BRASÍLIA — O Instituto Brasileiro do Petróleo e do Gás (IBP) pediu diálogo entre lideranças brasileiras e estadunidenses para encontrar uma solução diplomática para a as tarifas de 50% impostas pelo presidente Donald Trump a todos os produtos brasileiros.
O IBP lembra que o petróleo bruto é, atualmente, o principal produto exportado para o mercado dos EUA.
O objetivo pela via negocial, segundo o IBP — que representa a indústria de petróleo e gás no país — é preservar a estabilidade institucional e o fluxo comercial entre as duas economias.
O IBP afirma que a medida traz incertezas para o setor de petróleo e gás, que responde hoje por 17% do PIB industrial brasileiro e 1,6 milhão de empregos diretos e indiretos no país.
Em 2024, o petróleo foi o principal produto da pauta de exportações no Brasil, superando a soja e contribuindo com US$ 44,8 bilhões.
O Brasil ocupa a 8ª posição entre os maiores produtores de óleo bruto do mundo. De 2021 a 2023, as exportações líquidas de petróleo atingiram US$ 92,7 bilhões em receitas para o país.
“Por isso, avaliamos com cautela os reais impactos sobre investimentos e competitividade da nossa indústria, que conta com mais de 40 mil empresas atuando diretamente no Brasil”, disse o IBP, por meio de nota.
“Não há fato econômico que justifique”
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, divulgou nota nesta quinta (10/7) afirmando que “não existe qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho, elevando as tarifas sobre o Brasil do piso ao teto”.
Resultados preliminares de consulta realizada pela CNI indicaram que um terço das empresas respondentes que exportam bens e/ou serviços aos EUA tiveram impactos negativos nos seus negócios.
O levantamento foi realizado nos meses de junho e julho, ainda no contexto da tarifa básica de 10%, anunciada por Trump em abril.
A entidade pede prioridade na intensificação das negociações com o governo Trump, a fim de preservar a relação comercial. Os EUA são o 3° principal parceiro comercial do Brasil e o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira.
A CNI estima que o aumento da tarifa para 50% terá impacto significativo na competitividade de cerca de 10 mil empresas que exportam para os Estados Unidos.
“Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano. Uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia. Por isso, para o setor produtivo, o mais importante agora é intensificar as negociações e o diálogo para reverter essa decisão”, avalia Alban.
A CNI também rebate os números da balança comercial apresentados pela Casa Branca. Segundo a entidade da indústria, o país norte-americano mantém superávit com o Brasil há mais de 15 anos.
Somente na última década, o superávit norte-americano foi de US$ 91,6 bilhões no comércio de bens. Incluindo o comércio de serviços, o superávit americano atinge US$ 256,9 bilhões.
Reação às tarifas
O presidente Lula (PT) afirmou nesta quarta (9/7) que “qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de reciprocidade econômica”.
A taxação de 50% sobre os produtos importados do Brasil começará a valer em 1º de agosto. Trump também ameaçou intensificar a pressão tarifária caso o Brasil reaja reciprocamente.
A lei de reciprocidade sancionada em abril, também em resposta às tarifas dos EUA sobre aço e o alumínio brasileiros, estabelece critérios para a suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade, em caso de medidas unilaterais que impactem negativamente a competitividade internacional brasileira.