fiscal do programa, visto que todos os demais elos envolvidos na cadeia de construção dessas infraestruturas não seriam beneficiadas com as desonerações.
Para este elo da cadeia de suprimentos estão previstas linhas de financiamento, segundo a diretora do departamento de transformação digital e inovação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Cristiane Vianna Rauen.
Ela afirma que um segundo aspecto do Redata é a criação de linhas de fomento à produção nacional de equipamentos e serviços digitais e de infraestrutura de data centers.
“São linhas de fomento que também devem ser associadas a políticas de compras e margens de preferência para aquisição desses equipamentos e serviços associados a essa cadeia”.
MP 1307 e ZPEs
A MP 1307/2025, que passou a exigir o uso de energias renováveis para novas empresas que se instalarem em ZPEs é criticada por pela ABDC, que considera que o foco passa longe das necessidades dos grandes centros de dados.
“Diz respeito aos data centers porque eles estão lá, mas não leva em conta o fato de que cada tipo tem uma aplicação específica”, comentou Tossi.
Ponderação semelhante vale para o projeto de lei 1680/2025, do deputado Pedro Lucas Fernandes (UNIÃO/MA), que institui a Política Nacional para Processamento e Armazenamento Digitais e foi pauta da audiência desta quarta.
Para o executivo, “é muito perigoso colocar todos os data centers dentro de uma mesma caixinha”. Como exemplo, citou o consumo energético para aplicações de inteligência artificial, que supera em 70% o de outras atividades.
E lista carga tributária onerosa para ativos de tecnologia da informação (TI) e a morosidade nos processos de acesso à rede básica da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) entre os principais entraves ao setor.
Consumo de energia e água
Professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Jorge Arbache chamou a atenção para os efeitos inflacionários do grande consumo de energia dos data centers e citou exemplo da Virgínia, onde há a maior concentração dessas infraestruturas nos Estados Unidos, e que sofre com pressão inflacionária de energia elétrica e água por conta dos empreendimentos.
Ele também sustenta que a análise de uso da água é de extrema importância, sobretudo em zonas de estresse hídrico, como é o caso de muitas localidades no Nordeste brasileiro, que também responde por grande parte da energia renovável gerada.
“Muitas vezes se argumenta que será usada água de reuso, mas a água de reuso é o plano B para quando acabar a convencional. Se você compromete a água de reúso, vai ter que ir para o plano C, que é a água dessalinizada, que é muitas e muitas vezes mais cara”, explicou.
Data centers construídos no Brasil nos últimos dez anos utilizam a água em sistemas fechados de arrefecimento, em que a água não é consumida, apenas circula, de acordo com a ABDC.