Fafens: oposição e base do governo contra fechamento das fábricas da Petrobras

Fafens: oposição e base do governo contra fechamento das fábricas da Petrobras

Durante comissão geral no Plenário da Câmara nesta terça-feira (10), deputados do governo e da oposição criticaram a decisão da Petrobras de fechar duas unidades da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen): em Camaçari (BA) e em Laranjeiras (SE). 

A Petrobras anunciou no último dia 20 de março que hibernaria, até o final do primeiro semestre, as fábricas de fertilizantes nitrogenados da Bahia (Fafen-BA), localizada no polo petroquímico de Camaçari, e de Sergipe (Fafen-SE), na cidade de Laranjeiras. A iniciativa, segundo a empresa, faz parte do processo de saída integral da produção de fertilizantes, anunciado em setembro de 2016.

Ainda de acordo com a empresa, a decisão de encerrar as atividades produtivas das unidades se deve às perspectivas de perdas da Petrobras com estas operações. Em 2017, a Fafen-BA apresentou resultado negativo de cerca de R$ 200 milhões.  A Fafen-SE apresentou resultado negativo de cerca de R$ 600 milhões no último ano.

Um dos deputados que pediu a comissão geral, Caetano (PT-BA) lembrou que o presidente da Petrobras, Pedro Parente, anunciou em março o fechamento das Fafens, alegando que esse segmento de fertilizantes não seria mais de interesse da empresa, que focará na produção de óleo e gás.

“Nós sabemos que o mercado de fertilizantes do Brasil está em plena expansão e que em 2017 o agronegócio teve aumento de produção em mais de 13%, garantindo um certo equilíbrio na balança comercial do país”, disse. “Não seria mais justo ampliar a produção da Fafen para que o Brasil possa ocupar cada vez mais este mercado?”, questionou.

Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Comissão Geral sobre os impactos dos desinvestimentos da Petrobrás na indústria nacional e as consequências na economia da Bahia e de Sergipe
Deputados e especialistas debateram, durante comissão geral no Plenário, o fechamento de fábricas de fertilizantes pela Petrobras

Na visão do deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA), que também pediu a sessão, o tema é de interesse nacional. “Numa economia com 13 milhões de desempregados, qualquer política que estimule o desemprego já seria extremamente grave”, disse. Ele estima em torno de 5 mil desempregados diretos nessa atividade. “Há ainda impacto na arrecadação tributária de mais de R$ 1,5 bilhão por ano em estados pobres”, acrescentou. Os deputados defenderam que seja anulada esta decisão do presidente da Petrobras.

Suspensão
Também contrário ao fechamento das fábricas, o líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), afirmou que um grupo de trabalho integrado por deputados dos dois estados, por representantes dos governos estaduais e da Petrobras está debatendo soluções para o problema. Ele lembrou que o grupo conseguiu a suspensão do fechamento das fábricas por 120 dias, a partir do dia 30 de junho.

O deputado José Rocha (PR-BA) também criticou a decisão, que, de acordo com ele, causará não apenas desemprego como desorganização das atividades produtivas. Ele criticou o fato de a Petrobras não ter promovido diálogo com os segmentos afetados antes de tomar a decisão.

Impacto
Fernando Figueiredo, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), observou que a questão vai além. Segundo ele, a hibernação [parada da produção da atividade industrial] das Fafens coloca em risco a atividade de muitas empresas que hoje são clientes da Petrobras e que ficarão sem fornecimento local.

Diretor do Sindipetro Bahia, Radiovaldo Costa disse que o fechamento das Fafens deve provocar a importação de fertilizantes de locais como China e Rússia. Para ele, a defesa da Petrobras como empresa pública forte, que valorize o conteúdo nacional, é estratégica para o País.

Diretor Jurídico da Federação Única dos Petroleiros, Deyvid Bacelar salientou que a Vale, após privatizada, promoveu o maior desastre ambiental do País e que, com a privatização no setor de telecomunicações, as tarifas foram elevadas e a qualidade do serviço é ruim. Ele lembrou, ainda, que a quebra do monopólio estatal da Petrobras já ocorreu, em 1997, e disse que hoje o setor sofre nova pressão privatista, principalmente dos Estados Unidos.