Leilões da PPSA

Óleo da União no pré-sal atrai cada vez mais empresas, com protagonismo da China

A estatal passou a comercializar o petróleo da União a partir da cotação do Brent em fevereiro deste ano; até então, era usado o preço de referência da ANP

Presidente interina da PPSA, Tabita Loureiro,  em participação na Offshore Week 2024
Presidente interina da PPSA, Tabita Loureiro, em participação na Offshore Week 2024 | Victor Curi

BRASÍLIA – O mais recente leilão de petróleo da União ficou marcado pela primeira grande diversificação de compradores, com quase dois terços do óleo vendido para empresas chinesas. Maiores volumes e a mudanças na precificação dos barris vendidos atraíram mais concorrência nos leilões promovidos pela Pré-Sal Petróleo S.A (PPSA).

No leilão realizado em 31 de julho na B3, lotes que somam 23 milhões de barris – dos 37,5 milhões à venda – foram arrematados pelas estatais chinesas Petrochina e CNOOC.

A diversificação vinha ocorrendo nas vendas spot realizadas a partir de 2022, de lotes menores, em geral com 500 mil barris. Sete empresas, incluindo PetroChina, CNOOC e Acelen (refinaria de Mataripe) compraram 10,5 milhões de barris nesses anos, com 80% do volume comercializado em 2024.

A presidente interina da estatal, Tabita Loureiro, atribui o aumento do interesse nos leilões por petroleiras estrangeiras, sobretudo chinesas, à recente troca do preço de referência pelo Brent e o considerável aumento nos volumes das cargas comercializadas.

“Tem uma série de questões [para o aumento do número de participantes]. A primeira delas é o volume. Quanto mais volume você joga no mercado, mais interesse as empresas têm”, explica Loureiro.

“A segunda é a confiança na realização dessa venda. A PPSA durante esse tempo comprovou que, de fato, consegue comercializar e entregar esse óleo. E o terceiro ponto é que a gente melhorou muito as condições contratuais”.

Segundo a presidente da PPSA, a venda a preço de referência representava risco às petroleiras estrangeiras, por falta de um padrão internacional de preço.

“As empresas não saberiam comprar a preço de referência. Então, foi uma série de fatores em conjunto que levaram a uma entrada de novos competidores”, avaliou.

Desde a estreia do regime de partilha, estatais chinesas estão presentes no pré-sal. No primeiro leilão de 2013, o consórcio foi formado pela Petrobras (40%), Shell (20%), TotalEnergies (20%) e as estatais chinesas CNPC (10%) e CNOOC (10%) – único a fazer uma oferta por Libra, hoje o campo de Mero.

O leilão de 31 de julho registrou o maior número de participantes, com 10 empresas habilitadas. Os resultados superaram as expectativas de volume financeiro, que estavam em R$ 15 bilhões e foi atualizado para R$ 17 bi em arrecadação futura, com o maior valor dado ao óleo da União na história.

O primeiro leilão da PPSA, realizado em maio de 2018, não teve vencedor por falta de interesse das empresas. Em agosto daquele mesmo ano, Petrobras e TotalEnergies compraram as cargas. No terceiro leilão, de novembro de 2021, a Petrobras adquiriu todo o volume de 55 milhões de barris.

2º leilão (2018)
LoteBarrisVencedoraPrecificação
Mero10,6 milhõesPetrobrasPreço de referência (PR)
Lula1,1 milhãoTotal E&PPR
Sapinhoá0,6 milhãoPetrobrasPR
3º leilão (2021)
Búzios6,6 milhõesPetrobrasPR + R$ 65
Sapinhoá2,4 milhõesPetrobrasPR + R$ 7,35
Tupi3,3 milhõesPetrobrasPR + R$ 3,35
Mero43,4 milhõesPetrobrasPR + R$ 52
4º leilão (2024)
Lote 112 milhões de barrisPetrobrasBrent – US$ 1,85/barril
Lote 212 milhões de barrisCNOOC Petroleum BrasilBrent – US$ 1,59/barril
Lote 211 milhões de barrisPetroChina International (Brazil)Brent – US$ 1,35/barril
Lote 42,5 milhões de barrisPetrobrasBrent – US$ 1,85/barril

Gás no planejamento para 2025

Este ano, como parte dos desdobramentos do Gás para Empregar, Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) liberou a PPSA para contratar serviços de escoamento e processamento de gás natural e, assim, a estatal do pré-sal conseguirá ampliar o mercado que terá acesso aos energético associado às parcelas de óleo da União.

