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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 21/02/22
Editada por Nayara Machado
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Lançado no início de fevereiro, o Guia de Eletromobilidade identifica três tipos de desafios para eletrificar as frotas de ônibus no Brasil — tecnológicos, financeiros e institucionais — e traz exemplos de novos negócios desenvolvidos pelas cidades para abandonar, ou pelo menos reduzir, a dependência de diesel no transporte público.
O guia foi elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o WRI Brasil, e traz um passo a passo para as cidades estruturarem projetos para ônibus elétricos. Veja na íntegra (.pdf)
“Os modelos de negócio são um dos grandes desafios e oportunidades da eletrificação”, diz o WRI.
Segundo os pesquisadores, cidades que conseguiram acomodar o alto custo inicial dos veículos elétricos e suas especificidades operacionais adotaram estratégias similares.
Bogotá, na Colômbia, e Santiago, no Chile, por exemplo, fizeram contratos e processos licitatórios diferentes para os serviços de provisão e operação da frota (os chamados CapEx e OpEx), o que permitiu reduzir os prazos de concessão.
As duas cidades, que lideram a eletrificação na América Latina, também envolveram novos atores, como as empresas de energia, tanto no processo de planejamento quanto no próprio financiamento da transição.
No Brasil, São José dos Campos (SP) assumiu o investimento de frota para a Linha Verde, primeiro corredor 100% elétrico do país. Doze veículos a bateria serão adquiridos com recursos da outorga de um estacionamento rotativo.
O corredor está em operação piloto, sem cobrança de tarifa. E a cidade estuda incluir a obrigatoriedade de mais veículos elétricos na próxima licitação.
Salvador (BA) está prestes a inaugurar os primeiros trechos de seu sistema BRT, que já nasce 30% elétrico — ao menos oito veículos elétricos a bateria estão previstos para entrar em operação até o segundo semestre.
A proposta é manter o percentual de elétricos à medida que novos trechos forem inaugurados.
Em evento de lançamento do Guia, o secretário de Mobilidade, Fabrizzio Muller, disse que a principal dificuldade é contratual, já que a atual concessão iniciou em 2015, quando “não se pensava tanto em eletromobilidade”.
Curitiba (PR) estuda a eletrificação dos corredores Inter 2 e BRT Leste-Oeste, com previsão de aproximadamente 150 veículos elétricos a bateria operando em 2024.
A cidade realizou, com o WRI Brasil, um levantamento sobre os modelos de veículos disponíveis no mercado.
Indisponibilidade de veículos biarticulados para o corredor BRT e planejamento de linhas em que um mesmo veículo opera mais de 400 km por dia estão entre as dificuldades para tirar o projeto do papel.
Já o Rio de Janeiro (RJ) separou a operação da provisão de frota no novo edital do BRT para viabilizar a aquisição de 550 veículos, sendo 65 elétricos, a serem entregues em 2022 e 2023.
A intenção inicial da cidade de alugar a nova frota esbarrou em um marco legal que não aceita licitação para locação como um serviço público — a saída foi comprar os veículos, a um custo de cerca de R$ 1 bilhão.
Como fazer
O guia indica oportunidades de repensar a mobilidade da cidade, tanto na qualificação e integração do sistema de transporte, quanto no desenho das licitações.
“A otimização do sistema e a renovação de terminais, de estações e de pontos de ônibus, por exemplo, podem vir na esteira da adoção dos ônibus elétricos, tornando tais infraestruturas mais acessíveis, seguras e integradas à paisagem urbana”.
Essas mudanças, associadas ao aumento do conforto nos veículos elétricos, podem mudar a percepção dos passageiros e tornar o modal mais atrativo para pessoas que hoje não o usam.
Outro destaque é a estruturação de modelos de negócio.
“Modelos de negócio que agreguem atores com capacidade de investimento (como as companhias de energia) e que possam contribuir para a divisão dos riscos — intrínsecos a toda tecnologia nova — podem tornar os projetos de eletromobilidade mais atrativos”.
Isso evitaria, por exemplo, que eventuais custos adicionais de investimento sejam revertidos em aumento da tarifa.
E pode prever formas de aquisição diferentes, como separação dos contratos de operação, de provisão de veículos e de infraestrutura.
“Para incentivar a eletromobilidade, podem-se estabelecer prazos de provisão ou posse dos veículos de 15 anos para ônibus elétricos e de até 10 anos para outras tecnologias veiculares, por exemplo, uma vez que veículos elétricos têm uma estimativa de vida útil maior do que a de veículos com motores de combustão”.
Além disso, prazos de operação mais curtos poderiam facilitar atualizações tecnológicas e atrair maior competitividade.
“Com licitações mais frequentes, novos entrantes tendem a buscar a redução de custos e a oferta de um serviço de mais qualidade”.
Panorama
No mundo, acordos climáticos, avanço do preço dos derivados do petróleo e preocupações com a qualidade do ar estão impulsionando o interesse de cidades pela tecnologia elétrica. Poder limitado coloca transporte no centro das políticas climáticas das cidades.
De acordo com o guia, cerca de 500 mil ônibus elétricos estão em circulação no mundo, a maioria deles na China. Shenzhen, cidade do sudeste chinês, tem 100% de sua frota eletrificada, totalizando mais de 16 mil veículos.
Na Europa, Londres pretende ter um sistema de transporte com zero emissões, enquanto Paris fixou para 2025 o objetivo de transformar sua frota de ônibus em elétricos ou movidos a biogás.
A cidade de Santiago (Chile) abriga a maior frota de ônibus urbanos elétricos fora da China. Até o final de 2020, a capital chilena terá uma frota de mais de 770 veículos elétricos.
Bogotá (Colômbia) é outra capital sul-americana que está investindo na eletromobilidade: até o final de 2020, 483 ônibus elétricos entrarão em operação na cidade.
Aqui, há mais de 250 ônibus elétricos em operação, sendo 40 deles a bateria. A iniciativa de maior destaque é a da cidade de São Paulo, que atualmente tem o maior número de ônibus elétricos do país e colocou em lei um compromisso de renovar sua frota de ônibus com tecnologias de baixa emissão.
Em Campinas, a nova concessão do transporte coletivo prevê que uma área da cidade seja operada exclusivamente por ônibus elétricos.
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