Gás Natural

ANP: Forma como gas release será adotado ainda não está clara

Diretoria retira assunto da pauta desta quinta, mas membros do colegiado pedem prioridade ao tema

Cerimônia de posse de diretores da ANP (Foto: Divulgação ANP / Marcus Almeida)
Cerimônia de posse de diretores da ANP (Foto: Divulgação ANP / Marcus Almeida)

RIO — A forma como a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) executará um eventual Programa de Redução de Concentração da oferta de gás natural ainda não está clara e é o principal desafio a ser enfrentado na discussão sobre o gas release, na avaliação de membros da diretoria do órgão regulador.

A pedido do diretor relator Cláudio Jorge, a diretoria da agência retirou o assunto da pauta da reunião de colegiado desta quinta-feira (27/4).

A ANP havia pautado a votação sobre a publicidade dos estudos desenvolvidos pela equipe técnica do regulador sobre o diagnóstico concorrencial da indústria do gás no Brasil. É um primeiro passo para a formulação de uma eventual proposta de programa de gas release e inclusão do tema na agenda regulatória da agência.

Cláudio Jorge pediu mais tempo para “harmonização interna” do assunto, mas pediu uma sala de situação para acelerar a discussão do tema na agência.

“A pressa pode nos levar a certos equívocos na frente. E não temos tempo para errar. E nem podemos”, justificou o diretor.

Diretores pedem prioridade para gas release

Os colegas de diretoria defenderam que o assunto seja tratado com prioridade na agência.

O diretor Daniel Maia afirmou que ainda há uma longa agenda a ser cumprida após diagnóstico da concentração a ser apresentado pela ANP.

“Talvez a mais difícil de todas é sobre quais os mecanismos, de fato, que vamos usar para implementar um programa [de desconcentração] como esse”, disse, durante a reunião do colegiado.

Ele destacou que, apesar dos avanços da abertura do setor, nos últimos anos, o diagnóstico feito pela ANP – e estudos de terceiros – ainda indicam um mercado bastante concentrado.

Para Fernando Moura, responsável pela área de gás até março, o aprofundamento dos estudos é positivo, dada a complexidade do assunto.

Segundo ele, a ANP ainda precisa “exercitar o como seria a aplicação dessa ferramenta tão poderosa e efetiva para abertura do mercado”.

Symone Araujo, por sua vez, destacou que a agência precisará conciliar a “necessária atenção” para temas complexos como o gas release com o senso de urgência do assunto.

“Existe uma grande expectativa e um olhar muito dedicado do mercado ao papel central da agência na reforma do mercado de gás”, comentou.

Mercado cobra posição

Associações ligadas às indústrias, produtores independentes, comercializadores e distribuidoras cobram uma redução da fatia de mercado da Petrobras, enquanto aguardam a posição da ANP.

O mercado aguarda, desde o ano passado, uma posição da ANP sobre o assunto, depois que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) recomendou que a agência liderasse um diagnóstico sobre as condições concorrenciais e apresentasse uma proposta de desconcentração.

A indústria tem se articulado para cobrar a continuidade da agenda pró-abertura, diante dos sinais trocados no novo governo.

Em março, o diretor de Infraestrutura e Melhoria do Ambiente de Negócios no MDIC, Alexandre Messa, classificou o gas release como fundamental no processo de abertura do mercado.

Um estudo da consultoria internacional Brattle Group, encomendado por um grupo de 14 entidades e liderado pela Abrace (grandes consumidores), recomenda que o Brasil adote um programa de gas release para que a Petrobras passe a responder por, no máximo, 25% das vendas — mas sem a fixação de limites legais.

Trata-se de uma mudança radical num setor onde o agente dominante ainda detém 81% das vendas, segundo a ANP.

O estudo da Brattle mostra como a abertura do mercado na Europa deixa lições importantes para o Brasil.

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