Foz do Amazonas

Da rejeição à aprovação: a íntegra dos atos do Ibama sobre plano da Petrobras

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, aprovou em maio o Plano de Proteção e Atendimento à Fauna Oleada (PPAF) da Petrobras para o poço exploratório FZA-M-59 na Foz do Amazonas, invertendo parecer de 29 analistas.

Rodrigo Agostinho, à tribuna da Câmara, discursa durante sessão solene em homenagem aos 35 anos do Ibama, em 20 de fevereiro de 2024 (Foto Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)
Rodrigo Agostinho, à tribuna da Câmara, discursa durante homenagem aos 35 anos do Ibama, em 20 de fevereiro de 2024 (Foto Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

Para chegar à aprovação do conceito do Plano de Proteção e Atendimento à Fauna Oleada (PPAF) da Petrobras na Foz do Amazonas, no licenciamento para a perfuração do primeiro poço no bloco FZA-M-59, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, precisou contemporizar um parecer assinado por 29 analistas ambientais do órgão.

Ele adotou a alternativa apresentada pela Diretoria de Licenciamento Ambiental, e entendeu que, a melhor forma de verificar se o plano da Petrobras é exequível é colocando-o à prova. A mudança de posicionamento foi adiantada pela Sumaúma, e confirmada pela agência eixos.

  • Entenda as etapas do processo de licenciamento: O Plano de Proteção e Atendimento à Fauna Oleada integra o Plano de Emergência Individual. A aprovação do Plano de Emergência Individual depende da realização de uma Avaliação Pré-Operacional (APO). Após realização da APO, o Ibama ainda deverá estabelecer condicionantes para enfim emitir a licença de perfuração.

No fim de fevereiro, o parecer da Coordenação de Licenciamento Ambiental de Exploração de Petróleo e Gás Offshore (Coexp) concluiu que a nova versão do PPAF apresentada pela Petrobras não solucionou problemas indicados anteriormente pelo órgão. A área recomendou a manutenção do indeferimento da licença ambiental e o arquivamento do caso.

No documento, a Coexp ainda criticou o posicionamento da Advocacia Geral da União (AGU), que em agosto de 2024 afirmou que o Ibama não possui atribuição legal para reavaliar o licenciamento ambiental do Aeroporto Municipal de Oiapoque (AP).

“A decisão jurídica não tem o poder de eliminar na realidade os impactos sobre as comunidades indígenas, caso o empreendimento venha a ocorrer. A decisão apenas impede a oportunidade de serem estabelecidas, em processo dialógico entre Ibama, Funai, empresa e partes interessadas, medidas que possibilitem mitigar ou até mesmo evitar tais impactos”.

O parecer avançou para instâncias superiores, e no dia 19 de maio, o coordenador-geral de Licenciamento Ambiental de Empreendimentos Marinhos e Costeiros (CGMac), Itagyba Alvarenga Neto; e o diretor-substituto de Licenciamento Ambiental (Dilic), Liceros Alves dos Reis, apresentaram “alternativas de encaminhamentos”.

Os servidores afirmam que, uma vez que o principal entrave identificado pelos analistas ambientais são as dúvidas sobre a exequibilidade do PPAF apresentado pela Petrobras diante das características ambientais e logísticas da Bacia da Foz do Amazonas, a alternativa é colocar à prova o plano por meio de um exercício simulado. Ou seja, a avaliação pré-operacional (APO).

“Na APO, seria possível observar como toda a estrutura de resposta se comportaria frente aos desafios ambientais e logísticos da região e possibilitar uma tomada de decisão mais consistente por este instituto”, defenderam. A alternativa sugerida, portanto, foi a aprovação do PPAF com indicação de execução da APO.

Quinze minutos depois, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, acompanhou a sugestão apresentada e aprovou o PPAF, dando sinal verde para a avaliação pré-operacional.

“Ainda que entendendo como absolutamente legítimas as preocupações do corpo de analistas (…), entendo que a proposição de realização da Avaliação Pré-Operacional – APO é instrumento adequado para avaliação da exequibilidade do Plano de Emergência Individual proposto”, afirmou Agostinho.

Veja a íntegra dos atos do Ibama para os planos da Petrobras na Foz do Amazonas

  • Maio de 2023: Presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, acata parecer da área técnica rejeita o pedido de licenciamento para perfuração do bloco FZA-M-59 (.pdf)
  • Maio de 2023: Petrobras recorre contra negativa (.pdf)
  • Agosto de 2024: AGU arquiva o procedimento conciliatório alegando “ausência de voluntariedade” do Ibama.
  • Fevereiro de 2025: 29 analistas ambientais recomendam a manutenção do indeferimento da licença ambiental e o arquivamento do caso (.pdf)
  • Maio de 2025: Coordenação de Licenciamento Ambiental de Empreendimentos Marinhos e Costeiros e Diretoria de Licenciamento Ambiental sugerem alternativas de encaminhamento (.pdf)
  • Maio de 2025: Despacho do presidente do Ibama acompanha a sugestão apresentada a aprova PPAF (.pdf)

Nesta terça-feira (27/5), Rodrigo Agostinho disse à agência eixos que “nenhum técnico do Ibama vai assinar uma licença sem garantia de segurança e minimização dos riscos”. Ele confirmou que equipes da Petrobras e do órgão ambiental estão reunidas nesta semana para definir a data da APO.

No despacho em que aprova o PPAF, o presidente do Ibama lembra que o próximo leilão da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no dia 17 de junho, prevê a possibilidade de arremate de outros blocos na região da Foz do Amazonas, e alertou para a dificuldade de concessão fragmentada e sucessiva de licenças de exploração, sem a devida Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS).

“Tal instrumento, entretanto, ainda não foi implementado em nenhuma área marinha, evidenciando um grave vácuo do setor de óleo e gás quanto à governança e ao planejamento de impactos ambientais”.

Nesta semana, o Ministério Público Federal (MPF) recomendou a exclusão dos 47 blocos na bacia da Foz do Amazonas do leilão de concessão previsto para junho.

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