Os campos com parcelas de gás natural da União estão conectados aos gasodutos e UPGNs controlados pela Petrobras, com a quem a estatal do pré-sal precisa assinar contratos de acesso dessa infraestrutura.

“O custo da infraestrutura, no Brasil, é caríssimo”, afirmou Tabita Loureiro, durante participação em um evento do Ministério de Minas e Energia (MME). “Estamos analisando os contratos de adesão ao SIE e o SIP – são treze contratos –, entendendo qual é esse custo e a gente vai precisar da ANP”.

O SIE (escoamento) e SIP (processamento) são os sistemas integrados, que englobam as Rotas 1, 2 e 3, ramais e unidades de processamento, necessários para escoar o gás natural das bacias de Santos e Campos para o Rio de Janeiro e São Paulo.

Com a edição do decreto do Gás para Empregar, a governo federal deu novas diretrizes para a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) regular as condições de acesso a essas infraestruturas. Espera, com isso, reduzir os custos e facilitar a contratação dos serviços.

Os custos da PPSA com a contratação dos serviços serão tratados como gastos diretamente relacionados com a comercialização do gás natural da União, considerando os impactos no Fundo Social do Pré-sal.

Em valores de nominais, a produção da União no pré-sal rendeu quase R$ 20 bilhões em oito ano. Pouco, perto dos R$ 466 bilhões estimados até 2033, em razão do aumento da produção.

Óleo para refino em estudo

Outra resolução aprovada pelo CNPE também autorizou a PPSA a realizar estudos sobre a viabilidade técnica e econômica para a execução de leilão de contrato de longo prazo para refino de petróleo da União, com o apoio técnico da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e sob a coordenação do MME.

O objetivo é avaliar a oferta de óleo para unidades em território nacional e ampliar, assim, a cadeia de refino e petroquímica. A PPSA vai apresentar os estudos ao governo, a quem caberá decidir os próximos passos.

Pela lei, a PPSA deve maximizar o retorno financeiro da União. Subsídios na oferta de óleo ou gás natural para o mercado domésticos demandariam uma discussão no Congresso Nacional.

Volatilidade do preço

O resultado da PPSA depende diretamente da cotação do barril e também é influenciado por fatores geopolíticos, gestão de preços por parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+) e a força da atividade econômica em mercados globais, o que influencia diretamente a demanda.

Segundo a mais recente atualização de mercado da Rystad Energy, a política protecionista do segundo mandato de Donald Trump, o enfraquecimento da demanda na China e estratégia de cortes da produção pela OPEP+, associada às tensões no Oriente Médio e leste europeu, podem influenciar significativamente as perspectivas para 2025.

Este cenário, pode adicionar volatilidade e pressão de baixa para o petróleo, conforme a análise da Rystad.

Sob a ótica de um viés de alta para o médio e longo prazo, o caderno de Preços Internacionais dos estudos do Plano Decenal de Expansão da Energia 2034 (PDE 2034) avalia a criticidade do estrangulamento para a movimentação marítima de petróleo. Qualquer bloqueio, ainda que temporário, acarretaria elevação nos custos de transporte e consequente alta nos preços do produto.

Por outro lado, a avaliação dos preços futuros do petróleo considera haver incertezas sobre a retomada da demanda na China. O cenário referencial da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) projeta que os preços de petróleo apresentarão uma trajetória de relativa estabilidade no curto prazo, devido ao equilíbrio entre a oferta e a demanda mundial de petróleo e entre os fatores de pressão de alta e baixa. 

A China é o maior importador global de petróleo e, em 2023, respondeu por 27% das compras internacionais. No ponto de vista das exportações, o Oriente Médio dominou, com 41% do total.