Diálogos da Transição

Política e infraestrutura: os desafios dos ônibus elétricos no Brasil

Cidades brasileiras olham para substituição de frota como estratégia climática; velocidade da transição, no entanto, depende de uma política nacional

Mercedes-Benz aposta no mercado de ônibus urbanos para eletrificação no Brasil. Na imagem: Mercedes-Benz lança no Brasil primeiro chassi de ônibus elétrico, com autonomia de até 250 km, totalmente desenvolvido e fabricado no país (Foto: Divulgação)
Mercedes-Benz lança no Brasil primeiro chassi de ônibus elétrico, com autonomia de até 250 km, totalmente desenvolvido e fabricado no país (Foto: Divulgação)

newsletter

Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Logo S&P

Editada por Nayara Machado
[email protected]

A Mercedes-Benz lançou este ano o primeiro chassi de ônibus elétrico totalmente desenvolvido e fabricado no Brasil. A aposta da montadora alemã é que a eletrificação por aqui ocorrerá por nichos, impulsionada pelo transporte coletivo nas cidades.

Com autonomia de até 250 quilômetros, os novos veículos foram produzidos sob encomenda para a cidade de São Paulo (SP), que a partir de 2024 terá uma frota de 2,6 mil ônibus elétricos no transporte público.

objetivo é cortar emissões. Atualmente, cerca de um terço das emissões de gases de efeito estufa (GEE) oriundas de transportes movidos a diesel, nas cidades, tem os ônibus municipais como uma das principais fontes.

Outras cidades brasileiras também estão olhando para a alternativa em suas estratégias climáticas. A velocidade dessa transição, no entanto, depende de uma política nacional.

Em entrevista à agência epbr, o gerente de desenvolvimento de negócios para e-Mobility na Mercedes-Benz Caminhões e Ônibus, Mike Munhato, conta que a substituição da frota vem acompanhada de melhorias na qualidade da prestação do serviço público e do ar, mas ainda não é possível afirmar que é uma mobilidade mais barata.

“É preciso um empenho das prefeituras e outros agentes para viabilizar o financiamento desse negócio”.

Entre as demandas do setor para que a eletrificação ganhe escala e se torne realidade está a definição de metas mais claras pelo governo em termos de infraestrutura e para todo o território nacional.

“A tecnologia do veículo é uma responsabilidade nossa e vai acontecer, só que depende muito de infraestrutura para ganhar escala”, defende Munhato.

“Não adianta cada cidade pensar no seu. Seria interessante que o governo federal tratasse o assunto com mais clareza e colocasse metas para isso acontecer”. Leia a entrevista completa

À espera do Combustível do Futuro

Nesta quarta (14/6), durante um evento da Anfavea (associação das montadoras) sobre eletromobilidade, o ministro Alexandre Silveira (MME) disse que a minuta do projeto de lei do Combustível do Futuro deve ser encaminhada ao Congresso Nacional na próxima semana.

Segundo o ministro, o PL está em fase final de aprimoramento pela Casa Civil e será “o maior programa de descarbonização do mundo”. Um dos objetos é a integração de diferentes políticas públicas como o RenovaBio e o Rota 2030, que remuneram a eficiência energética e ambiental.

Coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), o programa pretende incentivar a mobilidade de baixo carbono, explorando alternativas que vão de biocombustíveis à eletrificação.

“A mobilidade elétrica, sem dúvida, é e será uma das principais frentes para descarbonizar os transportes. Dominamos a tecnologia, mas precisamos garantir escala, aumentando a competitividade e tornando essa realidade acessível às brasileiras e brasileiros”, afirmou Silveira no evento.

Vale do Lítio

Silveira também disse que o governo está criando mecanismos para estimular as empresas nacionais e o capital internacional a investirem na exploração de minerais críticos no Brasil, para desenvolver uma cadeia produtiva de baterias para a eletrificação.

O lançamento mundial da iniciativa Lithium Valley Brazil, na bolsa de valores de Nova York, Nasdaq, no início de maio, marcou a entrada do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, no mapa global na cadeia de lítio.

Substituição de frota

O governo Lula (PT) começa a dar alguns passos em direção a um transporte com menor taxa de emissão.

No início de junho, anunciou R$ 1 bilhão para retirar caminhões e ônibus poluentes de circulação. A medida será financiada com a elevação de 11 centavos no imposto do diesel para acelerar a venda de motores Euro 6 – também a diesel, só que mais eficientes.

Medida “positiva, mas insuficiente”, classifica a NTU (entidade que representa as empresas operadoras de ônibus urbano).

Segundo o grupo, a destinação de R$ 300 milhões para a renovação da frota de ônibus reconhece a necessidade de reduzir a idade média dos veículos em circulação, mas os critérios adotados pelo programa precisam ser ajustados à realidade do setor.

“A adoção da idade acima de 20 anos para a troca dos ônibus com desconto não se aplica, na prática, às empresas operadoras brasileiras, cuja frota tem, em média, oito anos, chegando ao máximo de 13 anos em algumas cidades pesquisadas”, explica em nota.

A NTU estima que, para a redução da média de idade da frota para cinco anos, seria necessário substituir 31,2 mil ônibus em todo o país, a um custo de R$ 23,3 bilhões – considerando motores a diesel.

Cobrimos por aqui:

Curtas

PPA verde

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que o governo prepara apoio orçamentário às iniciativas de economia verde e citou novidades na elaboração do PPA, o Plano Plurianual que vai orientar os investimentos federais de 2024 a 2027.

Durante lançamento, na Câmara dos Deputados, da Frente Parlamentar para o Fortalecimento da COP30 no Brasil, Tebet disse que está elaborando um PPA com marcadores verdes e programa específico de mudanças climáticas.

Incentivos para hidrogênio

O governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), defendeu ontem (13/6) que a reforma tributária inclua incentivos fiscais ao hidrogênio verde, nos moldes dos que existem para eólica e solar fotovoltaica.

Elmano disse que apresentará uma proposta ao governo federal, elaborada “a partir de escuta com os investidores” que estão firmando memorandos com o hub de hidrogênio do Pecém.

Já o secretário de economia verde do MDIC, Rodrigo Rollemberg (PSB), afirma que as indústrias interessadas em investir na matriz energética brasileira demandam regulamentação, não subsídios.

Na primeira reunião da Comissão Especial da Transição Energética e Produção do Hidrogênio Verde, Rollemberg cobrou “olhar especial” para o projeto de lei 576/2021, que regulamenta o marco das eólicas offshore.

Acordo para o lítio

Argentina e União Europeia assinaram um memorando de entendimento (MoU) para aumentar a cooperação em matérias-primas críticas à transição energética. Assinatura ocorreu durante a visita da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao país latino.

O acordo foi concebido para impulsionar a cooperação em infraestrutura favorável ao clima, bem como novas pesquisas sobre matérias-primas, incluindo o lítio. Reuters

Mercosul-UE

Por 281 votos versus 58, a Assembleia Nacional da França aprovou na terça (13) uma resolução contrária ao acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. O texto não tem poder de lei, mas pode frustrar as pretensões dos negociadores de fechar o pacto até o final do ano.

Os franceses pressionam para condicionar qualquer acordo futuro entre os blocos ao cumprimento do Acordo de Paris e das normas sanitárias e ambientais da UE para todos os produtos agroalimentares importados, relata Jamil Chade, do UOL